sábado, 17 de fevereiro de 2024

Depois da morte

 


Imagem de Pixabay


Conto número 1

Por Nara Maria Müller


Naquela tarde cinzenta, a fina e fria chuva caía lá fora, Sara via as gotas escorrerem pela vidraça da janela da sala de estar. Sala que hoje estava cheia de gente, com muitas conversas e choros por todos os cantos. Apesar de todo aquele movimento, Sara tinha a sensação de que a sala estava vazia. Andou em direção à cozinha e lá então, o silêncio e o vazio pareciam atravessar seu coração ainda inconformado pela partida de sua mãe.

Mãe que fora sua melhor amiga, sua protetora durante 15 anos, desde que nascera até esse triste dia da despedida. Sara ouvira dizer que agora sua mãe era um anjo e, que lá do céu continuaria sua tarefa de cuidar, de amar e de interceder pela sua felicidade. Mas também ouvira dizer que, antes de ir para o céu, a alma de sua mãe teria que passar um tempo purgando seus pecados até ter o direito de se encontrar com Nossa Senhora e com Jesus.

- Que pecados seriam esses? - Pensava Sara em meio às lágrimas que insistiam em brotar e escorrer sobre suas faces.

- Minha mãezinha não tinha pecados, ela viveu para amar e cuidar de mim e sempre foi boa com todo mundo! Não, ela não merece ficar sofrendo no purgatório, certamente vai direto para junto de Deus.

Tia Rosa, vestida de preto da cabeça aos pés e com os olhos marejados se aproximou de Sara, acolhendo-a com um abraço afetuoso, dizendo: - Vem, querida, vamos tentar comer alguma coisa. Você está sem comer desde ontem e “ela” não quer que você fique doente. Você e eu precisamos ser fortes e vamos honrar a vida que a Elena viveu enquanto habitou a terra.

Sara não sentia fome, mas acompanhou a tia até a mesa da sala de jantar. Algumas amigas tinham trazido frutas e preparado um lanche. Serviu um chá e beliscou uns biscoitos. Mas seu coração estava apertado. Sara tinha a sensação de que seu estômago estava fechado.  Nada parecia suprir aquela ausência gigante que sentia.

Perguntou, então para a tia Rosa se ela realmente acreditava que a sua mãezinha podia vê-la de onde estava agora. – Será mesmo que ela está no céu cuidando de mim? De nós?

Tia Rosa abraçou-a e confirmou essa teoria, com firmeza. No seu coração, entretanto, Rosa também pensava se essa era mesmo a verdade.

- Vamos rezar pela alma dela todos os dias, assim, caso ela ainda esteja a caminho do céu, terá forças para chegar mais rápido - disse a tia Rosa. Sara experimentava uma sensação de cansaço, seu corpo não tinha forças para reagir. Acabou adormecendo nos braços da irmã mais velha de sua finada mãe.

Enquanto Sara dormia, agitadamente, Rosa chorava a morte de sua irmã, tão precoce e tão repentina. – Minha pobre Elena, por que teve que ser assim?

No dia anterior, Elena levantara-se apressada, preparara o café da manhã e lavara umas roupas. Sentindo um orgulho imenso pela filha, Elena viu Sara embarcar no ônibus que a levaria para a escola. Pensou em ir ao supermercado, mas antes disso, resolveu trocar de roupa. Escolheu um vestido laranja, para combinar com o outono que acabara de começar. Colocou seu perfume predileto (jamais saía sem seu cheiro de jasmim) e partiu em direção ao supermercado. No caminho de volta, sua bicicleta foi brutalmente atingida por um automóvel e Elena foi levada ao Pronto Socorro da cidade. Sara foi avisada na escola e uma professora a acompanhou até o hospital.

- Os ferimentos foram muito intensos e o estado dela é grave - disse um dos médicos da equipe de atendimento. – Ainda estamos avaliando os danos e os procedimentos que deverão e poderão ser aplicados ao caso.

- Posso vê-la? - Perguntou Sara, trêmula e chorosa, com o coração parecendo querer sair pela boca.

- Por enquanto, não. A equipe médica está cuidando dela e faremos todo o possível para salvar sua vida. Tão logo consigamos estabilizá-la, você poderá vê-la.

Uma enfermeira trouxe um chá e tentou acalmar Sara. Tia Rosa já estava chegando, ela morava na cidade vizinha, há uns 20 quilômetros de distância. A professora ficara ao lado de Sara, no hospital. Nesse momento, Sara não poderia ficar sozinha, precisava de muito apoio.

Enquanto esperava, Sara pensou no seu pai, que abandonara a mãe logo que ficou grávida. Sara nunca o conheceu. Por onde andaria? Será que não se sentiria culpado por nunca ter dado qualquer apoio à Elena durante esses 15 anos? Se estivessem juntos, talvez Elena pudesse ter seu carro e não teria sido atropelada com sua bicicleta.

Os pensamentos pareciam desconectados, de vez em quando parecia que Sara estava sonhando. Em certos momentos, as lágrimas escorriam em grande volume e, soluçando, às vezes gritava que queria ver sua mãe. Passada uma hora, aproximadamente, um médico jovem se aproximou de Sara e de sua tia Rosa, que já tinha chegado, e lhes deu a pior notícia que a menina já tinha recebido em sua vida: - Fizemos o possível, mas os ferimentos foram muito profundos e em várias partes do corpo. Sinto muito por essa perda.

