domingo, 25 de novembro de 2007

DSI - Técnicas de Ensino

Houve 3 momentos durante o DSI em que recebi idéias interessantes para atuação como professor, e vou registrá-las aqui.

Sessão de Ensino no Consórcio Doutoral

Como já havia dito em outro post, houve uma sessão de técnicas de ensino dentro do consórcio doutoral. O nosso professor, Harvey Brightman, é aposentado pela Georgia State University, e segue dando aulas no MBA executivo lá.

O Harvey é professor de estatística. Como parte de nós que já pisamos em uma sala de aula como professores, imagino que ele deve ter sofrido com a dificuldade dos alunos de entender o conteúdo. Acho que os professores se dividem em dois tipos: os que sofrem com isso e tentam melhorar sua técnica, e os que acham que os alunos são burros. Ele parece ser do primeiro tipo. Então, ele começou a ler, muito tempo atrás, sobre educação de adultos. Sua aula desse sábado começou com isso.

Só que ao invés de apresentar os números, ele colocou uma lâmina com lacunas ( ____ ) ao lado de cada atributo do professor (domínio da matéria, clareza do conteúdo, etc.) e foi pedindo para a gente estimar a importância de cada atributo para o aprendizado do aluno. Eram 17 atributos, e ele pediu que cada um dissesse qual é o mais importante e os participantes iam dizendo , por exemplo, "conhecimento do assunto" e ele dizia "esse é o número 9, em importância", segundo um estudo feito nos Estados Unidos e publicado em 1989. Ponto número 1: organização da disciplina e da aula; número 2: clareza da apresentação. Ele disse uma coisa interessante: nós, professores universitários, somos a única profissão que não recebe qualificação formal para exercermos nossa profissão. Seria como fazer cirurgia cerebral por intuição, diz ele. Todo mundo que teve aulas de didática sabe do que estou falando...

Ele mostrou como organizar a aula com um exemplo... de como não organizar! Ele mostrou umas aulas de marketing de um outro professor do qual ele fez o "coaching". Ele trabalha (pelo que eu entendi, até hoje) na universidade como coach, ou seja, "treinador" de professores. Segundo ele, é mais gratificante ser coach de ensino do que de pesquisa, porque demora 3-4 anos para alguém se tornar um bom pesquisador, enquanto ele diz conseguir tornar alguém um bom professor em 7-8 semanas. As aulas que ele trouxe de exemplo começam com conceitos (marketing é isso, brand equity é aquilo...). Os alunos saem do ar quando vêem esse tipo de coisa. A clássica estrutura de começar com a definição, depois ir para a teoria e finalmente mostrar a aplicação é o contrário da forma com que um adulto aprende. Ele começa com um problema (aplicação) e depois busca como resolvê-lo (teoria). Bom, não preciso dizer que... sim, minhas aulas eram organizadas da maneira "errada", que ele chama de modelo TA (teoria -> aplicação), ao invés de AT (aplicação -> teoria).

Depois de mostrar o exemplo do seu colega do marketing, Harvey apontou então o que ele chama de "big five" - os cinco princípios básicos de suas apresentações:

  1. Começar dizendo porque o assunto é importante -> depois ir para o tópico
  2. Partir de um exemplo concreto -> teoria (modelo AT)
  3. Partir de um material familiar ao aluno -> depois ir para o desconhecido
  4. Começar com a versão simples -> depois partir para a complexa
  5. Apresentar a mesma idéia em múltiplas linguagens (palavras, figuras, símbolos, gráficos, equações)


Eu tinha outra dúvida e a aula dele me ajudou. Quando eu fiz minha graduação, os professores escreviam tudo no quadro, ou ditavam. Na verdade, eu, já naquela época, achava uma tremenda perda de tempo ficarmos copiando coisas ao invés de efetivamente estarmos discutindo ou tirando dúvidas. Hoje os alunos ficariam furiosos se eu, como professor, insinuasse fazer tal coisa. Mas ao disponibilizarmos as lâminas com a aula toda previamente para os alunos, eles não têm "surpresas". Uns três anos atrás, eu estava dando uma aula e eu tinha uma lâmina com uma questão para discussão. Na próxima lâmina, havia meus comentários a respeito. Em uma sessão "normal", em que os alunos não tivessem o material, não haveria problemas, mas meus alunos todos tinham cópias das lâminas... resumo: não houve discussão nenhuma - eles já sabiam minha opinião... Outro problema é que os alunos parecem não prestar muita atenção na exposição, afinal eles têm todo o material.

A solução para esses problemas é extremamente simples: ele chama de "notas guiadas". Ou seja, ao invés de colocar as lâminas com todo o material, ou não usar lâmina nenhuma e mandar eles tomarem nota no caderno, fazer lâminas com lacunas em certos pontos críticos ou largas áreas em branco nos locais onde queremos que eles tomem nota. Isso faz com que eles aprendam pelo efeito mecânico de copiar, pelo fato de estarem atentos, e pelo fato de terem depois suas notas organizadas.

Finalmente, como a mais maravilhosa apresentação/aula expositiva não funciona isolada, ele apresentou o método TAPPS (thinking aloud paired problem solving - solução de problemas pensando alto aos pares). Não adianta o professor falar a aula inteira. Todo mundo sabe isso. Se o professor fala a aula toda, tudo o que ele consegue é ficar rouco. Os alunos não sabem nada no final do período, muito menos na aula seguinte - quem dirá para a vida toda, como se quer. O TAPPS, segundo ele, respeita os dois tipos de alunos: o introvertido, que aprende pensando quieto, e o extrovertido, que aprende falando. Então, o método dele consiste em formar duplas. Ele coloca um problema para discussão. Todos têm que ficar 2-4 minutos quietos, pensando. Então, um da dupla têm que explicar para o outro, por 4-8 minutos. Apenas um da dupla explica. O outro escuta, faz perguntas e expressa suas idéias. Ao final, fazem um fechamento. Fizemos um exercício em aula, e pareceu bem interessante.

Jogos para o Ensino de Operações e Logística

Em outra sessão, fizemos um jogo. Era uma sessão promovida pela Responsive Learning Technologies (http://www.responsive.net/), em que eles estavam apresentando um dos produtos deles. Eles têm 2 jogos, um para o ensino de produção (controle de estoques, gerenciamento da demanda, gargalos, gestão da capacidade e da utilização) e outro para o ensino de logística (relacionamento entre clientes e fornecedores). Jogamos o primeiro. Pelo que entendi, o jogo é todo configurável. Cada configuração permite aos alunos/jogadores aprender uma coisa diferente, o que é bom. Como o jogo é pela internet, o professor pode escolher se os alunos vão formar times, vão jogar individualmente, vão competir entre todos em um mesmo laboratório na universidade ou vão jogar em casa. Enfim, é bem bacana. Eles têm versões em várias línguas, mas ainda não em português. Mas se mostraram interessados. Talvez seja uma coisa interessante se uma (ou mais, por que não?) universidade brasileira contatasse essa gente para disponibilizar para seus alunos os jogos.

Éramos todos doutores ou doutorandos de produção na sala. Havia uns 20, acho. Formamos uns 6 times e competimos entre nós. Nós, que entendemos um pouco do mecanismo da produção e não estávamos "competindo" para valer, ficamos emocionados quando víamos nosso time ficar em primeiro no ranking, imagina a emoção (e o interesse) dos alunos. Achei muito bom.

Exercícios Dinâmicos

Um problema que temos agora nos tempos de editores eletrônicos de texto, emails e comunicação instantânea é o da autoria dos trabalhos. A situação é a seguinte: o professor pede um "tema de casa", como fazer os exercícios do final do capítulo do livro-texto, ou qualquer bateria de exercícios que ele tenha disponibilizado. Semana seguinte, ele recebe uma tonelada de exercícios impressos no computador, e tem que corrigir todos. Bom, esse problema é velho. O novo problema é saber se foi o aluno mesmo quem fez ou se ele apenas recebeu de um colega, mudou a formatação e entregou. A solução apresentada pelos professores Hender e Heizer é interessante. Eles são autores de um livro-texto famoso na área de operações. Eles montaram um site de apoio ao livro, onde os alunos ganham uma senha individual. O professor monta um pacote de exercícios para os alunos fazerem. Os alunos preenchem online. Cada aluno recebe um exercício personalizado (dinâmico), único. Ou seja, se alguém quiser fazer para os outros, vai ter que entrar na senha dos colegas, resolver os problemas deles... enfim, coíbe um pouco a "cola eletrônica". A outra vantagem é que, no final, o professor tem as notas de todos "passada a limpo", sem ter que corrigir nenhum trabalho em casa. Afinal, já basta o trabalho de preparar a aula... Bom, eles estão aplicando até prova dessa forma. Não há como colar, certo? No fim, as notas estão prontas para serem entregues, sem tortura no final de semana.

