segunda-feira, 20 de março de 2023

A FORMATURA


 Foto de Iuri Gavronski


Por Nara Maria Müller

 Do alto daquele palco, sentada à mesa de formatura eu posso ver os formandos.

Dali eu posso ver uma pequena multidão sentada naquele auditório abafado, todos emocionados e felizes.

Dali eu também posso ver a corrida frenética e cuidadosa dos fotógrafos e cinegrafistas. Afinal, nenhum movimento pode ser perdido!

Alguns bebês de colo sendo chacoalhados por seus pais para que ficassem comportados.

Comportados estavam muitos idosos, e lá pelas tantas uma senhora entra auxiliada por um andador, ladeada por duas pessoas que a protegem e orientam-lhe o caminho.

Formandos recebem seus canudos; ouvem-se os discursos emocionados das oradoras e o juramento da turma. Ah, o juramento! Ele é proferido automaticamente e eu sempre penso: Quantos se concentram no que estão dizendo?

Chega aquele momento emocionante de entregar uma flor aos familiares: pais, esposos e esposas, namorados e namoradas, alguns avós.

Um músico surge tocando Aleluia. Formandos andando em meio aquela pequena multidão, procurando pelos seus amados. E os amados ali, de pé, esperando pelo abraço e pela flor... Abraços, choros, sorrisos... Quantas histórias, fatos e lembranças passam pelas mentes de cada pessoa! Ah se pudéssemos escutar cada um desses pensamentos!

Assim são as formaturas com seus rituais semelhantes, mas únicos porque cada pessoa traz sua própria história, suas próprias dores, seus próprios desafios vencidos e suas esperanças de que agora tudo será melhor.

E eu, dali de cima do palco, à mesa da formatura, sempre me emociono, sempre choro e sorrio e sempre desejo que, de agora em diante, a vida desses formandos seja de sucesso e de mais conquistas.

Porque a vida segue, as pessoas correm, a concorrência cresce e sempre é preciso ser e saber mais.


sábado, 18 de março de 2023

As crônicas de Nara - parte V

 

Imagem de Lukas Kloeppel - Pexels.com


NEW YORK, NEW YORK – a cidade que nunca dorme

Nova Yorque, nos Estados Unidos é um dos destinos mais procurados por quem quer viajar para aquele país. Diferente de Orlando, onde fica a incrível Disneylândia, Nova Yorque é um destino especial para quem deseja fazer compras. Tudo o que tem de mais moderno, tanto no mundo da moda, quanto na tecnologia, parece ser lançado por lá, antes de ir para o resto do mundo.

O famoso cantor norte-americano, Frank Sinatra – falecido em 1998 - cantava, lindamente uma música que homenageia Nova Yorque: a cidade que nunca dorme.

Nova Yorque também foi o palco da conhecidíssima série Friends, que agitou o mundo durante suas 10 temporadas. Quem não lembra do Café Central Perk e do charmoso apartamento da Mônica Geller?

Não sei vocês, mas eu sempre sonhei em conhecer Nova Yorque, ver a Estátua da Liberdade, badalar pela cidade, visitar o Central Park e, é claro, fazer compras.

Bem...eu preciso contar que estive duas vezes em Nova Yorque, mas nenhuma dessas visitas teve o glamour que eu esperava. O máximo que eu consegui comprar por lá foram alguns cafés, uma banana, uma maçã, talvez um donut¹ e um chocolate.

Minha primeira viagem a Nova Yorque

Meu marido costumava participar de congressos científicos nos Estados Unidos, uma ou duas vezes por ano e eu nunca tinha oportunidade de acompanhá-lo devido ao meu horário de trabalho. Mas num dado momento da vida profissional, eu resolvi me tornar dona do meu tempo. Minha primeira viagem aos Estados Unidos, com o Iuri foi em novembro de 2015, para Seatle. Como eu decidi meio em cima da hora, não consegui mais viajar nos mesmos voos que ele, nem na ida e nem da volta. Cheguei um dia depois dele e voltei um dia antes. E o voo de volta tinha uma parada em Nova Yorque. Eu chegaria ao aeroporto da cidade que nunca dorme, às 5 horas da manhã e meu voo para o Brasil sairia somente às 22 horas. Um dia inteiro em Nova Yorque! Seria essa a minha grande oportunidade?

Como eu já tinha concluído duas formações em Coaching e queria publicar uma reportagem numa revista especializada, aqui no Brasil, eu programei uma entrevista com um coach novayorquino. Nos encontraríamos num Co-working, mas um dia antes de eu chegar ele cancelou o encontro por motivos de saúde na família. Fiquei chateada, mas compreendi a situação e a entrevista aconteceu por e-mail.