Após uma noite e uma manhã de velório, o corpo de Elena foi enterrado no cemitério da cidade onde moravam. Muitas pessoas compareceram: as primas, os primos, a tia Rosa e seu esposo Pedro, todos os professores, a diretora e colegas da escola onde Sara estudava.  Também os vizinhos, os paroquianos da igreja que frequentavam e, é claro, o padre Juvenal, que presidiu os atos fúnebres.

- Deus acolha a alma da nossa irmã Elena, que deixa a filha Sara, a irmã Rosa, cunhado Pedro e 7 sobrinhos - dizia o padre Juvenal. Sara ouvia as palavras, mas não conseguia absorvê-las, tantos eram os pensamentos que lhe vinham à mente.

- Eu não acredito que isso aconteceu. Mãe, eu nem consegui dizer o quanto te amo! Você não teve tempo para me ver formada, nem para refazer sua vida. Eu não vou conseguir viver sem você, mãe! Esses eram os pensamentos de Sara que, por vezes saíam-lhe boca a fora.

Depois do enterro, era hora de voltar para casa e enfrentar aquele vazio. E a chuva fria e fina que não cessava, tornava o dia ainda mais sombrio e devastador.

Já escurecera quando Sara acordou, ainda nos braços da tia. – Tia Rosa, eu tive um sonho tão lindo, com a minha mãe. Ela estava sorrindo, com seu vestido predileto, cor-de-laranja. Ainda posso sentir seu abraço quentinho e sua voz me dizendo que sabe o quanto eu a amo. Será que ela é mesmo um anjo?

Ambas sentiram um perfume que conheciam muito bem. Rosa e Sara sorriram e choraram abraçadas.


domingo, 3 de setembro de 2023

Memórias de um amor sem fim

 


Por Nara Maria Müller – 03 de setembro de 2023

 

Quando te amei primeiro, eu nem me lembro

Ainda era bem pequena quanto te conheci

Tenho na memória um certo mês de novembro

Quando te vi pela primeira vez e nunca mais te esqueci

Pular sobre aqueles rolos d’água parecia uma coisa à toa

Lembro até da medusa que se enrolou no meu braço, um dia

Eu ficava mostrando o bracinho para cada pessoa

Querendo me queixar da queimadura que doía

Um dia, depois de tantas férias curtidas com a família

Realizei o sonho que é igual ao sonho de tanta gente

Saí daquela casa grande e cheia de mobília

E vim para este lugar que faz tanto bem para minha mente

E todo dia, não importa se o astro rei está ali a te iluminar

Ou se a chuva está caindo em profusão

Mesmo que a neblina tente ocultar a tua beleza sem par

Me recarrego da tua energia e da tua inspiração.

Gosto de parar e ver o vento soprando contra o teu andar

E de ver teus cachos brancos se despenteando

Da infância, correndo contra o vento, fico a me lembrar

E sinto a felicidade de estar ali, somente te vendo e te amando

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Mary Anne

 In 2007 I met an angel. And now she has gone to Heaven.

I got a scholarship when I was a PhD candidate to study for one year abroad. And I was accepted at the
prestigious Ivey Business School, in London, Ontario. Looks fancy, and in some ways, it is, but there was a catch. I got a small scholarship, compared to the living costs in London. I then sent emails to several homeowners explaining my situation and two of them returned. One of them was Mary Anne. Back then, she and her husband, Zenon, had a small side business: renting housing for students.

We live in south Brazil. It is cold here, for the Brazilian standards. Eventually, on colder nights, in the mountains, it can get to -5ºC. Where I live, when it is +5ºC, everyone is shivering and complaining. Anyway, we got to Canada in March 2007, when it was not that cold. It was -12ºC during the day – we never saw that cold! We never had the experience of walking on sidewalks covered with inches of snow. Then we had it. The one person that got it was Mary Anne. She was working as the director of the Nursing School at the Western University back then, but she sent Zenon to rescue us. For the rest of Canadians, maybe, it was just a pickup. But for us, Zenon was rescuing us from the slippery and cold Canadian Spring. We met her the following day. She summoned Zenon to go with us to the used furniture stores. She was having fun at those shops!

To make a long story short, from landlords we became friends. From time to time, Nara had to call
Mary Anne to rescue me from my downs in my research. And everyone undergoing the painful research learning process knows what I mean. 


We never lost connection when I came back to Brazil. I got another grant for a sabbatical in 2017, and we went back to London, Ontario. They visited us in Brazil in 2020, just before the shutdown of international flights due to the covid-19 pandemics. We had so many good moments together.

From time to time, we chatted over the internet. Sometimes video, sometimes just text. She eventually sent me a funny photo of a VW Kombi. Then, we found out she had leukemia. It was under control, she said. Then I got the notice, yesterday, she was in the hospital. She was fine by early April, then she started having pains in the stomach. They diagnosed with colon cancer. She was then submitted to surgery. When they opened her up, they found out that the cancer was intertwined with her blood vessels and did not remove it. She has been under paliative treatment since then. Yesterday, she passed away having the company of her beloved husband Zenon.

In 2007 I met an angel. And now she left us.



quinta-feira, 4 de maio de 2023

ODE AO EMPREENDEDOR

 

Image by: Helena Jankovičová Kováčová at Pexels.com


Por Nara Maria Müller

 

Desde criança ele queria ser rico

E querendo ser rico, pensava qual  a melhor opção

Dia após dia, ia ele, o pequeno Nico

Ia para a escola, ia para a igreja e conversava com o professor João.

