Visita à Associação dos Produtores de Leite de Ontário
No dia 2 de novembro, eu fui à cidade de Mississauga, onde está localizado o escritório central da Dairy Farmers of Ontario - DFO (Associação de Produtores de Leite de Ontário). Eu tinha horário marcado com o diretor assistente de comunicação, sr. Bill Mitchel. O Iuri foi junto comigo, como motorista, fotógrafo e meu assistente de pesquisa (risos). Levou um gravador MP3 e gravou toda a entrevista para que eu não precisasse ficar anotando tudo que o sr. Mitchel dizia.
Ao sairmos de casa pelas 9 horas da manhã, havia geada sobre as gramas e folhas caídas das árvores. Estava -1 grau centígrado e caminhamos uma quadra até a parada de ônibus. De ônibus fomos até a Budget (uma locadora de carros) e pegamos um Toyota Yaris que eu havia reservado pela internet.
Fomos por um caminho alternativo, pois queríamos evitar o intenso tráfego da Highway 401. A viagem foi muito tranqüila, passamos por várias cidadezinhas, fazendas e paisagens lindíssimas, conforme fotos no webalbum: http://picasaweb.google.com/Nara.Maria.Muller/ViagemAMississauga
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A entrevista:
Chegamos à sede da DFO, uns quinze minutos antes da entrevista e o sr. Bill Mitchell nos atendeu um pouco mais cedo do que o combinado. Muito atencioso, ele nos levou ao refeitório da DFO e nos ofereceu café. Depois fomos conduzidos à sala de reuniões, onde duas pastinhas com farta documentação e materiais de divulgação da DFO estavam à nossa disposição sobre a mesa.
Eu já tinha estudado tudo o que pude, através do site da DFO: http://www.milk.org/corporate/view.aspx?content=AboutUs/OurOffices - e estava com meu roteiro de perguntas à minha frente. O sr. Mitchell pediu que eu fizesse uma breve leitura do meu roteiro, a fim de que ele pudesse entender o que eu realmente queria saber.
Então eu fiz as apresentações, perguntei se podia gravar a entrevista e o Iuri ligou seu MP3.
O sr. Mitchell começou a contar a história da DFO, suas finalidades, como funciona o relacionamento dos produtores de leite com a associação.
Eu perguntara se os produtores se sentiam "donos" da DFO, uma vez que minhas experiências com cooperativas e cooperados me mostraram que nem sempre os sócios se dão conta de suas responsabilidades e direitos. O sr. Mitchell disse que aqui eles são donos e agem como tal. A DFO conta com 4800 associados que, literalmente, mandam na associação.
Na verdade, todos os produtores de leite do Canadá são obrigados por lei a pertencer a uma organização como a DFO, por exemplo. Todas as províncias canadenses têm suas próprias Dairy Farmers of ... (Ontário, Quebec, Alberta...). Segundo o sr. Mitchell, outros setores da agricultura e pecuária canadense também possuem suas próprias associações. É importante lembrar que o leite é o principal produto agropecuário de Ontário.
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A organização da DFO
A principal finalidade da DFO é mercadológica, ou seja, vender o leite produzido pelos fazendeiros de Ontário. A DFO, como representante legal dos produtores de leite de Ontário, é encarregada de discutir preços com o governo, com os próprios produtores, com as indústrias e com os varejistas de produtos lácteos da província. Para isso, o primeiro passo é escolher um grupo de fazendeiros bem sucedidos, verificar seus custos e, a partir daí, estabelecer um preço que vai ser negociado com os demais setores (governo, indústria e varejistas) e o preço valerá para todos os produtores de leite de Ontário.
Outra atribuição da DFO é o transporte do leite desde a fazenda até as 72 indústrias que processam a comodity. Para isso, a DFO contrata agências de transportes que se encarregam de fazer alguns exames preliminares e colher amostras em todas as fazendas, antes de coletar o leite dos tanques de refrigeração. As amostras são entregues na sede central da DFO e encaminhadas à Universidade de Guelf, onde são feitos exames de laboratório.
A DFO revisa, aproximadamente uma vez por ano, os containers dos caminhões de transporte de leite, verificando as questões de higiene, as réguas de medição, etc. Segundo o sr. Mitchell, particamente inexistem inadequações nesse processo. Qualquer irregularidade implica em sérias penalidades e isso evita a sua ocorrência.
Para operacionalizar todas essas atribuições numa província tão extensa como Ontário, a DFO é composta de 6 divisões: Comunicações e Planejamento, Serviços Econômicos, Finanças e Administração, Sistemas de Informações, Marketing, Logística e Produção. Essas divisões funcionam na sede central da DFO, em Mississauga. Além dessa sede central, a DFO possui mais 4 escritórios regionais, apenas para alguns atendimentos, e, dependendo da abrangência das questões apresentadas, estas demandas são encaminhados à sede central.
Além disso, a DFO tem 12 representantes em sua diretoria, que representam os 60 condados (espécie de regiões) em que a província de Ontário é dividida. Cada um dos 12 representantes, representa os produtores de leite de 4 condados. Mensalmente, a DFO têm reuniões de diretoria e os representantes replicam os assuntos tratados, as dúvidas levantadas e busca sugestõs, em reuniões com os fazendeiros dos respectivos condados que representam.
