As crônicas de Nara - parte IV
O DIRETOR DE ARMAS
Por Nara Maria Müller
Em tempos de escassez de
oferta de empregos, ou de falta de qualificação das pessoas para ocuparem as
vagas existentes, eu sempre fico pensando qual é a razão dessa incoerência. Ou
qual seria a solução para esse problema?
Quando estudamos matemática na
escola, aprendemos algumas fórmulas e todas elas têm um sinal de igualdade (=)
entre um lado e outro, não é verdade?
É claro que no quesito social,
a maioria das situações não apresentam esse sinal de igualdade e, sim, uma
desigualdade tremenda.
Mas enquanto você e eu pensamos
nas razões ou nas possíveis soluções para essas desigualdades, quero contar o
quanto eu me surpreendi, certo dia, com a existência de uma profissão que nunca
tinha imaginado que existisse.
Era uma manhã ensolarada e o
mês era dezembro de 2022. Eu peguei
carona no carro de um motorista de aplicativo BlaBlaCar e nós fomos conversando
ao longo do caminho, até chegarmos a uma parada de ônibus, próxima aos belos
condomínios de Tramandaí, onde embarcou mais um passageiro.
Desde que esse passageiro
entrou no carro, as conversas ficaram, praticamente toda a viagem entre ele e o
motorista. Eles falavam sobre suas paixões por motocicletas, sobre o trânsito e
coisas assim. Somente depois que o passageiro
foi deixado em seu destino, é que o motorista e eu retomamos nossa conversa.
Ele me perguntou sobre a saúde
do meu pai, que estava internado num hospital de Porto Alegre, para onde eu
estava indo.
Seguimos falando sobre
família, trânsito, riscos e ele comentou que, entre outras funções, ele é
diretor de armas de filmes. Eu perguntei o que faz um diretor de armas e ele me
explicou: “é o especialista em armas que acompanha filmagens onde os atores
usam armas de fogo. Esse especialista é responsável pela segurança dos atores e
demais integrantes do set de filmagens”.
Me contou de certa feita
quando alguns atores nacionais gravavam na serra gaúcha e o diretor do filme
deu ordem para iniciarem a gravação de uma cena. “Quando o diretor gritou:
AÇÃO, eu gritei: CORTA”, me contou o motorista do aplicativo. “Se eles
seguissem com a filmagem da cena, mesmo usando munição de festim, o ator teria
sido queimado devido à proximidade da arma em relação ao seu corpo”,
complementou.
Segundo ele, foi preciso
exemplificar, atirando com uma arma munida de festim, contra uma folha de
papel, a uma distância considerada de risco. A folha chamuscou. Então, mesmo
inconformados, o diretor e os atores aceitaram o corte imposto pelo
especialista e filmaram a uma distância segura entre o ator e a arma.
Meu motorista também é membro
da Polícia Militar e atuou por uns 20 anos nas ruas, sendo instrutor de armamento
e tiro. Ele também me contou sobre uma gravação onde, monitoradamente, houve
uso de munição real para manuseio no set de filmagem. Contou-me que fez uma
breve preleção com os atores, dizendo a eles que atiraria contra qualquer ator
que apontasse uma arma carregada com munição de verdade, para uma pessoa
daquele set, ou em cena. Alertou-os de que estaria fazendo legítima defesa de
terceiros, deixando bem claro a importância de uma instrução sobre armamento. Cada
decisão tomada individualmente, no uso inadequado de uma arma de fogo pode
gerar situações bem indesejadas.
Meu interlocutor lembrou
daquela tragédia que envolveu o ator Alec Baldwin, há algum tempo. “Se aquelas
filmagens contassem com um especialista em armas, aquela tragédia teria sido
evitada, demonstrando a importância de um especialista, quando se trata de
manuseio tanto de arma de fogo quanto de simulacro”, complementou o motorista
do BlaBlaCar.
Fiquei refletindo sobre essa
profissão que eu nem imaginava que existisse e em quantas outras por aí que a
gente nunca ouviu falar e nas oportunidades de se criarem outras tantas.
Todos nós, ou a maioria de nós
já teve que parar um dia para pensar no que queria ser quando crescesse. E,
durante a trajetória profissional, muitas vezes tivemos que repensar, mudar os
rumos da nossa jornada... Quem de nós já pensou em criar uma profissão, ou
procurar algo diferente daquelas profissões básicas como ser professor, médico,
construtor, engenheiro, bancário, etc?
Quanta gente está envolvida em
cada elaboração de produtos, em cada serviço prestado. Quanta gente que não é reconhecida
e nem mesmo percebida!
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