As Crônicas de Nara - parte I
As protanogistas desse abraço somos a Ana e eu. Quem é a Ana? Ela é uma amiga daquelas que se guarda no coração, por toda uma vida. A Ana é a minha homenageada na primeira crônica que escrevi para o meu futuro lançamento literário.
Que todos tenhamos muitas Anas em nossas vidas!
AS SOPAS DA ANA
Por: Nara Maria Müller
“Amigo é coisa prá se guardar
do lado esquerdo do peito.” Essa frase inesquecível faz parte da música
cantada, tão lindamente, pelo nosso querido Milton Nascimento. E eu acredito
que todos nós temos ou já tivemos um amigo do tipo que se guarda no lado esquerdo
do peito, dentro do coração. Você concorda comigo? Pois bem, neste texto eu
quero relembrar e homenagear uma amiga lá de Taquara, que guardo, com muito
amor, dentro do meu coração.
Lá pelos anos 2000 eu comprei
meu primeiro apartamento, em Taquara. Eu já tinha cometido alguns erros,
passado por várias dificuldades e continuava contando moedas e anotando minhas
contas numa velha agenda, para honrar as dívidas e para comprar o pão de cada
dia.
Naqueles dias eu tinha
conseguido uma nova oportunidade de carreira na FACCAT – Faculdades de Taquara,
onde eu trabalhava e cursava o Mestrado.
O salário aumentara
consideravelmente, mas eu tinha que pagar dívidas contraídas nos dois anos
anteriores, logo depois do divórcio. E, para poder assumir o novo cargo eu tive
que comprar um carro, ou seja, mais dívidas, mas isso eu conto em outra
história.
Mudei-me para o Edifício
Gabriela, bem no centro da cidade. O meu apartamento ficava no quarto andar de
um prédio sem elevador, mas com dois dormitórios e uma vaga na garagem. Eu
tinha certeza de que tudo melhoria dali para a frente.
Foi nesse período que eu
conheci a Ana, a vizinha que morava no mesmo prédio, com sua filha, Natália e o
TOB, o cachorrinho poodle. Nossos apartamentos eram de fundos, o dela no
terceiro e meu no quarto andar.
Eu trabalhava três turnos na
FACCAT e, nos fins de semana, fazia minha dissertação de Mestrado. Vez por
outra eu participava de reuniões em Porto Alegre, no Centro Administrativo do
Estado, na extinta SEDAI – Secretaria Estadual do Desenvolvimento e Assuntos
Internacionais.
Voltando de Porto Alegre eu ia
direto ao Campus da FACCAT onde atendia alunos de Trabalho de Conclusão em
Administração. Voltava tarde, depois das 22h30min, estacionava o carro na minha
vaga nos fundos do prédio, extremamente cansada. E ao desembarcar do carro, lá
estava a Ana, na janela do seu apartamento no terceiro andar, dizendo: “vem
tomar uma sopinha que eu fiz para te esperar!”
Não tenho palavras que
consigam expressar o meu sentimento naqueles momentos! Eu sentia o amor que a
Ana tinha por mim, ela e a sua filha Natália. E eu subia as escadas com ânimo,
sabendo que lá no terceiro andar estavam duas pessoas amorosas e um cachorrinho
barulhento fazendo festa para mim. Aquelas sopas da Ana são inesquecíveis assim
como ela, a Ana é inesquecível. Eu escrevi este texto para homenageá-la e para
demonstrar meu mais profundo agradecimento a ela que me acolheu, que me ouviu,
que me aconselhou e que compartilhou choros e risadas comigo. Hoje, raramente
nos vemos, mas eu sinto muitas saudades dessa minha amiga querida!
Neste momento eu ouso
questionar: quem já não teve uma Ana em sua vida? Quem de nós já não foi essa
Ana na vida de outrem? Amigos são irmãos, são pais, são mães que nós escolhemos
ou que nos escolheram. Amigos são aqueles anjos que estão, uns nas vidas dos
outros, para saborear os bons momentos ou para chorar juntos, quando os tempos
são ruins.
Que possamos ser mais
amorosos, mais pacientes e mais ouvintes das pessoas que nos cercam. Que este
mundo tenha mais Anas!