Pareceu bem legal, mas tem um problema. Obviamente, está só disponível em inglês. Nem o livro deles tem tradução para o português. Ficou, para mim, a idéia de fazer os exercícios dinâmicos em excel mesmo. Não parece uma coisa do outro mundo. A desvantagem é que não vou ter as notas deles passadas no caderno ao final, mas isso é outro problema.

Aliás, tudo isso fica para depois do fim do doutorado. Um amigo, durante o evento, me perguntou porque eu estava tão interessado em ensino, e não em pesquisa. Não se trata disso. Eu apenas acho que não existe nada mais gratificante do que terminar uma aula, ou um semestre, em que os alunos gostaram e aprenderam.

sábado, 24 de novembro de 2007

Consórcio Doutoral

Eu havia participado do Consórcio Doutoral do ENANPAD ano passado. O ENANPAD é o principal encontro de pesquisadores na área de administração no Brasil. Confesso que fiquei um pouco decepcionado com o que vi lá. Basicamente, o consórcio doutoral do ENANPAD reúne os doutorandos que vão apresentar seus projetos, em 20 minutos, e ouvir comentários de professores de outras universidades. Sinceramente, temos bastante esse tipo de feedback dos professores da UFRGS, não senti muita necessidade desse tipo de coisa.

Quando o Rob Klassen sugeriu que eu me inscrevesse no consórcio doutoral do DSI, o fiz com um pouco de medo. Mas como eu iria ao congresso de qualquer maneira, achei que não perderia nada. Fiquei surpreso. Acho que é um modelo a ser adotado. Como a realidade do doutorando brasileiro é um pouco diferente do americano, com algumas adaptações o consórcio doutoral brasileiro poderia trazer um retorno melhor para o aluno que nele participa.

Começou bem cedo. 7h30 da manhã, fomos esperados com um café da manhã. Às 8 começaria. Atrasou, para minha surpresa. Num primeiro momento, para ganhar tempo enquanto os painelistas não chegavam, nos apresentamos todos. Finalmente, os painelistas chegaram.

Painel de Recém-Doutores

O primeiro painel foi composto de professores recém-formados que haviam conseguido emprego. A moderadora apresentava perguntas, e cada um dos painelistas ia respondendo conforme sua experiência. Basicamente, o assunto era como começar a trabalhar como professor universitário nos Estados Unidos. Como identificar uma posição, o que dizer na entrevista, o que observar na universidade.

Cabe dizer que a vida profissional nos Estados Unidos/Canadá é bastante diferente do Brasil. Quando um doutorando está por se formar em um desses países, ele manda dezenas de cópias de seu currículo para universidades. As entrevistas ocorrem em congressos científicos (como o que eu estava participando), algumas vezes um a um, às vezes coletivamente em um quarto de hotel (os candidatos ficam espalhados pelo quarto enquanto um deles é entrevistado). Depois, se o entrevistador gostar do candidato, ele é convidado para visitar a universidade. Ele é recebido no aeroporto por um professor, em geral o coordenador da área, levado para jantar e depois para um hotel. No dia seguinte, ele passa o dia na universidade, conversando com o resto dos professores e com o diretor da unidade. Caso aprovado, a universidade assina um contrato que garante o emprego do candidato por um número de anos (de 3 a 10, em geral 6): ele entra em tenure track. Se durante esse período, o professor conseguir atingir as metas da universidade (em geral, ter publicações em periódicos científicos importantes na área), ele é tenured. Ou seja, tem emprego vitalício na universidade. Percebam então a importância da seleção nesse processo: se a universidade contratar um "banana", ele só pode ser demitido no momento da transição para a tenure, nem antes nem depois. O risco é alto.

Painel de Diretores

Os próximos a falar foram os diretores. Formaram o painel 3 diretores de universidades americanas dos mais diversos portes. Eles falaram sobre o que conversam com o candidato e o que pesa no processo decisório deles, na hora de recomendar ou não a contratação do professor. Foi bom para ver "o outro lado do balcão". Esses dois primeiros painéis não me afetaram diretamente, embora eu tenha curiosidade (como tenho por tudo) pelo processo de contratação de professores nos Estados Unidos. Mas a real aprendizagem prática, para mim, aconteceu a seguir.

Painel de Editores

O próximo painel foi o dos editores de periódicos científicos. O Brasil já foi mais provinciano, no sentido que não nos preocupávamos muito com inserção internacional. Hoje, as universidades são avaliadas pela publicação científica de seus professores, e as publicações internacionais pesam muito mais. Obviamente, a coisa reflui pelas camadas mais baixas: as universidades pressionam/estimulam (depende do ponto de vista...) os professores a publicarem. Além disso, publicação também é avaliada na hora de conceder verbas para projetos de pesquisa.

Em resumo, é vital para a carreira de um professor universitário brasileiro ter publicações internacionais. E estar ali ouvindo os editores de algumas das revistas mais importantes da minha área é uma oportunidade única. Por exemplo, fiquei sabendo nesse painel que mais de 40% dos artigos submetidos sofre "desk rejection", ou seja, são tão inapropriados em termos de conteúdo, gramática ou método que são rejeitados pelo próprio editor, sem ir para os revisores. No caso do Decision Science, apenas 6-7% dos artigos submetidos é aprovado para publicação. Mais fácil "acertar" na roleta russa (17% de chance), portanto, do que ter um artigo aprovado. Por outro lado, eles pesquisaram o padrão de publicações do periódico e verificaram que quem tem um artigo aprovado tem 25% de ter outro aprovado depois. Ou seja, há um aprendizado do processo. Já para professores novos (leia-se recém-doutores), as chances caem para 1.5%. Recomendação deles: voluntariar-se para ser revisor de artigos. O revisor é um especialista, voluntário, que lê anonimamente os artigos enviados para um periódico e recomenda ou não a sua publicação. O revisor, de tanto ler artigos, acaba "pegando o jeito" da coisa.

Fui procurar o editor-chefe do Decision Sciences e perguntar para ele como superar a barreira do idioma. Convenhamos: por melhor que seja o inglês de um estrangeiro, ele nunca é igual ao de um falante nativo. Ele me deu duas recomendações: contratar um editor profissional, que corrija o inglês do artigo, e/ou escrever em co-autoria com falantes nativos do inglês.

Planejamento Estratégico de Pesquisa

Na próxima sessão, nos dividimos em pequenas mesas redondas. Eram 4 doutorandos e 2 doutores, e discutíamos nossos projetos de pesquisa, e como fazer com que esse projeto persista por 5 anos. Só para lembrar: o processo de tenure gira em torno de 5 anos, e ficar mudando de assunto durante esse período pode tirar a chance de obter as publicações que o recém-formado precisa para ser aprovado na avaliação.

Na verdade, essa sessão foi um pouco inútil para mim do ponto de vista de conteúdo. Nosso processo no Brasil é diferente. Mas tive a sorte de sentar na mesa com o editor do periódico mais importante de minha área, e consegui entender um pouco o processo de raciocínio dele. Isso não garante nada, óbvio. Mas melhor do que tatear no escuro.

Técnicas de Ensino

Por último, tivemos uma sessão de técnicas de ensino. Essa foi tão empolgante que vou colocar em um post separado.

Sofia na casa dos avós

Minha filha foi passar o final de semana na casa dos avós. Isso significa que posso vê-la no Skype! Falamos bastante, até, considerando nosso padrão. Em geral, nossas conversas por telefone são de 5-10 minutos, quase só oi e tchau.

Dessa vez, nos esbaldamos de tanto conversar. Ela me contou que está com saudades minhas - ufa, ainda bem. Ainda hoje eu estava ouvindo Elvis Presley (You are always on my mind) e pensando: "tell me that your sweet love hasn't died". Às vezes, ficar longe é bem ruim. Também tenho uma certa dificuldade de achá-la em casa. Agora então, com essa diferença de fuso horário, quando chego a pensar em ligar para ela, já é tarde. Quando estava nos Estados Unidos, tentei ligar para ela, mas me confundi com o fuso e acabei tocando o telefone da casa dela e da mãe dela às 11 da noite. Não foi uma conversa muito produtiva, uma vez que a menina estava quase dormindo em pé...

Fui apresentado também à minha mais nova neta: a Kelly. Tenho tantas netas e netos... Umas de pano, como é o caso da Kelly, uma outra tonelada de pelúcia, e umas tantas de plástico. Considerando que ela tem bonecas de marcas famosas também, algumas delas podem também serem feitas de chumbo... pelo menos na tinta.




Enfim, uma noite agitada, mas feliz, para um pai distante.

