As crônicas de Nara - parte V
NEW YORK, NEW YORK – a cidade que nunca dorme
Nova Yorque, nos Estados
Unidos é um dos destinos mais procurados por quem quer viajar para aquele país.
Diferente de Orlando, onde fica a incrível Disneylândia, Nova Yorque é um
destino especial para quem deseja fazer compras. Tudo o que tem de mais moderno,
tanto no mundo da moda, quanto na tecnologia, parece ser lançado por lá, antes
de ir para o resto do mundo.
O famoso cantor norte-americano,
Frank Sinatra – falecido em 1998 - cantava, lindamente uma música que
homenageia Nova Yorque: a cidade que nunca dorme.
Nova Yorque também foi o palco
da conhecidíssima série Friends, que agitou o mundo durante suas 10
temporadas. Quem não lembra do Café Central Perk e do charmoso
apartamento da Mônica Geller?
Não sei vocês, mas eu sempre
sonhei em conhecer Nova Yorque, ver a Estátua da Liberdade, badalar pela
cidade, visitar o Central Park e, é claro, fazer compras.
Bem...eu preciso contar
que estive duas vezes em Nova Yorque, mas nenhuma dessas visitas teve o glamour
que eu esperava. O máximo que eu consegui comprar por lá foram alguns cafés, uma
banana, uma maçã, talvez um donut¹ e um chocolate.
Minha primeira viagem a Nova
Yorque
Meu marido costumava
participar de congressos científicos nos Estados Unidos, uma ou duas vezes por
ano e eu nunca tinha oportunidade de acompanhá-lo devido ao meu horário de
trabalho. Mas num dado momento da vida profissional, eu resolvi me tornar dona do
meu tempo. Minha primeira viagem aos Estados Unidos, com o Iuri foi em novembro
de 2015, para Seatle. Como eu decidi meio em cima da hora, não consegui
mais viajar nos mesmos voos que ele, nem na ida e nem da volta. Cheguei um dia
depois dele e voltei um dia antes. E o voo de volta tinha uma parada em Nova
Yorque. Eu chegaria ao aeroporto da cidade que nunca dorme, às 5 horas da manhã
e meu voo para o Brasil sairia somente às 22 horas. Um dia inteiro em Nova
Yorque! Seria essa a minha grande oportunidade?
Como eu já tinha concluído
duas formações em Coaching e queria publicar uma reportagem numa revista
especializada, aqui no Brasil, eu programei uma entrevista com um coach novayorquino.
Nos encontraríamos num Co-working, mas um dia antes de eu chegar ele
cancelou o encontro por motivos de saúde na família. Fiquei chateada, mas
compreendi a situação e a entrevista aconteceu por e-mail.
A viagem de Seatle até
Nova Yorque foi muito cansativa e, ao chegar, imediatamente tentei embarcar
minha mala grande, mas como meu voo seria somente muito mais tarde, não me
permitiram fazer o checkin. Aliás, eu não podia nem ter acesso à parte
nobre do aeroporto. Tinha que ficar ali, no andar térreo, até, pelo menos às 17
horas. Procurei um lugar para guardar as malas. Pensei em dar um passeio pela
cidade, mas o guarda-malas só abriria lá pelas 7h30min e não aceitava pagamento
em cartão de crédito. Eu não tinha sequer um dólar em espécie e os saques pelo
cartão de crédito eram proibitivos, dado o valor absurdo da taxa cobrada.
E lá estava eu, com sono, com
fome e com aquelas duas malas: uma grande, aquelas de 32 quilos, sabem? A outra
era um pouco menor e ainda tinha mais uma mochila com meu netbook e
outras coisinhas. Eu sentava aqui, sentava ali, me escorava sobre as malas e
cochilava um pouco, procurava, em vão, um lugar onde pudesse acessar uma rede wifi.
Imaginem só, a minha situação de estar longe do meu mundo conhecido e sem
qualquer meio de comunicação com esse mundo! Eu estava incomunicável com
qualquer familiar e aquele lugar era horrível, cheio de pombos comendo as
migalhas de comida pelo chão, fazendo suas necessidades em qualquer lugar.
Taxistas e motoristas de Uber discutindo, gente andando para lá e para cá. Ao
longo do dia eu tomei uns dois cafés pequenos – quem conhece os cafés pequenos
nos Estados Unidos sabe que são grandes para nossos padrões. Por lá, eles não
têm nem ideia do que seja um “cafezinho”. Vocês conseguem imaginar isso? Comi uma banana daquelas enormes, pagando 1
dólar, cada, depois foi um biscoito, um sanduíche, uma maçã... Pelo menos as
cafeterias aceitavam cartão de crédito.
Fiquei 12 horas naquele
submundo de Nova Yorque, indo ao banheiro com toda aquela bagagem... Um sufoco.
Sabem como são aquelas cenas daquelas comédias em que os protagonistas são expostos
a situações estressantes e se metem em trapalhadas? Pois bem, assim foi o meu
dia em Nova Yorque.
Finalmente, às 17 horas eu fui
para o paraíso do aeroporto, pude subir para a área nobre e fazer o checkin.
