OUTUBRO ROSA – O MEU PROCESSO DE CURA
Nara Maria Müller
Tudo começou em dezembro de 2024,
quando fui à minha médica ginecologista, para o checkup anual. Ela pediu vários
exames, entre eles, mamografia e ecomamária. Nesse período não é muito fácil
conseguir agendamentos e os meus exames de imagem ficaram para 18 de janeiro.
E, foi na ecomamária que o laudista, dr. Eduardo, encontrou algo estranho e
pediu nova mamografia. Desta vez, ampliada.
Aí elas apareceram: as microcalcificações na mama esquerda. Mas não estavam espalhadas, estavam, sim, agrupadas. Aí acendeu um alerta e o laudista sugeriu uma biópsia.
A reconsulta
com a ginecologista estava marcada para o início de fevereiro e, ao olhar os
exames, ela sugeriu que eu procurasse um mastologista para receber as melhores
orientações. “Não precisas correr” – disse a médica – “mas não deixa de
consultar o mastologista”. Na saída, ela pediu à secretária que me enviasse o
número de um bom mastologista, seu conhecido.
Procurei no catálogo da UNIRAD - clínica
onde fiz os exames de imagem - e encontrei uma mastologista muito atenciosa, a
dra. Daniele. A consulta com ela foi em março e ela solicitou uma mamotomia –
uma punção para retirar as calcificações, orientada por mamografia. Pediu
urgência e já me advertiu que as clínicas que fazem esse tipo de exame são
poucas e não costumam fazer pelos planos de saúde. E mais: todas são na
capital, nenhuma em cidades de interior.
Comecei a procurar: primeiro num
hospital, depois no outro e a resposta foi a mesma: “não fazemos pela Unimed e
o preço é sete mil reais”.
Meu marido e eu recém estávamos
nos mudando de cidade e os gastos com mobília e eletrodomésticos estavam
levando nossas economias. Não estávamos em condições de pagar por esse exame,
mas ele era necessário. Descobrimos que a Unimed fazia esse exame e buscamos
mais informações.
Um dia fomos numa sede da Unimed,
em Porto Alegre e nos disseram que teríamos que ir à outra: a da 24 de outubro.
Não tínhamos tempo naquele dia, voltamos para casa e na semana seguinte,
conseguimos agendar a mamotomia lá na Unimed da 24.
O exame foi realizado no dia 10 de abril e o resultado só veio no dia 24: carcinoma ducto in situ. A palavra carcinoma é assustadora e eu confesso que me senti perdendo o chão sob meus pés. Saí do apartamento e caminhei até a praia, sentei-me num banco e, olhando o mar, pedi ajuda a Deus.
Precisava agendar horário com a mastologista e a clínica só tinha horário para o dia 05 de maio. Mandei mensagem para a doutora e ela me pediu para estar no consultório às 8 horas do dia 28 de abril. Ela iria me encaixar antes das outras consultas do dia. Isso me apavorou mais ainda porque percebi que ela considerava, realmente, urgente. Mas tentei manter a calma.
Num desses dias eu tive um sonho muito estranho: minha avó paterna - já falecida - me entregou um pacote com um presente e me disse para usar seu conteúdo. Ao abrir o pacote encontrei um terço de contas cor-de-rosa. Meu primeiro pensamento foi o de que eu já tinha um igual e o segundo pensamento foi o de que minha avó não era católica, portanto, não acreditava em Nossa Senhora. Acordei e contei o sonho ao Iuri. Decidimos que era hora de voltar às orações diárias do terço e, é claro, eu usaria o meu terço cor-de-rosa.
Segunda-feira estávamos no consultório, meu marido e eu e a doutora explicou que se tratava de um câncer em fase muito inicial e in situ, ou seja, localizado. Falou que o tratamento passaria por uma cirurgia para retirar as células malignas e, posteriormente, por algumas sessões de radioterapia. Por fim, ela disse que não opera pela Unimed e nos passou alguns nomes de profissionais que ela recomendava.
Para adiantar o processo, ela
solicitou todos os exames pré-operatórios, que eu fiz no dia seguinte. Ao sair
do consultório, consegui marcar uma consulta com a médica que atende na
oncologia do hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, a dra. Francine.
No dia 09 de maio, Iuri e eu
chegamos ao consultório da dra. Francine. Eu me encantei com ela e com suas
explicações sobre os procedimentos futuros. Ela pediu uma ressonância magnética
das duas mamas para se certificar de que o câncer estava somente naquele espaço
identificado na mamotomia. Fiz a ressonância no dia 16 de maio e a cirurgia foi
realizada no dia 29.
Um dia antes da cirurgia, a
anestesista entrou em contato comigo para me orientar sobre o pré-operatório.
Um amor de pessoa!
A setorectomia foi realizada no
dia 29 de maio, às 14 horas, sendo que, no mesmo dia, às 8h30 foi feito o
agulhamento – foi inserido um fio de cobre na mama, que circulou o clipe fixado
no dia da mamotomia. Esse seria o ponto central de onde a cirurgiã retiraria
alguns centímetros de material à volta. No final da tarde fui liberada e
voltamos para casa. O diagnóstico anatomopatológico da cirurgia ficou pronto no
dia 09 de junho: margens livres de células cancerígenas...