 

O Nico gostava de pescar

Pois a pescaria era o ganha vida dos seus pais

Dos seus tios e do poderoso mercador, o senhor Oscar

O rico senhor Oscar sempre chegava e partia do mesmo cais.

 

Vivendo na simplicidade que o dinheiro da família lhe provia

Lá ia o Nico ouvir os conselhos do professor João

Ter um armazém para vender peixes naquela baía

Tornou-se a vontade do menino que crescia como um pé de feijão.

 

Estudar era o melhor caminho, sugeria o astuto professor

E se envolvendo nos livros de geografia, matemática
e língua portuguesa

O Nico desenvolvia suas competências para ser um empreendedor

Um dia chegaria lá, pensava o Nico, com a ideia sempre acesa.

 

Eis que o Nico conseguiu um emprego na empresa do senhor Oscar

Aprendeu a arte da negociação, da compra, da venda e da evolução

Alugou um galpão e lá estabeleceu seu negócio pertinho do mar

Com os ensinamentos dos pais, do professor e do Capelão.

Tornou-se o Nico um empresário de sucesso

Sempre honesto, Nico dedicava sua vitória, com gratidão

A todos os que contribuíram com o seu próprio progresso.

segunda-feira, 20 de março de 2023

A FORMATURA


 Foto de Iuri Gavronski


Por Nara Maria Müller

 Do alto daquele palco, sentada à mesa de formatura eu posso ver os formandos.

Dali eu posso ver uma pequena multidão sentada naquele auditório abafado, todos emocionados e felizes.

Dali eu também posso ver a corrida frenética e cuidadosa dos fotógrafos e cinegrafistas. Afinal, nenhum movimento pode ser perdido!

Alguns bebês de colo sendo chacoalhados por seus pais para que ficassem comportados.

Comportados estavam muitos idosos, e lá pelas tantas uma senhora entra auxiliada por um andador, ladeada por duas pessoas que a protegem e orientam-lhe o caminho.

Formandos recebem seus canudos; ouvem-se os discursos emocionados das oradoras e o juramento da turma. Ah, o juramento! Ele é proferido automaticamente e eu sempre penso: Quantos se concentram no que estão dizendo?

Chega aquele momento emocionante de entregar uma flor aos familiares: pais, esposos e esposas, namorados e namoradas, alguns avós.

Um músico surge tocando Aleluia. Formandos andando em meio aquela pequena multidão, procurando pelos seus amados. E os amados ali, de pé, esperando pelo abraço e pela flor... Abraços, choros, sorrisos... Quantas histórias, fatos e lembranças passam pelas mentes de cada pessoa! Ah se pudéssemos escutar cada um desses pensamentos!

Assim são as formaturas com seus rituais semelhantes, mas únicos porque cada pessoa traz sua própria história, suas próprias dores, seus próprios desafios vencidos e suas esperanças de que agora tudo será melhor.

E eu, dali de cima do palco, à mesa da formatura, sempre me emociono, sempre choro e sorrio e sempre desejo que, de agora em diante, a vida desses formandos seja de sucesso e de mais conquistas.

Porque a vida segue, as pessoas correm, a concorrência cresce e sempre é preciso ser e saber mais.


sábado, 18 de março de 2023

As crônicas de Nara - parte V

 

Imagem de Lukas Kloeppel - Pexels.com


NEW YORK, NEW YORK – a cidade que nunca dorme

Nova Yorque, nos Estados Unidos é um dos destinos mais procurados por quem quer viajar para aquele país. Diferente de Orlando, onde fica a incrível Disneylândia, Nova Yorque é um destino especial para quem deseja fazer compras. Tudo o que tem de mais moderno, tanto no mundo da moda, quanto na tecnologia, parece ser lançado por lá, antes de ir para o resto do mundo.

O famoso cantor norte-americano, Frank Sinatra – falecido em 1998 - cantava, lindamente uma música que homenageia Nova Yorque: a cidade que nunca dorme.

Nova Yorque também foi o palco da conhecidíssima série Friends, que agitou o mundo durante suas 10 temporadas. Quem não lembra do Café Central Perk e do charmoso apartamento da Mônica Geller?

Não sei vocês, mas eu sempre sonhei em conhecer Nova Yorque, ver a Estátua da Liberdade, badalar pela cidade, visitar o Central Park e, é claro, fazer compras.

Bem...eu preciso contar que estive duas vezes em Nova Yorque, mas nenhuma dessas visitas teve o glamour que eu esperava. O máximo que eu consegui comprar por lá foram alguns cafés, uma banana, uma maçã, talvez um donut¹ e um chocolate.

Minha primeira viagem a Nova Yorque

Meu marido costumava participar de congressos científicos nos Estados Unidos, uma ou duas vezes por ano e eu nunca tinha oportunidade de acompanhá-lo devido ao meu horário de trabalho. Mas num dado momento da vida profissional, eu resolvi me tornar dona do meu tempo. Minha primeira viagem aos Estados Unidos, com o Iuri foi em novembro de 2015, para Seatle. Como eu decidi meio em cima da hora, não consegui mais viajar nos mesmos voos que ele, nem na ida e nem da volta. Cheguei um dia depois dele e voltei um dia antes. E o voo de volta tinha uma parada em Nova Yorque. Eu chegaria ao aeroporto da cidade que nunca dorme, às 5 horas da manhã e meu voo para o Brasil sairia somente às 22 horas. Um dia inteiro em Nova Yorque! Seria essa a minha grande oportunidade?

