sexta-feira, 17 de março de 2023

As crônicas de Nara - parte IV


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 O DIRETOR DE ARMAS

 Por Nara Maria Müller

Em tempos de escassez de oferta de empregos, ou de falta de qualificação das pessoas para ocuparem as vagas existentes, eu sempre fico pensando qual é a razão dessa incoerência. Ou qual seria a solução para esse problema?

Quando estudamos matemática na escola, aprendemos algumas fórmulas e todas elas têm um sinal de igualdade (=) entre um lado e outro, não é verdade?

É claro que no quesito social, a maioria das situações não apresentam esse sinal de igualdade e, sim, uma desigualdade tremenda.

Mas enquanto você e eu pensamos nas razões ou nas possíveis soluções para essas desigualdades, quero contar o quanto eu me surpreendi, certo dia, com a existência de uma profissão que nunca tinha imaginado que existisse.

Era uma manhã ensolarada e o mês era dezembro de 2022.  Eu peguei carona no carro de um motorista de aplicativo BlaBlaCar e nós fomos conversando ao longo do caminho, até chegarmos a uma parada de ônibus, próxima aos belos condomínios de Tramandaí, onde embarcou mais um passageiro.

Desde que esse passageiro entrou no carro, as conversas ficaram, praticamente toda a viagem entre ele e o motorista. Eles falavam sobre suas paixões por motocicletas, sobre o trânsito e coisas assim.  Somente depois que o passageiro foi deixado em seu destino, é que o motorista e eu retomamos nossa conversa.

Ele me perguntou sobre a saúde do meu pai, que estava internado num hospital de Porto Alegre, para onde eu estava indo.

Seguimos falando sobre família, trânsito, riscos e ele comentou que, entre outras funções, ele é diretor de armas de filmes. Eu perguntei o que faz um diretor de armas e ele me explicou: “é o especialista em armas que acompanha filmagens onde os atores usam armas de fogo. Esse especialista é responsável pela segurança dos atores e demais integrantes do set de filmagens”.

Me contou de certa feita quando alguns atores nacionais gravavam na serra gaúcha e o diretor do filme deu ordem para iniciarem a gravação de uma cena. “Quando o diretor gritou: AÇÃO, eu gritei: CORTA”, me contou o motorista do aplicativo. “Se eles seguissem com a filmagem da cena, mesmo usando munição de festim, o ator teria sido queimado devido à proximidade da arma em relação ao seu corpo”, complementou.

Segundo ele, foi preciso exemplificar, atirando com uma arma munida de festim, contra uma folha de papel, a uma distância considerada de risco. A folha chamuscou. Então, mesmo inconformados, o diretor e os atores aceitaram o corte imposto pelo especialista e filmaram a uma distância segura entre o ator e a arma.

Meu motorista também é membro da Polícia Militar e atuou por uns 20 anos nas ruas, sendo instrutor de armamento e tiro. Ele também me contou sobre uma gravação onde, monitoradamente, houve uso de munição real para manuseio no set de filmagem. Contou-me que fez uma breve preleção com os atores, dizendo a eles que atiraria contra qualquer ator que apontasse uma arma carregada com munição de verdade, para uma pessoa daquele set, ou em cena. Alertou-os de que estaria fazendo legítima defesa de terceiros, deixando bem claro a importância de uma instrução sobre armamento. Cada decisão tomada individualmente, no uso inadequado de uma arma de fogo pode gerar situações bem indesejadas.

Meu interlocutor lembrou daquela tragédia que envolveu o ator Alec Baldwin, há algum tempo. “Se aquelas filmagens contassem com um especialista em armas, aquela tragédia teria sido evitada, demonstrando a importância de um especialista, quando se trata de manuseio tanto de arma de fogo quanto de simulacro”, complementou o motorista do BlaBlaCar.

Fiquei refletindo sobre essa profissão que eu nem imaginava que existisse e em quantas outras por aí que a gente nunca ouviu falar e nas oportunidades de se criarem outras tantas.