Crianças no Inverno

Começou a nevar e nós estamos encantados. Não propriamente com o frio. Isso não tem a menor graça. Mas a neve... fica tudo tão bonito com ela. Parecemos duas crianças, encantadas com a neve. Até bolas de neve já fizemos aqui na Gelolândia.

Além do aspecto lúdico, a neve provê cenas lindas. A foto ao lado eu tirei na universidade, ao lado do prédio da escola de administração. À esquerda, se vê o estacionamento de bicicletas, onde eu "ancorava" a minha. Agora ela está no porão, esperando para ser vendida. Não me animo a andar de bicicleta nesse clima. Achei que tentaria, porque os ônibus de London não são a copa do mundo, mas mudei rapidamente de idéia no primeiro dia que deu uma "gelada" por aqui e eu cheguei na universidade pensando que meu rosto iria se despegar do resto do corpo, de tão gelado. Mas os canadenses são mais acostumados que eu com o clima deles e seguem indo com suas bicicletas até a universidade...

Mu-Mu!

Conheci uma vez um cara que fez uma consultoria de Marketing para a Mu-Mu. Conclusão da pesquisa deles: a marca estava envelhecendo. Ou seja, os mais novos não associavam a marca "Mu-Mu" ao doce de leite.

Para nós, os gaúchos um pouco mais velhos, Mu-Mu significa a melhor coisa da infância. Significa ganhar aquele saquinho do pai ou da mãe na saída do armazém, furar com o dente e sair chupando rua a fora.

A Nara conta que a avó dela fazia doce de leite quando eram pequenos e ela adorava quando ouvia a frase "a vó fez mu-mu!". O "Miguelzinho", irmão dela, também. Talvez por isso ele seja pequenino assim até hoje.

Desde que estamos no Canadá, estamos sem "mu-mu". Os pobrezinhos não sabem o que é doce de leite. Não tem (tinha) para vender em lugar nenhum. Com esse leite maravilhoso que eles produzem aqui, "desperdiçam" tudo fazendo essas melecas para colocar no café...

Essa semana, a Nara viu um anúncio na TV de que o Loblaws (a rede de supermercados "toda poderosa" do Canadá) havia importado um lote de "dulce de leche" argentino. Pô! Tivemos que ir lá comprar! Eles são potes de tamanho "sub-canadense" (todas as embalagens aqui são enormes). Talvez eles estejam fazendo embalagens pequenas para as pessoas poderem experimentar. Eu já queria botar uns 3 potes no carrinho. Mas a Nara, mais ponderada, decidiu "experimentar" e levar só um. Considerando as surpresas (em geral, negativas) que tivemos com as comidas daqui, achei prudente. Mais tarde, em casa, me arrependi. Vamos ter que voltar lá, nesse frio, para pegar mais uns, antes que acabe! Doce de leite argentino do bom (sem trocadilho).

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Mostardeiros na Austrália

Ontem falei com minha irmã pelo Skype. Ela, o filho e o marido estão na Austrália. Meu cunhado está fazendo doutorado lá.

Ela me contou a incrível experiência de fazer quase 24h de avião com uma criança com menos de um ano. Acho que ela se saiu bem, considerando que não é uma tarefa fácil. Mas todas as tarefas difíceis ficam um pouco mais fáceis com um pouco de planejamento e jeitinho.

Ela planejou bastante essa viagem. E isso se percebe por trechos da fala dela, por exemplo, em que ela diz que tinha evitado o desconforto nos ouvidos do Lorenzo fazendo ele deglutir durante a decolagem. Quem já passou por situações de troca de pressão, como vôos e mergulho com equipamento, sabe que os ouvidos podem incomodar, caso não se faça a descompressão. No caso do Lorenzo, acho que fica um pouco complicado dizer para ele: "fecha o nariz e sopra"... Enfim, dar de mamá para a criança foi uma boa jogada, e demonstra que ela já foi esperando isso.

Mas jeitinho também ajuda. Ela foi bem esperta conseguindo um espaço extra para levar as coisas do menino. Estranhamente, o Lorenzo não teve direito a franquia de bagagens. Então ela teve que levar as coisas dela e dele em uma única franquia (2 bagagens de 32kg cada mais uma bagagem de mão de 10kg). Daí ela "chorou as pitangas" para conseguir levar as coisas dele em uma bolsa separada... e levou. Ou seja, como sempre, tem as regras e o jeitinho. Aliás, estava vendo o currículo da orientadora do meu cunhado e a pesquisa dela é sobre o jeitinho brasileiro... taí um caso interessante.

Bom, agora chega de coisas sérias e vamos ao "corujismo". O Lorenzo estava, ainda no Brasil, "caminhando" com o auxílio de móveis e outros objetos da casa. Embora fascinado por furungar em armários e puxar o papel higiênico e ver desenrolar (deve ser divertido! vou tentar aqui em casa!), nada mais fascinante do que caminhar, certo? Ele ganhou do pai dele um carrinho (foto à esquerda), que funciona como "andador", que ele sai a empurrar pela casa.



Mas o legal mesmo é ver ele encenando "o pintinho amarelinho". O menino, além de bonito, é um artista. Vai dar trabalho para a mãe dele quando começar a ir para a escolinha na Austrália. Será que os australianos são "durinhos" como os outros anglo-saxônicos? Vai ser muito engraçado se esse menino loiro e de olhos azuis, com sotaque de australiano, tiver um molejo latino. O tempo dirá.

Falando em tempo, temos algumas horas de diferença para a Austrália. Assim, para evitar de ligar para eles no meio da madrugada, coloquei em nosso blog (barra da direita) também o relógio com o horário de Sydney.

Minha janta de recepção

Fui recebido com janta. Não, eu não almoçara, como a Nara imaginara (o pretérito mais que perfeito não é para rimar com o nome dela, e sim para descrever a janta: mais que perfeita!).

Aliás, os vôos da Northwest Airlines, além de desconfortáveis, não oferecem comida de tipo algum. Na verdade, vendem. Sim, a vítima, além de ter de ir apertado no meio dos norte-americanos grandões, ainda tem que pagar 2 dólares se quiser "snacks". Vem uma caixinha de papelão com biscoito salgado e outras porcarias. Um dos meus "vizinhos" de assento comprou um desses maravilhosos lanches e pude observar estarrecido. Lembro que quando a GOL começou, todo mundo gozava de quem viajava por ela perguntando "Comeu uma barrinha de cereais, então?". Barrinha de cereais de graça aqui é luxo...

Cheguei aqui em London por volta das 7 da noite, morto de cansado. O avião havia atrasado para decolar em Detroit, por causa do mau tempo. De volta ao clima ameno do norte do mundo...

Phoenix fica no meio do deserto no Arizona, um lugar tão seco que não tem grama nas calçadas, só brita. No hotel tinha grama, mas eles tinham que gastar uma tonelada (muitas toneladas) de água para manter ela verdinha. Achei legal, embora tivesse sempre a pele esturricada de tão seca. Mas aquele calorzinho e o sol... Poder ficar na rua é uma coisa maravilhosa! Acho que a pior coisa do clima do Canadá é ter de ficar encerrado dentro de casa, sem poder sair... Sinto falta de poder sair no meu pátio e caminhar na grama...

De volta à minha rotina, estou atolado até o pescoço de coisas para fazer. Queria fazer 2 posts sobre o congresso. Um sobre o consórcio doutoral, porque acho que foi a melhor coisa do congresso, e outro sobre minha apresentação. Mas fica para outro dia... Hoje foi dose para mamute!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Esperando o Iuri

Hoje o Iuri chega de Phoenix e eu estou preparando uma janta - imagino que ele esteja sem almoço, ou tenha comido aquelas coisas que servem nos aviões. Ele saiu de Phoenix pelas 10 horas (local). Aqui em London eram 12 horas.
Estou preparando salada de batatas, arroz e uma carne que vai ser assada no forno do fogão (com sal grosso - para matar um pouco a saudade do nosso Rio Grande do Sul).
Ah, não esqueci da sobremesa: a internacionalmente famosa torta de bolachas. (risos)
E, para aumentar a inspiração, estou ouvindo músicas da Ciranda Musical Teuto-riograndense: "Canta tua aldeia, canta teu Rio Grande, estrada à fora..."

domingo, 18 de novembro de 2007

Waterloo Conference on Social Entrepreneurship

Sexta-feira, às 14h30min (horário local de London - ON), a Daina - doutoranda da Ivey Business School - me apanhou aqui em casa para irmos a Waterloo. A neve parara de cair, mas estava muuuito frio - mesmo para uma gaúcha - risos.