Como eu já tinha concluído duas formações em Coaching e queria publicar uma reportagem numa revista especializada, aqui no Brasil, eu programei uma entrevista com um coach novayorquino. Nos encontraríamos num Co-working, mas um dia antes de eu chegar ele cancelou o encontro por motivos de saúde na família. Fiquei chateada, mas compreendi a situação e a entrevista aconteceu por e-mail.

A viagem de Seatle até Nova Yorque foi muito cansativa e, ao chegar, imediatamente tentei embarcar minha mala grande, mas como meu voo seria somente muito mais tarde, não me permitiram fazer o checkin. Aliás, eu não podia nem ter acesso à parte nobre do aeroporto. Tinha que ficar ali, no andar térreo, até, pelo menos às 17 horas. Procurei um lugar para guardar as malas. Pensei em dar um passeio pela cidade, mas o guarda-malas só abriria lá pelas 7h30min e não aceitava pagamento em cartão de crédito. Eu não tinha sequer um dólar em espécie e os saques pelo cartão de crédito eram proibitivos, dado o valor absurdo da taxa cobrada.

E lá estava eu, com sono, com fome e com aquelas duas malas: uma grande, aquelas de 32 quilos, sabem? A outra era um pouco menor e ainda tinha mais uma mochila com meu netbook e outras coisinhas. Eu sentava aqui, sentava ali, me escorava sobre as malas e cochilava um pouco, procurava, em vão, um lugar onde pudesse acessar uma rede wifi. Imaginem só, a minha situação de estar longe do meu mundo conhecido e sem qualquer meio de comunicação com esse mundo! Eu estava incomunicável com qualquer familiar e aquele lugar era horrível, cheio de pombos comendo as migalhas de comida pelo chão, fazendo suas necessidades em qualquer lugar. Taxistas e motoristas de Uber discutindo, gente andando para lá e para cá. Ao longo do dia eu tomei uns dois cafés pequenos – quem conhece os cafés pequenos nos Estados Unidos sabe que são grandes para nossos padrões. Por lá, eles não têm nem ideia do que seja um “cafezinho”. Vocês conseguem imaginar isso?  Comi uma banana daquelas enormes, pagando 1 dólar, cada, depois foi um biscoito, um sanduíche, uma maçã... Pelo menos as cafeterias aceitavam cartão de crédito.

Fiquei 12 horas naquele submundo de Nova Yorque, indo ao banheiro com toda aquela bagagem... Um sufoco. Sabem como são aquelas cenas daquelas comédias em que os protagonistas são expostos a situações estressantes e se metem em trapalhadas? Pois bem, assim foi o meu dia em Nova Yorque.

Finalmente, às 17 horas eu fui para o paraíso do aeroporto, pude subir para a área nobre e fazer o checkin. Me liberei da mala grande e entrei numa lojinha perguntando para a atendente onde eu conseguiria acesso à rede wifi. Precisava mandar notícias para o Iuri e para a família. Nos aeroportos brasileiros a gente tem internet grátis, pelo menos por uma hora. Mas não era o caso lá em Nova Yorque. A moça disse que eu não encontraria wifi gratuito no aeroporto. Eu contei meu drama para ela que, compadecida, pediu que eu lhe entregasse o meu celular. Discretamente, ela digitou a senha da loja, cuidando para o proprietário não ver. Fiquei tão agradecida que até comprei um chocolate na loja. Sabem quando a gente tem aquela sensação de ter sido salvo e que deve sua própria vida a alguém? Saí dali e me sentei no lugar mais próximo, onde ainda conseguia manter o acesso à internet. Toda a família estava preocupada com a minha falta de notícias o dia inteiro, mas tudo acabou bem. Embarquei no meu voo para o Brasil e viajei até São Paulo. Acho que dormi a noite toda!

No aeroporto de São Paulo – não lembro se era Guarulhos ou Congonhas, eu encontrei o Iuri que pegou um voo umas 12 horas depois de mim, mas não teve que ficar aquelas horas todas preso no porão do aeroporto de New York.

Enfim, quando a gente faz coisas sem planejar antecipadamente, tem que se contentar com o resultado, que, nem sempre é tão glamouroso quanto poderia ser.

 

Minha segunda viagem a Nova Yorque

Maio de 2019, nossa última viagem internacional antes da pandemia. O destino era Boston, nos Estados Unidos, onde Iuri e eu participaríamos de um congresso de Administração.

