As crônicas de Nara - Parte II
O ROUBO DO PEIXE: falando o óbvio para evitar mal-entendidos
Por Nara Maria Müller
Quantas vezes a gente já teve
a experiência de coisas que deveriam ter acontecido de um jeito, mas
aconteceram de outro? Quantas dessas coisas que não saíram como imagináramos
poderiam ter dado certo, não fosse por algum mal-entendido?
Mal-entendidos acontecem com
mais frequência do que nós podemos imaginar. Acontecem na vida familiar, na
vida social e no nosso trabalho.
Em 2007 meu marido e eu fomos
morar no Canadá, na cidade de Londres, na província de Ontário. Chegamos em
março de 2007 e voltamos ao Brasil em janeiro de 2008.
Conhecemos várias pessoas,
fizemos bons amigos e, entre eles, o Zenon e a Mary-Anne.
Em dezembro de 2007, faltando
um mês para voltarmos ao Brasil, Zenon e Mary-Anne começaram a nos levar para
vários lugares que ainda não tínhamos conhecido, a fim de termos mais tempo
juntos.
Numa noite gelada, com a neve
caindo sobre a cidade, fomos jantar no restaurante McGuinnes. Eu escolhi
um prato com peixe, batatas e legumes. O Iuri pediu alguma outra coisa, que não
lembro mais o que era.
Eu tenho o hábito de comer
devagar, saboreando a comida e o Iuri, em geral, devora seu prato, mais
rapidamente. Quem não conhece, pelo menos uma pessoa que também come mais rapidamente
ou que saboreia um bom prato de comida?
Num dado momento, a conversa
estava empolgante e eu estava contando uma história para os amigos. Larguei o
garfo e a faca por alguns instantes e conversava, fluente e alegremente com
eles. Quando terminei minha fala, peguei novamente o garfo e a faca com a
intenção de continuar a refeição, mas vi que o restante do meu peixe não estava
mais ali. Perguntei: “tu comeste o meu peixe?” E o Iuri, vermelho de vergonha,
respondeu: “eu pensei que tu tinhas parado de comer e resolvi me apropriar
daquele apetitoso pedaço de peixe”. Eu fiquei bem contrariada – quem não
ficaria? Aquele peixe estava mesmo delicioso!
Passados alguns instantes,
todos caíram na risada e o Zenon disse para o Iuri: “tu perdeste alguns pontos
com ela!”
Desde então, sempre que dou
uma paradinha durante a refeição, aviso que pretendo voltar a comer o que está
no meu prato.
Quantas vezes enfrentamos
dores e dissabores por causa de um mal-entendido porque a gente acha que nossa
intenção é tão óbvia que não precisa ser dita? Mas o óbvio precisa ser dito, sim!
Como é importante a gente se
comunicar assertivamente, dizendo o que para nós parece óbvio, pois para o
outro, pode haver um entendimento diferente, não é mesmo?
Tenho certeza de que todos conhecem
alguma história como essa. Mal-entendidos podem se tornar motivos para boas
risadas, como foi no meu caso, mas também podem causar problemas mais sérios...
Lembrem-se sempre disso: O
óbvio precisa ser dito para que a gente não tenha o nosso “peixe” roubado.
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