Todos nós, ou a maioria de nós já teve que parar um dia para pensar no que queria ser quando crescesse. E, durante a trajetória profissional, muitas vezes tivemos que repensar, mudar os rumos da nossa jornada... Quem de nós já pensou em criar uma profissão, ou procurar algo diferente daquelas profissões básicas como ser professor, médico, construtor, engenheiro, bancário, etc?

Quanta gente está envolvida em cada elaboração de produtos, em cada serviço prestado. Quanta gente que não é reconhecida e nem mesmo percebida!

As crônicas de Nara - parte III

 




MÃE APARECIDA: a emoção de estar na Tua presença
Por Nara Maria Müller

Viajar e conhecer lugares novos é algo maravilhoso, não é mesmo? Alguns lugares são tão encantadores e nos provocam tantas emoções, que a gente até gosta de revisitá-los, de vez em quando.

No Brasil, um dos destinos que são frequentados e visitados, por mais de uma vez, é o Santuário de Aparecida, em São Paulo.

Era final do ano de 2019, quando, finalmente, eu fui conhecer o Santuário de Aparecida, em São Paulo. Era um sonho dos meus pais e um desejo meu e do meu esposo.

Bem cedinho, naquele domingo, 28 de dezembro, nós quatro saímos de Tramandaí em direção ao Santuário de Aparecida. Fomos de carro e paramos algumas vezes para descansar, comer alguma coisa ou contemplar as belas paisagens. Pernoitamos em São José dos Pinhais, no Paraná, num hotel simples, na beira da rodovia. Lembro que ficamos num quarto grande, com três camas de solteiro e um beliche.  Na manhã seguinte, após um gostoso desjejum, nós partimos para nosso destino e chegamos em Aparecida ao entardecer do dia 29. Na chegada à cidade, já se via as luzes da Catedral e um grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, sobre um morro. Subimos as escadas até quarto andar, onde ficava nosso apartamento. O Iuri e o meu pai saíram para comprar pizzas para nossa janta, enquanto minha mãe e eu arrumávamos as camas e tomávamos banho.

Ao amanhecer de terça-feira, quando minha mãe e eu ainda estávamos dormindo, meu pai e o Iuri saíram para uma caminhada. Foram até o Santuário, tomaram um chimarrão no caminho e voltaram para o café da manhã.

Depois do café, nós quatro fomos até o Santuário – de carro, porque os meninos já tinham caminhado bastante e não era tão pertinho como parecia. Além disso, Aparecida é uma cidade com muitas ladeiras, que precisam ser vencidas para se chegar ao Santuário.

Lembro do Iuri mencionar o quanto meu pai tinha se emocionado ao ficar frente a frente com a imagem de Nossa Senhora Aparecida - aquela que foi encontrada no rio, pelos pescadores e que está dentro da Catedral. Eu pensei: “deve ser legal mesmo”, mas nunca imaginei o que eu mesma sentiria ao chegar nesse local...

Dentro da Catedral, nós rezamos um dos vários terços diários de Aparecida. Me chamou a atenção o fato de que,  a cada nova dezena eram convidadas dez pessoas dentre as que estavam na Catedral, para subirem ao altar e rezarem uma das Ave-Marias do terço.

Estávamos de frente para a imagem original da Santa, que fica num mezanino, dentro de uma espécie de sacrário dourado. Quem já visitou o Santuário, sabe que a Catedral é imensa e a imagem de Nossa Santa Padroeira parece pequena para quem está próximo ao altar.

Quando subimos ao mezanino, entramos numa longa fila de romeiros que paravam, por alguns instantes, na frente da imagem da Mãe Aparecida. Tudo calmo até ali. Na minha frente estava um casal bem jovem. Os dois conversavam e riam enquanto caminhavam, vagarosamente, seguindo a velocidade da fila. Atrás de mim estavam meus pais.