Nossa primeira parada foi em Nova Yorque, aonde chegamos em torno de 10 horas da manhã. O voo para Boston só sairia às 17 horas, mas deveríamos tomar um trem para ir de um aeroporto para o outro. A estação era bem pertinho do Central Park e o Iuri me convidou para dar uma caminhada até o parque. Cada um de nós carregava uma mala daquelas grandes e duas bagagens de mão. Eu recusei o convite pois já sabia como era ruim caminhar por horas puxando aquela bagagem toda. Então ele me convenceu a dar uma caminhada por algumas quadras e acabamos fazendo um lanche, ao meio-dia, num Mc Donalds. A refeição demorou mais tempo do que prevíamos e o tempo ia passando. Caminhamos o mais rápido possível até a estação e o Iuri correu até a bilheteria, enquanto eu fiquei pertinho dos portões com as duas malas grandes e as bagagens de mão. Assim, ele poderia correr por dentro da estação, que era enorme. Ele demorou um tempão até retornar e me entregou meu tíquete. Correu com as suas malas e bagagens e cruzou a catraca. Eu passei o tíquete, mandei as duas malas e a catraca trancou. Para passar para o outro lado, eu precisaria de outro tíquete e não dava mais tempo de voltar e comprar. Fico pensando em quantas pessoas já passaram por esse infortúnio que eu estava passando. Seria eu a única tola no mundo?

O Iuri, apavorado me disse: “pula por cima da catraca!” Eu dizia que não pularia, pois haviam seguranças olhando e eu não queria ser presa em Nova Yorque. Mas a pressão era grande e eu pulei sobre a catraca, sob os olhares dos seguranças. Acho que eles ficaram penalizados e fizeram de conta que não tinham visto. Mas eu lembro de dizer para o Iuri que ele não deveria ter feito isso com uma mulher de 60 anos de idade. Hoje eu me arrependo de não ter deixado ele tirar umas fotos daquela cena, porque deve ter sido muito engraçada!

O ônibus atrasou, nós atrasamos e perdemos o voo para Boston. Ficamos sabendo que havia um voo cancelado naquele mesmo dia e que a lista de espera por vagas nos próximos era imensa. E, é claro, os passageiros do voo cancelado tinham prioridade. Nos aconselharam a ficar num hotel e voltar na manhã seguinte, mas nós tínhamos que estar em Boston, na manhã seguinte. Além disso, como professores universitários, nossas verbas eram restritas e todos os gastos extras estavam fora de cogitação.

Acho que conseguimos despachar as malas grandes e ficamos somente com as duas bagagens de mão - cada um de nós com as suas. Entramos na sala de embarque e, a cada voo para Boston, ficávamos aguardando a possibilidade de embarcarmos. Pensem numa mulher furiosa com o marido! Essa mulher era eu. Mais uma vez, Nova Yorque tinha sido hostil comigo.

Lá pelas tantas o Iuri me perguntou se eu queria um lanche e eu disse que não queria coisa alguma. Ele foi comprar algo e me trouxe um chocolate. Nem lembro se eu aceitei ou não – hehehe.

Era quase meia noite quando anunciaram a partida dos dois últimos voos para Boston. Iuri conseguiu vaga num deles e eu no outro.

As viagens são assim mesmo. Mesmo planejadas, às vezes surgem infortúnios, mas o jeito é encarar com leveza que tudo dá certo no final.

O engraçado é que quando a gente sabe que alguém vai viajar para o exterior, costuma pensar que tudo será maravilhoso, não é mesmo? E, na maioria das vezes, mesmo que algumas coisas deem errado, dificilmente eles nos contarão.

¹Um donut, doughnut, dónute, rosca ou rosquinha é um pequeno bolo em forma de rosca, popular nos Estados Unidos e de origem incerta. Consiste numa massa açucarada frita, que pode ser coberta com diversos tipos de cobertura doce e colorida, como por exemplo chocolate. Wikipédia

sexta-feira, 17 de março de 2023

As crônicas de Nara - parte IV


imagem by Pexels-kindle-media

 O DIRETOR DE ARMAS

 Por Nara Maria Müller

Em tempos de escassez de oferta de empregos, ou de falta de qualificação das pessoas para ocuparem as vagas existentes, eu sempre fico pensando qual é a razão dessa incoerência. Ou qual seria a solução para esse problema?

Quando estudamos matemática na escola, aprendemos algumas fórmulas e todas elas têm um sinal de igualdade (=) entre um lado e outro, não é verdade?

É claro que no quesito social, a maioria das situações não apresentam esse sinal de igualdade e, sim, uma desigualdade tremenda.

Mas enquanto você e eu pensamos nas razões ou nas possíveis soluções para essas desigualdades, quero contar o quanto eu me surpreendi, certo dia, com a existência de uma profissão que nunca tinha imaginado que existisse.

Era uma manhã ensolarada e o mês era dezembro de 2022.  Eu peguei carona no carro de um motorista de aplicativo BlaBlaCar e nós fomos conversando ao longo do caminho, até chegarmos a uma parada de ônibus, próxima aos belos condomínios de Tramandaí, onde embarcou mais um passageiro.

Desde que esse passageiro entrou no carro, as conversas ficaram, praticamente toda a viagem entre ele e o motorista. Eles falavam sobre suas paixões por motocicletas, sobre o trânsito e coisas assim.  Somente depois que o passageiro foi deixado em seu destino, é que o motorista e eu retomamos nossa conversa.

Ele me perguntou sobre a saúde do meu pai, que estava internado num hospital de Porto Alegre, para onde eu estava indo.

Seguimos falando sobre família, trânsito, riscos e ele comentou que, entre outras funções, ele é diretor de armas de filmes. Eu perguntei o que faz um diretor de armas e ele me explicou: “é o especialista em armas que acompanha filmagens onde os atores usam armas de fogo. Esse especialista é responsável pela segurança dos atores e demais integrantes do set de filmagens”.