A viagem foi ótima, nós conversamos bastante e nos divertimos muito porque o carro dela estava com problemas no reservatório de água que molha o pára-brisa. Por causa desse problema, de tempos em tempos, a Daina precisava abrir o vidro do carro e jogar água mineral - de garrafinha - no pára-brisa. E o Iuri vem falar da classe econômica dos aviões - hehehe. Brincadeiras à parte, a viagem transcorreu muito tranqüila e chegamos em Waterloo pelas 16 horas. A Daina me deixou no hotel, fiz o check in, liguei meu laptop para ver meus e-mails, mas quem disse que o malvado conseguiu se conectar ao wireless do hotel? Quase me faltou ar, mas eu tentei permanecer tranqüila, afinal, seriam só dois dias sem internet (que horror! - risos). A gente se acostuma com essas tecnologias...

Pelas 17h30min eu já estava pronta para ir para a Universidade de Waterloo e assistir à primeira apresentação, que iniciaria às 18horas. A recepcionista do hotel chamou um táxi e ele chegou em poucos minutos, Estava nevando, estava escuro e eu pensei: "Eu quero a minha mãe!"

Chegamos à universidade, vários prédios, tudo muito grande e bonito, mas nem eu, nem o motorista sabíamos onde era o tal prédio EIT. Ele me deixou na frente do EIS e eu entrei rapidamente, fugindo do frio e da neve. Tinha um laboratório e uma moça muito simpática dentro dele. Perguntei a ela onde era o prédio EIT e ela disse: "fica a uns dois blocos daqui." Imprimiu um mapa da universidade e, mesmo assim, estava complicado de entender onde ficava o tal prédio. Estava escuro e aquela nevezinha continuava caindo. Então ela decidiu ir comigo até lá. A menina era um anjo de olhos puxadinhos.

Cheguei no local certo, tirei meu casaco, touca e luvas - claro que estava um calorão lá dentro - e me dirigi à recepção. Recebi minha pastinha com crachá e outras coisinhas comuns em conferências. Procurei a mesa dos refreshments e só tinha sobrado uns pedacinhos de couve-flor, cenouras e aqueles molhos brancos que se costuma comer por aqui. Engoli alguma coisa rapidamente enquanto uma senhora muito querida se aproximou de mim e começou a me fazer perguntas: "De onde você é? O que a trouxe aqui?" E eu tentando falar e comer ao mesmo tempo porque já estavam chamando para a palestra de abertura.
Sentamos juntas, eu e a Sandra (a simpática senhora), e ficamos ambas impressionadas com a idade dos organizadores do evento. O presidente da conferência, Andrew Dilts, deve ter uns 24 ou 25 anos e todo o restante do grupo deve ter essa idade ou menos. Andrew é o rapaz de colete preto e camisa branca que está apresentando sua equipe - foto à direita.

Assistimos a palestra de um engenheiro, fundador de uma organização denominada: Engineers without borders - "Engenheiros sem fronteiras", que visa prestar assessoria voluntária a comunidades carentes de países pobres. Gostei muito da palestra - foi a primeira vez que ouvi um engenheiro falar que é preciso AMOR para ter sucesso - risos.

Às 19h45min, eu estava voltando para o hotel e meu estômago gritava comigo, reclamando daqueles pedacinhos de couve-flor e dizendo que queria mais do que aquilo. Pedi ao motorista para me deixar num restaurante que eu tinha visto na frente do hotel. E tive um jantar fabuloso: vitela à parmeggiana com macarrão e molho à bolognesa, salada mista e torta de maçã de sobremesa.

Voltei para o hotel e, para minha felicidade, o Iuri me ligou para dar notícias - lembrem que eu estava sem internet. :-)

Sábado de manhã, meu relógio despertou às 7h30min, eu me arrumei e fui para a recepção esperar o meu táxi. Estava nevando e estava frio. Fomos para a universidade e tivemos que procurar o prédio porque eles tinham programação em locais diferentes para dias diferentes - conhecendo a universidade de Waterloo - risos. Pergunta daqui, pergunta dali e descobrimos onde era o prédio. Só que o motorista me deixou num estacionamento - na rua - e eu tive que subir uma escadaria, procurando algum sinal que indicasse onde era o tal prédio. Felizmente, os organizadores tinham colocado algumas setas indicando a conferência, em postes e paredes do prédio. E aquele nevezinha insistindo...

Dessa vez tinha café, água, uns bolinhos e biscoitos. (Esqueci de mencionar que meu hotel não oferecia café da manhã).

Minha amiga Daina chegou e assistimos as palestras do dia. As palestras de sábado foram muito interessantes e apresentaram histórias de sucesso em empreendedorismo social, trabalho colaborativo (wikipedia e outros), e sugestões de como encontrar bons patrocinadores para projetos sociais.

À noite tivemos um gostosíssimo jantar e pudemos assistir a uma apresentaçao sobre projetos de sucesso em países como Índia, África e Brasil, que visam reduzir os efeitos da pobreza. O programa brasileiro apresentado é de inclusão digital nas favelas cariocas. À esquerda, uma foto do salão de jantar e minhas companheiras de mesa.

Voltei para o hotel pelas 20h30min, liguei o computador na frente de um espelho, abri meu Power Point e treinei duas vezes minha apresentação (na primeira vez eu gastei 20 minutos e na segunda, consegui atingir a marca dos 15 minutos exigidos pelos organizadores da conferência). Fui dormir pelas 22h15min e aí o Iuri me ligou - em Phoenix eram 20h15min. Bem, é claro que eu dormi melhor depois de falar com ele. :-)

Domingo as apresentações começavam mais tarde, então eu pude dormir até às 8h30min, fiz o check out no hotel e tomei o táxi para a outra universidade de Waterloo: a Wilfrid Laurier University, no prédio da faculdade de Administração e Economia. Vocês acham que o motorista sabia onde era o prédio da Administração? Se responderam não, acertaram. Ficamos dando voltas no complexo da universidade até encontrarmos uma moça que nos informou que teríamos que sair do complexo e dar a volta na quadra. É incrível como os taxistas não conhecem o interior das universidades em Waterloo!

Das 10 h às 10h50min, tivemos mesas redondas e eu escolhi participar da mesa que tratava de liderança comunitária. Conheci o sr. Dave Howlett, que faria a palestra das 11 h ao meio dia e conversamos um pouco. Contei sobre o projeto DRS/Taquara e ele achou muito interessante. Pediu meu cartão e disse que iria entregá-lo para sua esposa que estuda o tema: mulheres assumindo cargos executivos... Interessante.

A palestra do sr. Dave foi sobre Networking e empolgou os assistentes.
Depois do almoço, foi a vez das apresentações das pesquisas - éramos três: eu, um indiano e um canadense. Eu pedi para falar primeiro e os cavalheiros, gentilmente, aceitaram. Tinha mais de 20 pessoas assistindo nossas apresentações e eu contei a história do DRS/Taquara - um programa que visa o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva do leite na minha cidade. As pessoas gostaram muito, disseram que é um projeto fascinante, fizeram perguntas e sugestões. Depois foi a vez dos outros dois artigos selecionados. O mais interessante é que as três apresentações estavam relacionadas à agricultura: meu trabalho era sobre o programa de desenvolvimento sustentável na produção do leite, o indiano falou sobre a produção de manga na Índia e o canadense apresentou um trabalho sobre geração de energias alternativas e outros processos sustentáveis utilizados nas fazendas canadenses. (Ambos são doutorandos da universidade de Guelf, em Ontário)

A última palestra que assisti foi sobre boa governança, às 15h30min. Depois dessa palestra, a Daina e eu tomamos o rumo de volta para London. Tive um importante feedback da Daina: ela me perguntou se poderia sugerir para a professora Tima Bansal, que eu apresente meu estudo num dos nossos encontros quinzenais sobre sustentabilidade na Ivey. Isso me deixou muito feliz!

Mais fotos da conferência estão no webalbum:
http://picasaweb.google.ca/naram.muller/ConferNciaDeWaterloo

sábado, 17 de novembro de 2007

DSI 2007

Estou em Phoenix, Arizona, para o encontro anual do Decision Sciences Institute. Vou apresentar aqui os resultados preliminares da minha pesquisa. Pelo que deu para ver ontem, temos "empate técnico" - metade são pesquisadores na área de Sistemas de Informações e metade, Gestão de Operações e Logística. Muitos alunos de doutorado vem para cá para procurar emprego, e vou falar mais calmamente sobre isso em outro post. Não é meu caso: todos sabem que assinei um termo de compromisso com o CNPq e tenho que voltar para o Brasil. Isso, por um lado, me deixa menos estressado, e posso ver a competição de fora (e até me divertir um pouco com ela).