Quando chegou a vez do casal à minha frente contemplar a imagem, eles se abraçaram e choraram. Naquele momento, eu comecei a entender a emoção que meu pai sentira mais cedo.

A próxima da fila era eu e, ao olhar para aquela imagem da Mãe Aparecida, não me contive e chorei. Me voltei para trás e abracei meu pai e minha mãe, totalmente emocionada. Agradeci a Deus pela oportunidade que tinha me dado de estar ali com as pessoas que me deram a vida.

Quantas vezes, ao longo das nossas vidas deparamos coisas que nos impressionam, nos sensibilizam e nos fazem rir e chorar? Nesses momentos nós sentimos a presença do Deus criador, de Jesus, nosso irmão e de nossa Mãe amorosa!

quarta-feira, 15 de março de 2023

As crônicas de Nara - Parte II

 


O ROUBO DO PEIXE: falando o óbvio para evitar mal-entendidos

Por Nara Maria Müller

Quantas vezes a gente já teve a experiência de coisas que deveriam ter acontecido de um jeito, mas aconteceram de outro? Quantas dessas coisas que não saíram como imagináramos poderiam ter dado certo, não fosse por algum mal-entendido?

Mal-entendidos acontecem com mais frequência do que nós podemos imaginar. Acontecem na vida familiar, na vida social e no nosso trabalho.

Em 2007 meu marido e eu fomos morar no Canadá, na cidade de Londres, na província de Ontário. Chegamos em março de 2007 e voltamos ao Brasil em janeiro de 2008.

Conhecemos várias pessoas, fizemos bons amigos e, entre eles, o Zenon e a Mary-Anne.

Em dezembro de 2007, faltando um mês para voltarmos ao Brasil, Zenon e Mary-Anne começaram a nos levar para vários lugares que ainda não tínhamos conhecido, a fim de termos mais tempo juntos.

Numa noite gelada, com a neve caindo sobre a cidade, fomos jantar no restaurante McGuinnes. Eu escolhi um prato com peixe, batatas e legumes. O Iuri pediu alguma outra coisa, que não lembro mais o que era.

Eu tenho o hábito de comer devagar, saboreando a comida e o Iuri, em geral, devora seu prato, mais rapidamente. Quem não conhece, pelo menos uma pessoa que também come mais rapidamente ou que saboreia um bom prato de comida?

Num dado momento, a conversa estava empolgante e eu estava contando uma história para os amigos. Larguei o garfo e a faca por alguns instantes e conversava, fluente e alegremente com eles. Quando terminei minha fala, peguei novamente o garfo e a faca com a intenção de continuar a refeição, mas vi que o restante do meu peixe não estava mais ali. Perguntei: “tu comeste o meu peixe?” E o Iuri, vermelho de vergonha, respondeu: “eu pensei que tu tinhas parado de comer e resolvi me apropriar daquele apetitoso pedaço de peixe”. Eu fiquei bem contrariada – quem não ficaria? Aquele peixe estava mesmo delicioso!

Passados alguns instantes, todos caíram na risada e o Zenon disse para o Iuri: “tu perdeste alguns pontos com ela!”

Desde então, sempre que dou uma paradinha durante a refeição, aviso que pretendo voltar a comer o que está no meu prato.

Quantas vezes enfrentamos dores e dissabores por causa de um mal-entendido porque a gente acha que nossa intenção é tão óbvia que não precisa ser dita? Mas o óbvio precisa ser dito, sim!

Como é importante a gente se comunicar assertivamente, dizendo o que para nós parece óbvio, pois para o outro, pode haver um entendimento diferente, não é mesmo?

Tenho certeza de que todos conhecem alguma história como essa. Mal-entendidos podem se tornar motivos para boas risadas, como foi no meu caso, mas também podem causar problemas mais sérios...

Lembrem-se sempre disso: O óbvio precisa ser dito para que a gente não tenha o nosso “peixe” roubado.