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Pré-requisitos para atuar no setor de produção de leite:
Eu perguntei ao sr. Mitchell, o que deve fazer uma pessoa que queira produzir leite em sua fazenda e como funciona o sistema de quotas do qual eu tinha ouvido falar.
Segundo o sr. Mitchell, o negócio funciona assim:
O fazendeiro precisa obter uma licença para ser produtor de leite e essa licença é concedida pela DFO, mediante alguns pré-requisitos que incluem comprovante de endereço da fazenda, número da conta bancária do fazendeiro e a previsão de data para o início das operações.
De posse dessa licença, o produtor providencia toda a estrutura necessária para a produção de leite, incluindo a compra de quotas que limitarão a quantidade de leite a ser vendido e, conseqüentemente, o número de vacas que ele deverá ter em sua fazenda. O sistema de quotas funciona assim:
- O potencial produtor de leite precisa ir a uma espécie de "bolsa de quotas" e tentar adquirir um número que lhe pareça suficiente e pelo que ele puder pagar, dependendo ainda, da disponibilidade de quotas disponíveis no mercado.
- Cada quota corresponde a um peso X de gordura do leite que o fazendeiro pretende vender. Por exemplo: se ele pretende vender X litros de leite por dia, com aproximadamente 200 kilos de gordura, ele deverá comprar 200 quotas.
- Depois é só calcular quantas vacas ele precisa ter em lactação para manter essa quota e tratar de adquirir seu plantel de vacas holandesas (é a raça preferida pelos canadenses).
- A partir do início das operações (já prevista ao adquirir a licença), um fiscal da DFO fará, sem aviso prévio, uma visita para averiguar se tudo está funcionando adequadamente.
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Controle da atividade leiteira pela DFO:
Como eu já falei no início do post, de todo o leite produzido em cada fazenda, o motorista do caminhão de coleta colhe uma amostra, que é posteriormente encaminhada à Universidade de Guelf, para análise. Cada amostra é lacrada com um código de barras que indica em que fazenda o leite foi produzido e coletado. O código de barras impede que os técnicos do laboratório conheçam a procedência da amostra, evitando qualquer possibilidade de manipulação deliberada dos resultados. Os resultados são enviados para o computador geral da DFO e lá ficam registrados. Cada produtor tem uma senha para acesso ao sistema e pode verificar os resultados do leite produzido e entregue a cada dia. (É importante mencionar que os exames das amostras de uma mesma fazenda não são realizados diariamente, seguindo uma seleção aleatória, feita pelo computador central da DFO).
Se o leite produzido numa fazenda for considerado inapropriado para uso, o fazendeiro deverá pagar uma multa, e se ele for responsável pela contaminação do leite de outras propriedades, coletado num mesmo container, esse produtor também deverá pagar o valor correspondente à produção dos demais. Assim, a DFO não é prejudicada com o pagamento do leite descartado e os produtores que tiveram o leite contaminado não deixarão de receber o valor correspondente à produção do dia. Além disso, o produtor que causou o problema, certamente vai procurar uma solução imediata para que isso não se repita. (Aqui a lei pega).
Conforme as declarações do sr. Mitchell, situações de problemas com a qualidade do leite são raríssimas, quase inexistentes.
A DFO também tem sob sua responsabilidade o controle da quantidade de gordura produzida e entregue por cada fazendeiro, verificando se as quotas estão sendo respeitadas.
Se, eventualmente, o produtor não cnseguir atingir a quota, ou se ultrapassar a sua quota diária, os valores superiores ou inferiores ficam registrados, podendo ser compensados em até 20 dias. Caso a diferença persista, o fazendeiro é obrigado a pagar uma multa. Ou seja, o fazendeiro precisa controlar a produção de gordura do leite de seu rebanho diariamente, e tentar encontrar alternativas para controlar as variáveis e equilibrar esse volume com o número de quotas que tem.
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A volta para London:
Saímos da DFO pelas 17 horas e tomamos o caminho de volta para casa. Pelas 18h30min já estava escuro e decidimos parar num restaurante de beira de estrada para jantar. Eu tinha lido na fachada do restaurante que eles tinham steaks (filé, ou bife) e como gaúchos saudosos daquele bom pedaço de carne vermelha, decidimos ficar por ali mesmo. E não nos arrependemos, foi um dos nossos melhores jantares em restaurantes canadenses.
Dali em diante, decidimos voltar pela Highway 401, porque estava muito escuro e já estávamos meio perdidos naquelas estradinhas de tantas esquerdas e direitas...
Chegamos em casa e a primeira coisa que fizemos foi plugar o MP3 no computador para ouvir a gravação e, para nossa surpresa, só tínhamos a segunda parte da entrevista gravada.
A primeira parte se perdeu quando o Iuri trocou a bateria do brinquedinho... Bom, ainda bem que temos boa memória e bastante documentação complementar da DFO para tirar as dúvidas - hehehe!
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FIM
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