São duas horas de diferenca daqui para London, Ontário. Chegamos aqui no hotel 2h30, hora local, e nosso quarto não estava pronto. Então eu e o Manpreet, meu colega, fomos a um Mall próximo e comemos uma pizza (estávamos sem almoço) e compramos agua e comida para armazenar na geladeira do hotel. Para minha surpresa, encontrei uma pizza de batata! Se fosse na Alemanha, ou em Igrejinha, vá lá comer kartofelnpizza, mas nos Estados Unidos... Tive que experimentar e tirar uma foto. Era bem gostosa, pena que peguei um pedaço com muito alho no final da fatia e fiquei com refluxo umas boas 2 horas...

À noite, fui à recepção do Consórcio Doutoral. Conto depois como é o tal de consórcio. Mas ontem havia uma recepção informal, com vinho e "light snacks". O pessoal é bem bacana. Como disse, só tem gente de operações e sistemas. Da janela, dava para ver uma janta ocorrendo lá embaixo, de um outro evento do hotel. Muito bonito. Mas eu comi meia lata de atum, porque nao tinha mais como sair. Meus pés estavam me matando, de ficar tanto tempo em pé ou sentado na classe econômica do avião. Vamos acertar: classe econômica! Que nome sutil para 3a classe... De qualquer maneira, hoje o dia é todo voltado para o Consórcio Doutoral, e assim que conseguir um tempo, passo mais informações.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A neve do dia 16 de novembro

Hoje, às 5 horas da manhã, quando o Iuri se preparava para ir ao aeroporto, eu dei uma olhada pela janela e exlamei: "Uau! Está tudo coberto de neve!" Estava nevando bastante quando o táxi apanhou o Iuri para levá-lo ao aeroporto. Tirei uma foto às 5h20min. Não ficou muito boa, mas dá para ter uma idéia.
Voltei a dormir e, lá pelas 9h30,
eu tirei outras fotos. A temperatura agora é de - 1 grau C, mas a tendência é de melhorar. Aqui no Canadá parece que vai para 0 (zero) grau pelo meio dia, e depois desce um pouco, ao anoitecer. Para amanhã, a previsão é de nublado, com possibilidades de floquinhos de neve e as temperaturas deverão girar entre - 3 e + 4 graus C.
Já em Phoenix, no Arizona, a previsão do tempo é de muuuuito calor.
Seguem mais fotos:

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Conferências

O Iuri e eu estamos nos preparando para irmos a duas conferências amanhã. Ele vai para o Decision Science, em Phoenix, Arizona, nos Estados Unidos e eu vou para Social Entrepreunership Conference of Waterloo, Ontário, no Canadá.
Começamos a fazer as malas e decidimos olhar a previsão do tempo em cada um desses lugares.
O Iuri precisa estar no aeroporto às 6 horas da manhã e, pela previsão do tempo, vai estar nevando aqui em London. Em Waterloo também deve nevar durante o fim de semana. Já para Phoenix, a previsão é de sol com temperaturas de 28 graus centígrados.
Ou seja, enquanto eu levo casacões, mantas e blusões de lã, o Iuri leva camisas leves, bermudas e chinelos de dedos. Good for him.

Exames na Ivey Business School

Hoje, 15 de novembro, foi meu primeiro dia de trabalho aqui no Canadá. No Brasil é feriado: dia da Proclamação da República, mas aqui no Canadá, como brincou meu irmão, não tem 15 de novembro (risos).
Eu já falei em outro post, que tinha conseguido um número de seguro social canadense, que me permitiria exercer um trabalho remunerado, desde que seja na universidade - afinal de contas, tenho visto de estudante.
O nome do cargo é proctor ou fiscal de exame e minha primeira atuação foi hoje, das 7h15min às 9h30min. O Iuri e eu tomamos o ônibus número dois, às 6h45min, ainda estava escuro e chuviscava um pouco, mas não estava muito frio (felizmente).
Este ano, a Ivey School está inovando seu sistema de exames e, a maioria deles, é respondido através de um canal interno de internet, denominado eZone. Hoje, porém, os exames foram respondidos em papel, mesmo assim, todos os alunos tinham seus laptops ligados e os utilizaram como fonte de pesquisa (a prova foi com consulta aos próprios materiais).
Como as turmas são de, em média, 75 alunos, para os exames, as turmas são distribuídas em diferentes salas. Daí a necessidade da contratação dos proctors. Esses proctors precisam levar seus laptops, que ficam conectados na web para manter contato, por email, com o fiscal chefe e com o professor da turma. O professor fica circulando pelas salas para esclarecer dúvidas dos alunos.
Tudo funcionaou bem hoje, vamos ver como vão ser os próximos exames, nos dias 4, 10 e 11 de dezembro - dessa vez, on line...

9 1/2 semanas...

Em 1986 (ou era 1987), vi no cinema o filme 9 1/2 semanas de amor... Cada vez mais, dizer coisas assim me faz sentir mais velho. Seria como dizer "fui na pré-estréia do Cidadão Kane (1941)".

Era uma história interessante, mas com um final trágico. No fim do filme, a moça descobre que o misterioso rapaz que a havia conquistado era, na verdade, um profissional especializado em conquistar moças, e vender as filmagens de suas cenas íntimas para a indústria pornográfica. Enfim, mais uma obra da paranóia cinematográfica, que vai desde essas coisas mais mundanas até os filmes de terrorismo e espionagem. A moral da história, em todas essas histórias, é que não deve se confiar em ninguém.

Felizmente, a vida não é bem assim. Talvez não vendesse tanto ingresso se virassem filmes, mas as histórias de (quase) todos nós tem mais de confiança, amizade e otimismo do que de traição, maldades e sofrimento.

Faltam hoje 9 1/2 semanas para irmos embora para casa. Ainda tem muita coisa a fazer nesse tempo. Às vezes, nem parece que falta tanto tempo e tem tanto a fazer. Mas é isso mesmo.

Sexta-feira (daqui a 2 dias) vou aos Estados Unidos (Phoenix, no Arizona), apresentar os resultados preliminares da minha pesquisa aqui. Dizia aquela propaganda antiga de cigarro (pô, outra velharia: sou do tempo que tinha propaganda de cigarro no Brasil), os homens se encontram no Arizona. Pois é: para economizar, vou ficar em um apartamento com mais 2 colegas. Parece que pediram uma cama extra. Espero que sim... Não quero voltar de lá falado!

Quando voltar, sigo firme na coleta de dados. Ainda não chegamos na quantidade de informações necessárias para fazer uma boa análise, então temos ainda que ligar para as empresas, convencer gerentes a responder, enfim, todas essas coisas "divertidas" que tem que se fazer para fazer pesquisa com questionários. Cada vez mais pessoas fazem pós-graduação, especialmente doutorado, e tem cada vez mais doutores que precisam pesquisar. Então, as empresas cada vez mais recebem questionários, e os gestores estão cheios de respondê-los ("Tenho vários aqui para responder, não vou responder esse" - disse outro dia desses um ex-possível respondente). Resultado: taxas de resposta declinantes em todos os lugares do globo. Eu estava explicando para o Eddie (marido da Zulma, que tem uma fazenda de produção de leite) mais ou menos assim: imagina que recolhes uma amostra do teu terreno para fazer análises (para determinar correção do solo, adubação, etc.). Se tenho poucas respostas, é como coletar terra apenas de uma parte da propriedade: não há como saber se as informações são representativas da propriedade inteira ou apenas de um pedaço, e errar a análise para todo o resto.

Depois ainda tenho de fazer umas análises desses dados. Essa parte até acho divertida. Tenho uns colegas que chamam "tortura de dados": vai batendo neles até que eles confessem alguma coisa. As vendas não seguem uma distribuição normal? Tira o logaritmo e vê no que dá... e assim vai indo. Tenho uma visão mais lúdica: gosto de brincar com os números. "É brincando que se dizem as grandes verdades" - diz o ditado.