Me contou de certa feita quando alguns atores nacionais gravavam na serra gaúcha e o diretor do filme deu ordem para iniciarem a gravação de uma cena. “Quando o diretor gritou: AÇÃO, eu gritei: CORTA”, me contou o motorista do aplicativo. “Se eles seguissem com a filmagem da cena, mesmo usando munição de festim, o ator teria sido queimado devido à proximidade da arma em relação ao seu corpo”, complementou.

Segundo ele, foi preciso exemplificar, atirando com uma arma munida de festim, contra uma folha de papel, a uma distância considerada de risco. A folha chamuscou. Então, mesmo inconformados, o diretor e os atores aceitaram o corte imposto pelo especialista e filmaram a uma distância segura entre o ator e a arma.

Meu motorista também é membro da Polícia Militar e atuou por uns 20 anos nas ruas, sendo instrutor de armamento e tiro. Ele também me contou sobre uma gravação onde, monitoradamente, houve uso de munição real para manuseio no set de filmagem. Contou-me que fez uma breve preleção com os atores, dizendo a eles que atiraria contra qualquer ator que apontasse uma arma carregada com munição de verdade, para uma pessoa daquele set, ou em cena. Alertou-os de que estaria fazendo legítima defesa de terceiros, deixando bem claro a importância de uma instrução sobre armamento. Cada decisão tomada individualmente, no uso inadequado de uma arma de fogo pode gerar situações bem indesejadas.

Meu interlocutor lembrou daquela tragédia que envolveu o ator Alec Baldwin, há algum tempo. “Se aquelas filmagens contassem com um especialista em armas, aquela tragédia teria sido evitada, demonstrando a importância de um especialista, quando se trata de manuseio tanto de arma de fogo quanto de simulacro”, complementou o motorista do BlaBlaCar.

Fiquei refletindo sobre essa profissão que eu nem imaginava que existisse e em quantas outras por aí que a gente nunca ouviu falar e nas oportunidades de se criarem outras tantas.

Todos nós, ou a maioria de nós já teve que parar um dia para pensar no que queria ser quando crescesse. E, durante a trajetória profissional, muitas vezes tivemos que repensar, mudar os rumos da nossa jornada... Quem de nós já pensou em criar uma profissão, ou procurar algo diferente daquelas profissões básicas como ser professor, médico, construtor, engenheiro, bancário, etc?

Quanta gente está envolvida em cada elaboração de produtos, em cada serviço prestado. Quanta gente que não é reconhecida e nem mesmo percebida!

As crônicas de Nara - parte III

 




MÃE APARECIDA: a emoção de estar na Tua presença
Por Nara Maria Müller

Viajar e conhecer lugares novos é algo maravilhoso, não é mesmo? Alguns lugares são tão encantadores e nos provocam tantas emoções, que a gente até gosta de revisitá-los, de vez em quando.

No Brasil, um dos destinos que são frequentados e visitados, por mais de uma vez, é o Santuário de Aparecida, em São Paulo.

Era final do ano de 2019, quando, finalmente, eu fui conhecer o Santuário de Aparecida, em São Paulo. Era um sonho dos meus pais e um desejo meu e do meu esposo.

Bem cedinho, naquele domingo, 28 de dezembro, nós quatro saímos de Tramandaí em direção ao Santuário de Aparecida. Fomos de carro e paramos algumas vezes para descansar, comer alguma coisa ou contemplar as belas paisagens. Pernoitamos em São José dos Pinhais, no Paraná, num hotel simples, na beira da rodovia. Lembro que ficamos num quarto grande, com três camas de solteiro e um beliche.  Na manhã seguinte, após um gostoso desjejum, nós partimos para nosso destino e chegamos em Aparecida ao entardecer do dia 29. Na chegada à cidade, já se via as luzes da Catedral e um grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, sobre um morro. Subimos as escadas até quarto andar, onde ficava nosso apartamento. O Iuri e o meu pai saíram para comprar pizzas para nossa janta, enquanto minha mãe e eu arrumávamos as camas e tomávamos banho.

Ao amanhecer de terça-feira, quando minha mãe e eu ainda estávamos dormindo, meu pai e o Iuri saíram para uma caminhada. Foram até o Santuário, tomaram um chimarrão no caminho e voltaram para o café da manhã.

Depois do café, nós quatro fomos até o Santuário – de carro, porque os meninos já tinham caminhado bastante e não era tão pertinho como parecia. Além disso, Aparecida é uma cidade com muitas ladeiras, que precisam ser vencidas para se chegar ao Santuário.

Lembro do Iuri mencionar o quanto meu pai tinha se emocionado ao ficar frente a frente com a imagem de Nossa Senhora Aparecida - aquela que foi encontrada no rio, pelos pescadores e que está dentro da Catedral. Eu pensei: “deve ser legal mesmo”, mas nunca imaginei o que eu mesma sentiria ao chegar nesse local...

Dentro da Catedral, nós rezamos um dos vários terços diários de Aparecida. Me chamou a atenção o fato de que,  a cada nova dezena eram convidadas dez pessoas dentre as que estavam na Catedral, para subirem ao altar e rezarem uma das Ave-Marias do terço.

Estávamos de frente para a imagem original da Santa, que fica num mezanino, dentro de uma espécie de sacrário dourado. Quem já visitou o Santuário, sabe que a Catedral é imensa e a imagem de Nossa Santa Padroeira parece pequena para quem está próximo ao altar.