Me liberei da mala grande e entrei numa lojinha perguntando para a atendente onde
eu conseguiria acesso à rede wifi. Precisava mandar notícias para o Iuri
e para a família. Nos aeroportos brasileiros a gente tem internet grátis, pelo
menos por uma hora. Mas não era o caso lá em Nova Yorque. A moça disse que eu
não encontraria wifi gratuito no aeroporto. Eu contei meu drama para ela
que, compadecida, pediu que eu lhe entregasse o meu celular. Discretamente, ela
digitou a senha da loja, cuidando para o proprietário não ver. Fiquei tão
agradecida que até comprei um chocolate na loja. Sabem quando a gente tem
aquela sensação de ter sido salvo e que deve sua própria vida a alguém? Saí
dali e me sentei no lugar mais próximo, onde ainda conseguia manter o acesso à
internet. Toda a família estava preocupada com a minha falta de notícias o dia
inteiro, mas tudo acabou bem. Embarquei no meu voo para o Brasil e viajei até
São Paulo. Acho que dormi a noite toda!
No aeroporto de São Paulo –
não lembro se era Guarulhos ou Congonhas, eu encontrei o Iuri que pegou um voo
umas 12 horas depois de mim, mas não teve que ficar aquelas horas todas preso
no porão do aeroporto de New York.
Enfim, quando a gente faz
coisas sem planejar antecipadamente, tem que se contentar com o resultado, que,
nem sempre é tão glamouroso quanto poderia ser.
Minha segunda viagem a Nova Yorque
Maio de 2019, nossa última
viagem internacional antes da pandemia. O destino era Boston, nos Estados
Unidos, onde Iuri e eu participaríamos de um congresso de Administração.
Nossa primeira parada foi em
Nova Yorque, aonde chegamos em torno de 10 horas da manhã. O voo para Boston só
sairia às 17 horas, mas deveríamos tomar um trem para ir de um aeroporto para o
outro. A estação era bem pertinho do Central Park e o Iuri me convidou
para dar uma caminhada até o parque. Cada um de nós carregava uma mala daquelas
grandes e duas bagagens de mão. Eu recusei o convite pois já sabia como era
ruim caminhar por horas puxando aquela bagagem toda. Então ele me convenceu a
dar uma caminhada por algumas quadras e acabamos fazendo um lanche, ao
meio-dia, num Mc Donalds. A refeição demorou mais tempo do que prevíamos
e o tempo ia passando. Caminhamos o mais rápido possível até a estação e o Iuri
correu até a bilheteria, enquanto eu fiquei pertinho dos portões com as duas
malas grandes e as bagagens de mão. Assim, ele poderia correr por dentro da
estação, que era enorme. Ele demorou um tempão até retornar e me entregou meu
tíquete. Correu com as suas malas e bagagens e cruzou a catraca. Eu passei o tíquete,
mandei as duas malas e a catraca trancou. Para passar para o outro lado, eu
precisaria de outro tíquete e não dava mais tempo de voltar e comprar. Fico
pensando em quantas pessoas já passaram por esse infortúnio que eu estava
passando. Seria eu a única tola no mundo?
O Iuri, apavorado me disse:
“pula por cima da catraca!” Eu dizia que não pularia, pois haviam seguranças
olhando e eu não queria ser presa em Nova Yorque. Mas a pressão era grande e eu
pulei sobre a catraca, sob os olhares dos seguranças. Acho que eles ficaram
penalizados e fizeram de conta que não tinham visto. Mas eu lembro de dizer
para o Iuri que ele não deveria ter feito isso com uma mulher de 60 anos de idade.
Hoje eu me arrependo de não ter deixado ele tirar umas fotos daquela cena,
porque deve ter sido muito engraçada!
O ônibus atrasou, nós
atrasamos e perdemos o voo para Boston. Ficamos sabendo que havia um voo
cancelado naquele mesmo dia e que a lista de espera por vagas nos próximos era
imensa. E, é claro, os passageiros do voo cancelado tinham prioridade. Nos
aconselharam a ficar num hotel e voltar na manhã seguinte, mas nós tínhamos que
estar em Boston, na manhã seguinte. Além disso, como professores universitários,
nossas verbas eram restritas e todos os gastos extras estavam fora de
cogitação.
Acho que conseguimos despachar
as malas grandes e ficamos somente com as duas bagagens de mão - cada um de nós
com as suas. Entramos na sala de embarque e, a cada voo para Boston, ficávamos
aguardando a possibilidade de embarcarmos. Pensem numa mulher furiosa com o
marido! Essa mulher era eu. Mais uma vez, Nova Yorque tinha sido hostil comigo.
Lá pelas tantas o Iuri me
perguntou se eu queria um lanche e eu disse que não queria coisa alguma. Ele
foi comprar algo e me trouxe um chocolate. Nem lembro se eu aceitei ou não –
hehehe.
Era quase meia noite quando
anunciaram a partida dos dois últimos voos para Boston. Iuri conseguiu vaga num
deles e eu no outro.
As viagens são assim mesmo.
Mesmo planejadas, às vezes surgem infortúnios, mas o jeito é encarar com leveza
que tudo dá certo no final.
O engraçado é que quando a
gente sabe que alguém vai viajar para o exterior, costuma pensar que tudo será
maravilhoso, não é mesmo? E, na maioria das vezes, mesmo que algumas coisas deem
errado, dificilmente eles nos contarão.
¹Um donut, doughnut, dónute, rosca ou rosquinha é um pequeno bolo em forma de rosca, popular nos Estados Unidos e de origem incerta. Consiste numa massa açucarada frita, que pode ser coberta com diversos tipos de cobertura doce e colorida, como por exemplo chocolate. Wikipédia
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