Finalmente, ainda vou produzir um relatório para as empresas que responderam ao questionário. Tem ainda que sobrar tempo para comer, dormir e namorar a Nara... serão 9 1/2 semanas de muito, mas muito amor mesmo. Sim, porque ela tem que me amar muito para me agüentar. Fico impossível quando tenho que fazer esse monte de coisas em tão pouco tempo.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Negociações em Toronto

Desde que eu estive em Woodstock, em setembro passado, tenho mantido contato com a Carol Anne, da LHO (Ontario Large Herd Operators), para intermediar a visita técnica ao Brasil, de uma delegação de fazendeiros de leite ligados a essa organização.
Durante as palestras sobre sucessão familiar nas fazendas de leite, em Woodstock, o mestre de cerimônias anunciou que o grupo estava planejando uma visita à América do Sul para 2008, incluindo o Brasil.
Como eles ainda não tinham um roteiro definido, tratei de fazer contatos com alguns brasileiros que, na minha opinião, poderiam ajudar. Mandei alguns e-mails e obtive resposta da Manuela Gama, da Láctea Brasil, de São Paulo.
A LácteaBrasil é uma ONG que visa divulgar o leite e seus derivados a fim de aumentar o consumo e as vendas desses alimentos. http://www.lacteabrasil.org.br/
A Manuela imediatamente me informou o endereço eletrônico de outra brasileira: a Leila Gomes, que é assessora de comunicação da cooperativa Castrolanda, de Castro - Paraná.
A Castrolanda é a organizadora de uma importante feira brasileira de laticínios: a Agroleite, realizada em agosto, no Paraná.
O mais interessante é que as duas: Manuela e Leila estavam se preparando para acompanhar uma delegação brasileira com mais 51 pessoas em uma viagem para o Canadá. A delegação viria para visitar duas importantes feiras: uma em Montreal - Quebec e outra em Toronto - Ontário.
A Royal Agriculture Winter Fair de Toronto elas visitariam entre os dias 7 e 10 de outubro. E lá fui eu, de maleta e sem cuia, para Toronto, no dia 8 para encontrá-las no dia 9.
Saí de London às 10h30min, estava frio (entre 2 e 3 graus C) e chuviscando um pouco. Quem leu meu post anterior, sabe que tinha nevado uns 6 floquinhos no dia anterior - risos.
No caminho para Toronto, entre Ingersoll e Waterloo, enfrentamos uma tempestade de neve e os campos, árvores, telhados e carros estavam branquinhos, acho que nevara a noite toda naquela região.
Minha máquina fotográfica estava na frasqueira no compartimento interno de bagagem, mas o acesso estava meio difícil, então pensei: "vou ficar quietinha só olhando a paisagem e tiro as fotos em Toronto" - imaginei como a Manuela estaria feliz por realizar seu sonho de ver neve de verdade! Engano meu, em Toronto o clima estava igual a London, frio e chuviscando (chuva, não neve).
Good for me (heheehe).
Fiquei na casa dos amigos Júnior e Sheila e, sexta-feira de manhã, fui visitar a Royal Fair. Tinha marcado encontro com as brasileiras para às 14 horas, no hotel onde estavam hospedadas.

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Sobre a feira:

A feira estava bonita, totalmente indoor (dentro do centro de exibições de Toronto) devido à época do ano em que se realiza. Normalmente, já deveria estar nevando muuuuito nessa época, mas, felizmente, não está.
Confesso que me decepcionei um pouco, pois a propaganda mostrava uma das maiores feiras do mundo. Eu até me atreveria a dizer que a Expointer é mais bonita...

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Encontro com as brasileiras:

Nós não nos conhecíamos pessoalmente, então eu fiz uma breve auto-descrição e disse que estaria com um casacão marrom com capuz de pelinhos...
Cheguei um pouco antes das duas horas e fiquei esperando no saguão do hotel. Aivstei duas moças chegando no hotel e elas logo me identificaram (descrição perfeita). Ufa!!! pude tirar o casacão - estava morrendo de calor, pois todos os ambientes internos são climatizados.
A Manuela não estava se sentindo muito bem e foi para o quarto e eu fiquei conversando com a Leila por uma hora e meia.
Tudo acertado entre nós duas: ela tem o ambiente perfeito para receber os fazendeiros canadenses. Só falta convencê-los disso. (risos) Muitos fazendeiros aqui de Ontário são de origem holandesa e a região de Castrolanda, no interior de Castro também é uma colônia holandesa.
Passei essas informações para a Carol Anne, da LHO, e estou aguardando o resultado da reunião do comitê organizador da viagem à América do Sul.

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Contatos na Austrália:

Depois de nos despedirmos, a Leila subiu para seu quarto e eu fiquei vestindo meu casacão marrom para enfrentar o frio e o chuvesqueiro da rua. Eu tinha deixado a bolsa, frasqueira e casaco sobre uma mesinha ao lado do sofá e, quando fui apanhá-las, uma senhora muito simpática, que estava sentada ao lado de sua filha, me perguntou se eu falava inglês (provavelmente me ouvira falando em português com a Leila). Respondi que sim e ela tratou de perguntar se eu tinha ido à feira, o que tinha achado e tal... Ela tinha um estranho sotaque (olha quem falando - risos) e eu perguntei de onde ela era: "Austrália" - respondeu ela, toda sorridente. Conversamos um tempo, ela me disse que ela e o marido têm uma fazenda de leite em Melbourne. Eu contei a ela que meu cunhado está fazendo doutorado em Sidney e que minha cunhada e sobrinho estão indo para lá nos próximos dias. Trocamos cartões de visita e ela disse: "Se você tiver alguma dúvida sobre fazendas de leite, manda um e-mail que nós responderemos".
Se o Iuri e eu formos visitar nossos parentes (irmã, cunhado e sobrinho dele) na Austrália, já tenho uma fazenda de leite para conhecer lá.

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A volta para casa: (um fato engraçado)

Dessa vez eu fui sozinha para Toronto, pois o Iuri anda ocupadíssimo com a compilação e análise dos dados da sua pesquisa. Mas ele me deu um ticket de metrô que tinha sobrado de sua ida à Toronto, em junho, para um seminário na Universidade de York.
Perto do hotel onde as meninas estavam hospedadas havia uma estação do metrô e eu desci as escadas rapidamente e me informei no terminal, qual a direção que deveria tomar para ir até o terminal de ônibus. Mapa na mão, eu apontava e dizia que queria ir até esse terminal.
Um senhor me disse para descer as escadas, "logo ali à esquerda" e que lá em baixo, eu veria um sinal indicando o caminho para o terminal de ônibus. Cheguei lá em baixo e logo vi uma porta de vidro com o sinal indicando o caminho para o terminal de ônibus. Atravessei a porta e não vi nenhum trilho de metrô - eu pensava que iria de metrô até o terminal de ônibus - mas só via lojas, cafeterias, bancos, etc. Me dei conta que eu estava na parte subterrânea de Toronto, onde todas as lojas da superfície têm suas extensões. Voltei um trecho e avistei outro terminal do metrô. Atordoada, perguntei ao vendedor de tickets, qual o metrô que eu deveria tomar para ir ao terminal de ônibus. Meio irritado, ele me disse: "Vá caminhando, são somente duas quadras"...
Envergonhada, eu agradeci e segui as placas por dentro da cidade subterrânea. Aproveitei para fazer um lanche e subi as escadas, entrando diretamente no terminal de ônibus. Trouxe de volta o ticket do metrô. Acho que vou levá-lo de recordação para o Brasil.
Minha passagem era para as 19h20, mas consegui antecipar para 16h30 e o ônibus estava quase saindo quando eu entrei. Tirei umas fotos de Toronto, de dentro do ônibus. Acho que só volto para Toronto para tomar o avião de volta ao Brasil, em 18 de janeiro.

Fotos dessa viagem de negócios a Toronto estão em:

http://picasaweb.google.com/naram.muller/RoyalFairEmToronto

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Primeiros floquinhos de neve

Ontem, terça-feira, foi um dia chuvoso e com vento e, por alguns segundos, até caíram uns 6 floquinhos de neve (risos).

Hoje de manhã, quando levantamos às 7h30min, o Iuri se arrumava para ir para a universidade, enquanto eu preparava o café. Resolvi abrir a persiana para ver como estava o tempo lá fora (aqui dentro estava uns 20 graus centígrados) e fiquei impressionada: estavam caindo floquinhos de neve, e os carros no estacionamento já estavam começando a acumular neve. Chamei o Iuri para ver e fui tirar umas fotos do telhadinho do nosso prédio, que cobre o andar térreo e podemos ver através da janela do nosso escritório (foto à esquerda). Também fotografei a famosa casa do outro lado da rua, que em março, estava coberta de neve (foto à direita). Pelas 10h30min da manhã, o sol já brigava com os floquinhos, que insistiam em cair, mas eram derretidos ao atingir o solo. A temperatura atual é 2 graus centígrados (na rua) e a previsão é de chuvas finas à tarde, sem neve. Segundo a previsão do tempo, amanhã de manhã pode continuar nevando levemente e a temperatura deve ser de -1 grau centígrado, como foi hoje cedo.

E amanhã eu vou de ônibus para Toronto a fim de encontrar uma delegação brasileira (relacionada à cadeia produtiva do leite, é claro) e visitar a Feira de Agricultura de Inverno - Royal Agriculture Winter Fair - http://www.royalfair.org/ - que está sendo realizada naquela cidade.
A Manuela, da Lácteabrasil - São Paulo, que faz parte da delegação brasileira me disse que nunca vira neve e que estava torcendo para nevar durante sua estada no Canadá. Sorte dela!
Voltarei na sexta-feira à noite e aí eu conto como foi mais essa aventura de Nara Müller no Canadá - com neve ou sem neve.
E tem gente que pensava que eu não teria o que fazer por aqui... (risos).