Quando subimos ao mezanino, entramos numa longa fila de romeiros que paravam, por alguns instantes, na frente da imagem da Mãe Aparecida. Tudo calmo até ali. Na minha frente estava um casal bem jovem. Os dois conversavam e riam enquanto caminhavam, vagarosamente, seguindo a velocidade da fila. Atrás de mim estavam meus pais.

Quando chegou a vez do casal à minha frente contemplar a imagem, eles se abraçaram e choraram. Naquele momento, eu comecei a entender a emoção que meu pai sentira mais cedo.

A próxima da fila era eu e, ao olhar para aquela imagem da Mãe Aparecida, não me contive e chorei. Me voltei para trás e abracei meu pai e minha mãe, totalmente emocionada. Agradeci a Deus pela oportunidade que tinha me dado de estar ali com as pessoas que me deram a vida.

Quantas vezes, ao longo das nossas vidas deparamos coisas que nos impressionam, nos sensibilizam e nos fazem rir e chorar? Nesses momentos nós sentimos a presença do Deus criador, de Jesus, nosso irmão e de nossa Mãe amorosa!

quarta-feira, 15 de março de 2023

As crônicas de Nara - Parte II

 


O ROUBO DO PEIXE: falando o óbvio para evitar mal-entendidos

Por Nara Maria Müller

Quantas vezes a gente já teve a experiência de coisas que deveriam ter acontecido de um jeito, mas aconteceram de outro? Quantas dessas coisas que não saíram como imagináramos poderiam ter dado certo, não fosse por algum mal-entendido?

Mal-entendidos acontecem com mais frequência do que nós podemos imaginar. Acontecem na vida familiar, na vida social e no nosso trabalho.

Em 2007 meu marido e eu fomos morar no Canadá, na cidade de Londres, na província de Ontário. Chegamos em março de 2007 e voltamos ao Brasil em janeiro de 2008.

Conhecemos várias pessoas, fizemos bons amigos e, entre eles, o Zenon e a Mary-Anne.

Em dezembro de 2007, faltando um mês para voltarmos ao Brasil, Zenon e Mary-Anne começaram a nos levar para vários lugares que ainda não tínhamos conhecido, a fim de termos mais tempo juntos.

Numa noite gelada, com a neve caindo sobre a cidade, fomos jantar no restaurante McGuinnes. Eu escolhi um prato com peixe, batatas e legumes. O Iuri pediu alguma outra coisa, que não lembro mais o que era.

Eu tenho o hábito de comer devagar, saboreando a comida e o Iuri, em geral, devora seu prato, mais rapidamente. Quem não conhece, pelo menos uma pessoa que também come mais rapidamente ou que saboreia um bom prato de comida?

Num dado momento, a conversa estava empolgante e eu estava contando uma história para os amigos. Larguei o garfo e a faca por alguns instantes e conversava, fluente e alegremente com eles. Quando terminei minha fala, peguei novamente o garfo e a faca com a intenção de continuar a refeição, mas vi que o restante do meu peixe não estava mais ali. Perguntei: “tu comeste o meu peixe?” E o Iuri, vermelho de vergonha, respondeu: “eu pensei que tu tinhas parado de comer e resolvi me apropriar daquele apetitoso pedaço de peixe”. Eu fiquei bem contrariada – quem não ficaria? Aquele peixe estava mesmo delicioso!

Passados alguns instantes, todos caíram na risada e o Zenon disse para o Iuri: “tu perdeste alguns pontos com ela!”

Desde então, sempre que dou uma paradinha durante a refeição, aviso que pretendo voltar a comer o que está no meu prato.

Quantas vezes enfrentamos dores e dissabores por causa de um mal-entendido porque a gente acha que nossa intenção é tão óbvia que não precisa ser dita? Mas o óbvio precisa ser dito, sim!

Como é importante a gente se comunicar assertivamente, dizendo o que para nós parece óbvio, pois para o outro, pode haver um entendimento diferente, não é mesmo?

Tenho certeza de que todos conhecem alguma história como essa. Mal-entendidos podem se tornar motivos para boas risadas, como foi no meu caso, mas também podem causar problemas mais sérios...

Lembrem-se sempre disso: O óbvio precisa ser dito para que a gente não tenha o nosso “peixe” roubado.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

As Crônicas de Nara - parte I


As protanogistas desse abraço somos a Ana e eu. Quem é a Ana? Ela é uma amiga daquelas que se guarda no coração, por toda uma vida. A Ana é a minha homenageada na primeira crônica que escrevi para o meu futuro lançamento literário. 

Que todos tenhamos muitas Anas em nossas vidas!

AS SOPAS DA ANA

Por: Nara Maria Müller

“Amigo é coisa prá se guardar do lado esquerdo do peito.” Essa frase inesquecível faz parte da música cantada, tão lindamente, pelo nosso querido Milton Nascimento. E eu acredito que todos nós temos ou já tivemos um amigo do tipo que se guarda no lado esquerdo do peito, dentro do coração. Você concorda comigo? Pois bem, neste texto eu quero relembrar e homenagear uma amiga lá de Taquara, que guardo, com muito amor, dentro do meu coração.

Lá pelos anos 2000 eu comprei meu primeiro apartamento, em Taquara. Eu já tinha cometido alguns erros, passado por várias dificuldades e continuava contando moedas e anotando minhas contas numa velha agenda, para honrar as dívidas e para comprar o pão de cada dia.