No dia 13 de junho eu tive consulta pós-operatória com a doutora Francine, a mastologista que me operou e ela indicou os médicos dr. Ricardo, oncologista e a dra. Débora, ambos do Hospital Mãe de Deus.
As duas consultas foram agendadas
para o dia 24 de junho. Primeiro eu consultei com a doutora Débora que olhou todos
os meus exames e diagnósticos pré e pós-operatórios e prescreveu cinco sessões
de radioterapia. Solicitou uma tomografia para marcação dos pontos da
radioterapia. Na sequência, tive a consulta com o oncologista que, teoricamente
me receitaria o anti-hormônio que eu deveria tomar durante cinco anos. O dr.
Ricardo explicou todos os prós e contras desse tratamento e pediu que eu
retornasse ao consultório após finalizar as cinco sessões de radioterapia. Ele
já tinha conversado com a mastologista e com a dra. Débora sobre o meu caso e
disse que levaria para um grupo maior de médicos para analisar a necessidade do
tratamento de cinco anos.
A tomografia foi agendada para o
dia 30 de junho e as marcações foram feitas com caneta azul. As cinco sessões
de radioterapia aconteceram do dia 07 a 11 de junho, uma sessão por dia.
Durante aquela semana eu fiquei hospedada na casa do meu irmão Miguel e cunhada
Dani e meu sobrinho Bernardo, em Porto Alegre. Estava muito nervosa, com medo de
possíveis dores, queimaduras etc. Medo do desconhecido.
Iuri me acompanhou até a clínica de radioterapia do Mãe de Deus, situada na rua Orfanotrófio, perto da UniRitter. Depois da primeira sessão, que foi supertranquila, conversamos com uma enfermeira que me receitou um creme para passar na mama, três vezes ao dia. Me deu algumas amostras grátis que duraram em torno de uma semana e meia. Ainda bem porque eu teria que usar esse creme por uns 45 dias, pelo menos e é bem caro. Comprei o creme que não é vendido em farmácias convencionais. Na segunda e a quarta sessão tive a companhia da minha cunhada Daniela, na terceira fui sozinha, de Uber, ouvindo histórias muito loucas dos motoristas – o da ida e o da volta. Na última sessão fui acompanhada pelo Iuri e depois disso voltei com ele para casa em Capão da Canoa.
Eu fiz fotos, após as sessões de radioterapia, ainda no vestiário da clínica, para mandar para a família mostrando como eu estava bem. Não lembrei de fazer fotos de todos os dias.
Preciso registrar a importância do carinho e amor da família naqueles momentos!
O tratamento de radioterapia foi bem tranquilo, sem dores, apenas com um pouco de vermelhidão e coceira – como se fosse uma alergia. Mas o creme dava conta de aliviar a coceira. Antes de sairmos da clínica, naquele último dia de radioterapia, tive consulta com a dra. Débora, que me deu o documento de alta. Ganhei uma medalhinha e um cartão da equipe da clínica e fiquei muito emocionada.
No dia 17 de julho tive reconsulta com o oncologista que me deu a notícia que eu esperava: não precisaria tomar o anti-hormônio pois o meu câncer era muito pequeno, não deixou metástases e a radioterapia foi suficiente para evitar recidivas a curto ou médio prazo. Mas ele recomendou, fortemente que eu fizesse exercícios físicos para auxiliar na recuperação e na qualidade da minha saúde e da minha vida. O dr. Ricardo me pediu para retornar a cada seis meses, para monitoramento.
No dia 25 de julho eu tive
reconsulta com a mastologista e fui liberada para retornar, também a cada seis
meses. Ela disse que eu não devo realizar mamografia antes desses seis meses
por conta da cirurgia e dos efeitos das radioterapias.
Consultei, novamente, com a dra.
Débora, no Centro de radioterapia, no dia 08 de agosto, um mês após as sessões
de radioterapia. Ela pediu para eu voltar em um ano.
Sobre os efeitos das sessões de
radioterapia, o que tenho a dizer é que a coceira perdurou por uns dois meses,
mas com intensidade suportável. Eu tenho inúmeros sinais na pele e eles sempre
incomodam um pouco. O incômodo ficou um pouco mais intenso durante esse
período. A dra. Débora, da radioterapia me recomendou consultar uma
dermatologista e já me passou o contato de uma conhecida da equipe que me
tratou no Mãe de Deus. Marquei a consulta para 03 de outubro.
Hoje, em 30 de setembro de 2025,
me sinto muito bem, sem coceiras, com uma cicatriz quase invisível e tocando a
vida em frente. Por isso, na véspera do início do mês de outubro, mês voltado à
prevenção do câncer de mama, resolvi postar a história do meu processo de cura.
Agradeço a Deus por ter me
acompanhado durante essa jornada. Agradeço ao dr. Eduardo, da Unirad de Capão
da Canoa que percebeu algo estranho e investigou até descobrir aquelas
microcalcificações que já eram uma sementinha de câncer. Meu processo de cura
iniciou naquele dia 18 de janeiro.
Mulheres, fiquem atentas ao seu corpo, façam seus exames de rotina, se toquem porque o câncer está sempre à espreita e, quanto antes for descoberto, mais rápida e facilmente será eliminado. Pratiquem atividades físicas e tenham uma alimentação equilibrada e sejam felizes!