Domingo, 4 de novembro: O Lago Erie

Domingo passado o Zenon nos apanhou por volta do meio dia para conhecermos a região do Lago Erie onde fica a famosa praia de Port Stanley. O dia estava frio, mas ensolarado. No caminho, uma parada em St. Thomas para tomar um café to Tim Hortons (nenhum canadense, e estou nos incluindo nesse rol, sobrevive sem um café do Timmi's por dia ) - risos.Qualquer hora eu falo mais sobre essa fantástica rede canadense de cafeterias que é o Tim Hortons.

Depois seguimos para Port Stanley (uauu!) Que lugar lindo, parece o paraíso, conforme mostra a foto no início do post. Mais informações sobre Port Stanley se encontram em:

Almoçamos no Mackie's, que é um restaurante à beira da praia, na areia mesmo... O prédio é cercado de janelões envidraçados, que permitem aos clientes, apreciarem a beleza da praia. Vejam o Iuri na frente do restaurante - foto ao lado.

Passeamos pela beira da praia, fizemos vários vídeos e fotos e seguimos para conhecer a cidadezinha de Port Stanley.


Tem um rio que divide a cidade - eu não consegui descobrir o nome do rio - e desemboca no Lago Erie. Tem um porto cheio de barcos de pesca atracados e tem também uma estação de trem à beira do rio. É uma cidadezinha muito lindinha, com opções de lazer e gastronomia para todos os gostos.

Depois fomos visitar uma estranha floresta (acho que eu teria medo de caminhar por lá, à noite - hehe). Chama-se Winter Wheat (trigo de inverno) e trata-se de uma pequena fazenda com um arvoredo fechado - nessa época há folhas secas no chão e fazem um barulhinho quando a gente caminha sobre elas - tem várias estatuetas e outras curiosidades que só os artistas podem nos proporcionar. Descobrimos que a proprietária da fazenda Winter Wheat é uma artista plástica, faz pinturas em tela e vende cópias em formato de cartões, calendários e quadros, lá mesmo na própria loja da fazenda. A loja aparece atrás de mim, na foto à esquerda. Tudo é decorado com ferramentas e louças antigas que eram usadas nas fazendas, enfim... parece um mundo de sonhos. A foto à direita até fala desses sonhos (dream).
No final deste post, como de costume, está o endereço para acessar nosso álbum de fotos e vídeos do passeio completo.
Visitamos uma loja de velas, que segundo o Zenon, é conhecida e visitada por pessoas de todo o país. Vimos muitas lindas e perfumadas velas, castiçais de diversos modelos e tamanhos e muita decoração natalina.
No final da tarde, pelas 17 horas já estava escurecendo (domingo mudou o horário e antecipamos em uma hora os relógios aqui em Ontário), e fomos a um outro lugar paradisíaco, também às margens do Lago Erie e tivemos oprtunidade de registrar em várias fotos, o pôr-do-sol sobre o lago. O frio já estava bem mais intenso e dá para ver pela minha touqinha canadense.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Visita à Associação dos Produtores de Leite de Ontário

No dia 2 de novembro, eu fui à cidade de Mississauga, onde está localizado o escritório central da Dairy Farmers of Ontario - DFO (Associação de Produtores de Leite de Ontário). Eu tinha horário marcado com o diretor assistente de comunicação, sr. Bill Mitchel. O Iuri foi junto comigo, como motorista, fotógrafo e meu assistente de pesquisa (risos). Levou um gravador MP3 e gravou toda a entrevista para que eu não precisasse ficar anotando tudo que o sr. Mitchel dizia.

Ao sairmos de casa pelas 9 horas da manhã, havia geada sobre as gramas e folhas caídas das árvores. Estava -1 grau centígrado e caminhamos uma quadra até a parada de ônibus. De ônibus fomos até a Budget (uma locadora de carros) e pegamos um Toyota Yaris que eu havia reservado pela internet.
Fomos por um caminho alternativo, pois queríamos evitar o intenso tráfego da Highway 401. A viagem foi muito tranqüila, passamos por várias cidadezinhas, fazendas e paisagens lindíssimas, conforme fotos no webalbum: http://picasaweb.google.com/Nara.Maria.Muller/ViagemAMississauga

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A entrevista:

Chegamos à sede da DFO, uns quinze minutos antes da entrevista e o sr. Bill Mitchell nos atendeu um pouco mais cedo do que o combinado. Muito atencioso, ele nos levou ao refeitório da DFO e nos ofereceu café. Depois fomos conduzidos à sala de reuniões, onde duas pastinhas com farta documentação e materiais de divulgação da DFO estavam à nossa disposição sobre a mesa.
Eu já tinha estudado tudo o que pude, através do site da DFO: http://www.milk.org/corporate/view.aspx?content=AboutUs/OurOffices - e estava com meu roteiro de perguntas à minha frente. O sr. Mitchell pediu que eu fizesse uma breve leitura do meu roteiro, a fim de que ele pudesse entender o que eu realmente queria saber.
Então eu fiz as apresentações, perguntei se podia gravar a entrevista e o Iuri ligou seu MP3.
O sr. Mitchell começou a contar a história da DFO, suas finalidades, como funciona o relacionamento dos produtores de leite com a associação.
Eu perguntara se os produtores se sentiam "donos" da DFO, uma vez que minhas experiências com cooperativas e cooperados me mostraram que nem sempre os sócios se dão conta de suas responsabilidades e direitos. O sr. Mitchell disse que aqui eles são donos e agem como tal. A DFO conta com 4800 associados que, literalmente, mandam na associação.
Na verdade, todos os produtores de leite do Canadá são obrigados por lei a pertencer a uma organização como a DFO, por exemplo. Todas as províncias canadenses têm suas próprias Dairy Farmers of ... (Ontário, Quebec, Alberta...). Segundo o sr. Mitchell, outros setores da agricultura e pecuária canadense também possuem suas próprias associações. É importante lembrar que o leite é o principal produto agropecuário de Ontário.

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A organização da DFO

A principal finalidade da DFO é mercadológica, ou seja, vender o leite produzido pelos fazendeiros de Ontário. A DFO, como representante legal dos produtores de leite de Ontário, é encarregada de discutir preços com o governo, com os próprios produtores, com as indústrias e com os varejistas de produtos lácteos da província. Para isso, o primeiro passo é escolher um grupo de fazendeiros bem sucedidos, verificar seus custos e, a partir daí, estabelecer um preço que vai ser negociado com os demais setores (governo, indústria e varejistas) e o preço valerá para todos os produtores de leite de Ontário.
Outra atribuição da DFO é o transporte do leite desde a fazenda até as 72 indústrias que processam a comodity. Para isso, a DFO contrata agências de transportes que se encarregam de fazer alguns exames preliminares e colher amostras em todas as fazendas, antes de coletar o leite dos tanques de refrigeração. As amostras são entregues na sede central da DFO e encaminhadas à Universidade de Guelf, onde são feitos exames de laboratório.
A DFO revisa, aproximadamente uma vez por ano, os containers dos caminhões de transporte de leite, verificando as questões de higiene, as réguas de medição, etc. Segundo o sr. Mitchell, particamente inexistem inadequações nesse processo. Qualquer irregularidade implica em sérias penalidades e isso evita a sua ocorrência.
Para operacionalizar todas essas atribuições numa província tão extensa como Ontário, a DFO é composta de 6 divisões: Comunicações e Planejamento, Serviços Econômicos, Finanças e Administração, Sistemas de Informações, Marketing, Logística e Produção. Essas divisões funcionam na sede central da DFO, em Mississauga. Além dessa sede central, a DFO possui mais 4 escritórios regionais, apenas para alguns atendimentos, e, dependendo da abrangência das questões apresentadas, estas demandas são encaminhados à sede central.
Além disso, a DFO tem 12 representantes em sua diretoria, que representam os 60 condados (espécie de regiões) em que a província de Ontário é dividida. Cada um dos 12 representantes, representa os produtores de leite de 4 condados. Mensalmente, a DFO têm reuniões de diretoria e os representantes replicam os assuntos tratados, as dúvidas levantadas e busca sugestõs, em reuniões com os fazendeiros dos respectivos condados que representam.