Naqueles dias eu tinha conseguido uma nova oportunidade de carreira na FACCAT – Faculdades de Taquara, onde eu trabalhava e cursava o Mestrado.

O salário aumentara consideravelmente, mas eu tinha que pagar dívidas contraídas nos dois anos anteriores, logo depois do divórcio. E, para poder assumir o novo cargo eu tive que comprar um carro, ou seja, mais dívidas, mas isso eu conto em outra história.

Mudei-me para o Edifício Gabriela, bem no centro da cidade. O meu apartamento ficava no quarto andar de um prédio sem elevador, mas com dois dormitórios e uma vaga na garagem. Eu tinha certeza de que tudo melhoria dali para a frente.

Foi nesse período que eu conheci a Ana, a vizinha que morava no mesmo prédio, com sua filha, Natália e o TOB, o cachorrinho poodle. Nossos apartamentos eram de fundos, o dela no terceiro e meu no quarto andar.

Eu trabalhava três turnos na FACCAT e, nos fins de semana, fazia minha dissertação de Mestrado. Vez por outra eu participava de reuniões em Porto Alegre, no Centro Administrativo do Estado, na extinta SEDAI – Secretaria Estadual do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais.

Voltando de Porto Alegre eu ia direto ao Campus da FACCAT onde atendia alunos de Trabalho de Conclusão em Administração. Voltava tarde, depois das 22h30min, estacionava o carro na minha vaga nos fundos do prédio, extremamente cansada. E ao desembarcar do carro, lá estava a Ana, na janela do seu apartamento no terceiro andar, dizendo: “vem tomar uma sopinha que eu fiz para te esperar!”

Não tenho palavras que consigam expressar o meu sentimento naqueles momentos! Eu sentia o amor que a Ana tinha por mim, ela e a sua filha Natália. E eu subia as escadas com ânimo, sabendo que lá no terceiro andar estavam duas pessoas amorosas e um cachorrinho barulhento fazendo festa para mim. Aquelas sopas da Ana são inesquecíveis assim como ela, a Ana é inesquecível. Eu escrevi este texto para homenageá-la e para demonstrar meu mais profundo agradecimento a ela que me acolheu, que me ouviu, que me aconselhou e que compartilhou choros e risadas comigo. Hoje, raramente nos vemos, mas eu sinto muitas saudades dessa minha amiga querida!

Neste momento eu ouso questionar: quem já não teve uma Ana em sua vida? Quem de nós já não foi essa Ana na vida de outrem? Amigos são irmãos, são pais, são mães que nós escolhemos ou que nos escolheram. Amigos são aqueles anjos que estão, uns nas vidas dos outros, para saborear os bons momentos ou para chorar juntos, quando os tempos são ruins.

Que possamos ser mais amorosos, mais pacientes e mais ouvintes das pessoas que nos cercam. Que este mundo tenha mais Anas!


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Pão 100% integral, com ou sem máquina de pão

 Há alguns anos, eu postei uma receita que se mostrou bem popular aqui no blog. Era uma receita de pão integral na máquina de pão. Mas usava 2/3 de farinha integral e 1/3 de farinha branca. No meu esforço para reduzir os refinados ao longo dos anos, eu consegui modificar a receita para funcionar apenas com farinha integral. Mas acabei, por falta de tempo, nunca postando a receita atualizada. Recentemente, nossa máquina quebrou. Por isso, eu tentei adaptar a receita para fazer no forno do fogão e me livrar daquela máquina gigante tomando espaço na nossa cozinha minúscula. Bom, a receita:


Ingredientes:

  1. leite, preferencialmente morno (250 ml)
  2. fermento biológico (2 col sobremesa rasas)
  3. açúcar mascavo ou mel (2 col sopa)
  4. ovo (1)
  5. óleo de oliva, girassol ou manteiga (1 col sopa)
  6. farinha integral (750 ml)
  7. sal moído (2 col sobremesa rasas)

Na máquina de pão:

Colocar todos os ingredientes na máquina, nessa sequência, e fazer o pão no modo normal (não precisa usar o modo integral). Depois de 3 horas, seu pão estará pronto e fofinho. Depois de desligar a máquina, eu deixo 5 minutos lá dentro para não murchar (ele cresce muito).

No forno:

Misturar os ingredientes [1-5] muito bem. Colocar a farinha, fazer uma covinha e colocar o sal. Mexer bem. Eu tenho que colocar um pouco mais de farinha nessa mistura para dar ponto. O ponto que eu gosto é aquele em que a massa não fica grudando na mão, mas a gente sente um pouco de umidade nela.
Deixar descansar por 20 minutos.
Ligar o forno no máximo, dá uma nova amassada e coloca numa forma untada e polvilhada. Desliga o forno, coloca o pão no forno para crescer por 20 minutos.
Liga o forno a 220ºC e assar por 40 minutos. Eu olho o pão e se achar ele muito branco, vou mantendo-o no forno ligado por mais 5 minutos. Depois de pronto, retiro do forno e aguardo esfriar um pouco antes de cortar.

Além de ficar pronto muito mais rápido, ele não fica tão alto, tem uma consistência mais firme, e não fica com o "umbigo", aquele buraco que a máquina de pão deixa onde fica a pá que faz a mistura. Dado que nossa cozinha agora é pequena, a máquina de pão foi para não mais voltar.