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Pré-requisitos para atuar no setor de produção de leite:

Eu perguntei ao sr. Mitchell, o que deve fazer uma pessoa que queira produzir leite em sua fazenda e como funciona o sistema de quotas do qual eu tinha ouvido falar.
Segundo o sr. Mitchell, o negócio funciona assim:
O fazendeiro precisa obter uma licença para ser produtor de leite e essa licença é concedida pela DFO, mediante alguns pré-requisitos que incluem comprovante de endereço da fazenda, número da conta bancária do fazendeiro e a previsão de data para o início das operações.
De posse dessa licença, o produtor providencia toda a estrutura necessária para a produção de leite, incluindo a compra de quotas que limitarão a quantidade de leite a ser vendido e, conseqüentemente, o número de vacas que ele deverá ter em sua fazenda. O sistema de quotas funciona assim:
- O potencial produtor de leite precisa ir a uma espécie de "bolsa de quotas" e tentar adquirir um número que lhe pareça suficiente e pelo que ele puder pagar, dependendo ainda, da disponibilidade de quotas disponíveis no mercado.
- Cada quota corresponde a um peso X de gordura do leite que o fazendeiro pretende vender. Por exemplo: se ele pretende vender X litros de leite por dia, com aproximadamente 200 kilos de gordura, ele deverá comprar 200 quotas.
- Depois é só calcular quantas vacas ele precisa ter em lactação para manter essa quota e tratar de adquirir seu plantel de vacas holandesas (é a raça preferida pelos canadenses).
- A partir do início das operações (já prevista ao adquirir a licença), um fiscal da DFO fará, sem aviso prévio, uma visita para averiguar se tudo está funcionando adequadamente.

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Controle da atividade leiteira pela DFO:

Como eu já falei no início do post, de todo o leite produzido em cada fazenda, o motorista do caminhão de coleta colhe uma amostra, que é posteriormente encaminhada à Universidade de Guelf, para análise. Cada amostra é lacrada com um código de barras que indica em que fazenda o leite foi produzido e coletado. O código de barras impede que os técnicos do laboratório conheçam a procedência da amostra, evitando qualquer possibilidade de manipulação deliberada dos resultados. Os resultados são enviados para o computador geral da DFO e lá ficam registrados. Cada produtor tem uma senha para acesso ao sistema e pode verificar os resultados do leite produzido e entregue a cada dia. (É importante mencionar que os exames das amostras de uma mesma fazenda não são realizados diariamente, seguindo uma seleção aleatória, feita pelo computador central da DFO).
Se o leite produzido numa fazenda for considerado inapropriado para uso, o fazendeiro deverá pagar uma multa, e se ele for responsável pela contaminação do leite de outras propriedades, coletado num mesmo container, esse produtor também deverá pagar o valor correspondente à produção dos demais. Assim, a DFO não é prejudicada com o pagamento do leite descartado e os produtores que tiveram o leite contaminado não deixarão de receber o valor correspondente à produção do dia. Além disso, o produtor que causou o problema, certamente vai procurar uma solução imediata para que isso não se repita. (Aqui a lei pega).
Conforme as declarações do sr. Mitchell, situações de problemas com a qualidade do leite são raríssimas, quase inexistentes.
A DFO também tem sob sua responsabilidade o controle da quantidade de gordura produzida e entregue por cada fazendeiro, verificando se as quotas estão sendo respeitadas.
Se, eventualmente, o produtor não cnseguir atingir a quota, ou se ultrapassar a sua quota diária, os valores superiores ou inferiores ficam registrados, podendo ser compensados em até 20 dias. Caso a diferença persista, o fazendeiro é obrigado a pagar uma multa. Ou seja, o fazendeiro precisa controlar a produção de gordura do leite de seu rebanho diariamente, e tentar encontrar alternativas para controlar as variáveis e equilibrar esse volume com o número de quotas que tem.
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A volta para London:
Saímos da DFO pelas 17 horas e tomamos o caminho de volta para casa. Pelas 18h30min já estava escuro e decidimos parar num restaurante de beira de estrada para jantar. Eu tinha lido na fachada do restaurante que eles tinham steaks (filé, ou bife) e como gaúchos saudosos daquele bom pedaço de carne vermelha, decidimos ficar por ali mesmo. E não nos arrependemos, foi um dos nossos melhores jantares em restaurantes canadenses.
Dali em diante, decidimos voltar pela Highway 401, porque estava muito escuro e já estávamos meio perdidos naquelas estradinhas de tantas esquerdas e direitas...
Chegamos em casa e a primeira coisa que fizemos foi plugar o MP3 no computador para ouvir a gravação e, para nossa surpresa, só tínhamos a segunda parte da entrevista gravada.
A primeira parte se perdeu quando o Iuri trocou a bateria do brinquedinho... Bom, ainda bem que temos boa memória e bastante documentação complementar da DFO para tirar as dúvidas - hehehe!
***
FIM

domingo, 4 de novembro de 2007

31 de outubro = Halloween

A primeira vez que eu ouvi falar em Halloween foi numa aula de inglês nos idos anos de... nem lembro mais (risos).

Para muitas pessoas, inclusive para mim, Halloween sempre teve o significado de Festa das Bruxas. Na noite de 31 de outubro, supõe-se que bruxas e outros seres míticos andem soltos ao nosso redor concedendo favores ou pregando peças, dependendo da receptividade de cada um de nós. Muitas comunidades brasileiras já aderiram a essa tradição e já se pode escolher em qual festa das bruxas queremos ir.

Como estamos na América do Norte, o Iuri e eu pudemos presenciar as comemorações da festa de Halloween na casa de nossos amigos Zenon e Mary-Anne. Enquanto jantávamos com nossos amigos, a campainha da casa soou várias vezes e tivemos a oportunidade de recepcionar crianças desde 2 até 12 ou 14 anos de idade. As menores vinham acompanhadas de seus pais, todos usando fantasias e até um cão acompanhou uma das famílias. A frase a ser dita pelos visitantes é: "Treat or Trick" (gostosuras ou travessuras), mas as crianças pareciam meio tímidas e a frase nem sempre saía - talvez porque não esperassem encontrar tanta gente os esperando (inclusive um estranho pato) foto ao lado.

Mary-Anne me ensinou a frase completa: "treat or trick, smell my feet, give me something good to eat" (gostosura ou travessura, cheire meus pés, dê-me algo bom para comer).

Tudo nos pareceu tão inocente, que ficamos curiosos para saber qual o verdadeiro significado dessa tradição "norte americana". Encontrei uma interessante explicação na wikipedia. Descobri que não é uma "tradição norte americana", mas uma festa pagã, celebrada pelos povos celtas entre os anos 600 a.C a 800 d.C. A festa tinha outro nome: Samhain, que em celta significava "o fim do verão". Segundo a wikipedia, o fim do verão tinha um significado semelhante ao ano novo e os celtas acreditavam que nesse período se estabelecia uma relação mais tênue entre o mundo material e o não material. O festival Samhain era comemorado entre os dias 30 de outubro a 2 de novembro. A tradição foi trazida para a América do Norte pelos imigrantes irlandeses e ali foi adaptada à cultura local. Segundo a wikipedia, a igreja católica não aceitava essa festa, ligando-a ao culto a bruxarias. A história do Samhain ou Halloween pode ser encontrada no endereço: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_das_bruxas

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Acho que cada um de nós pode interpretar a festa de Halloween ao seu jeito. Pode ser que as crianças, que vão de casa em casa pedindo doces ou aplicando uma travessura sejam anjos (seres não materiais), que levam alegria aos lares da vizinhança. Quem sabe os vizinhos que abrem suas portas e oferecem doces às crianças também sejam anjos e, pelo menos durante essas horas, o mundo dessas pessoas seja um pouco menos sofrido e Deus sorria porque a paz e a felicidade estão sendo compartilhadas...

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Uns dias antes do Halloween, presenciamos uma estranha solenidade na Universidade de Western Ontário: o lançamento de uma grande abóbora, do alto de um guindaste, no centro de um gramado. Era uma atividade dos alunos da Ivey para arrecadar fundos (não se sabe para que finalidade).

Na solenidade de lançamento dessa abóbora gigante, uma frase escrita numa faixa também pode levar à crença de que o Halloween é um momento de compartilhar, de confraternizar. Estava escrito na faixa: Poverty History - A história da pobreza - e a mensagem me pareceu mesmo ligada ao compartilhar. A imensa abóbora significava a abundância e ela foi lançada e quebrada em tantos pedaços que poderiam ser distribuídos a muitas pessoas menos afortunadas.

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Fizemos várias fotos e vídeos ao longo do mês de outubro, registrando decorações de casas, produtos oferecidos nas lojas, da recepção dos pequenos na casa de Zenon e Mary-Anne, e da imensa abóbora lançada do alto do guindaste, na Universidade de Western Ontário.

Fotos e vídeos estão no webalbum: http://picasaweb.google.com/Nara.Maria.Muller/Halloween