A viagem de Seatle até Nova Yorque foi muito cansativa e, ao chegar, imediatamente tentei embarcar minha mala grande, mas como meu voo seria somente muito mais tarde, não me permitiram fazer o checkin. Aliás, eu não podia nem ter acesso à parte nobre do aeroporto. Tinha que ficar ali, no andar térreo, até, pelo menos às 17 horas. Procurei um lugar para guardar as malas. Pensei em dar um passeio pela cidade, mas o guarda-malas só abriria lá pelas 7h30min e não aceitava pagamento em cartão de crédito. Eu não tinha sequer um dólar em espécie e os saques pelo cartão de crédito eram proibitivos, dado o valor absurdo da taxa cobrada.

E lá estava eu, com sono, com fome e com aquelas duas malas: uma grande, aquelas de 32 quilos, sabem? A outra era um pouco menor e ainda tinha mais uma mochila com meu netbook e outras coisinhas. Eu sentava aqui, sentava ali, me escorava sobre as malas e cochilava um pouco, procurava, em vão, um lugar onde pudesse acessar uma rede wifi. Imaginem só, a minha situação de estar longe do meu mundo conhecido e sem qualquer meio de comunicação com esse mundo! Eu estava incomunicável com qualquer familiar e aquele lugar era horrível, cheio de pombos comendo as migalhas de comida pelo chão, fazendo suas necessidades em qualquer lugar. Taxistas e motoristas de Uber discutindo, gente andando para lá e para cá. Ao longo do dia eu tomei uns dois cafés pequenos – quem conhece os cafés pequenos nos Estados Unidos sabe que são grandes para nossos padrões. Por lá, eles não têm nem ideia do que seja um “cafezinho”. Vocês conseguem imaginar isso?  Comi uma banana daquelas enormes, pagando 1 dólar, cada, depois foi um biscoito, um sanduíche, uma maçã... Pelo menos as cafeterias aceitavam cartão de crédito.

Fiquei 12 horas naquele submundo de Nova Yorque, indo ao banheiro com toda aquela bagagem... Um sufoco. Sabem como são aquelas cenas daquelas comédias em que os protagonistas são expostos a situações estressantes e se metem em trapalhadas? Pois bem, assim foi o meu dia em Nova Yorque.

Finalmente, às 17 horas eu fui para o paraíso do aeroporto, pude subir para a área nobre e fazer o checkin. Me liberei da mala grande e entrei numa lojinha perguntando para a atendente onde eu conseguiria acesso à rede wifi. Precisava mandar notícias para o Iuri e para a família. Nos aeroportos brasileiros a gente tem internet grátis, pelo menos por uma hora. Mas não era o caso lá em Nova Yorque. A moça disse que eu não encontraria wifi gratuito no aeroporto. Eu contei meu drama para ela que, compadecida, pediu que eu lhe entregasse o meu celular. Discretamente, ela digitou a senha da loja, cuidando para o proprietário não ver. Fiquei tão agradecida que até comprei um chocolate na loja. Sabem quando a gente tem aquela sensação de ter sido salvo e que deve sua própria vida a alguém? Saí dali e me sentei no lugar mais próximo, onde ainda conseguia manter o acesso à internet. Toda a família estava preocupada com a minha falta de notícias o dia inteiro, mas tudo acabou bem. Embarquei no meu voo para o Brasil e viajei até São Paulo. Acho que dormi a noite toda!

No aeroporto de São Paulo – não lembro se era Guarulhos ou Congonhas, eu encontrei o Iuri que pegou um voo umas 12 horas depois de mim, mas não teve que ficar aquelas horas todas preso no porão do aeroporto de New York.

Enfim, quando a gente faz coisas sem planejar antecipadamente, tem que se contentar com o resultado, que, nem sempre é tão glamouroso quanto poderia ser.

 

Minha segunda viagem a Nova Yorque

Maio de 2019, nossa última viagem internacional antes da pandemia. O destino era Boston, nos Estados Unidos, onde Iuri e eu participaríamos de um congresso de Administração.

Nossa primeira parada foi em Nova Yorque, aonde chegamos em torno de 10 horas da manhã. O voo para Boston só sairia às 17 horas, mas deveríamos tomar um trem para ir de um aeroporto para o outro. A estação era bem pertinho do Central Park e o Iuri me convidou para dar uma caminhada até o parque. Cada um de nós carregava uma mala daquelas grandes e duas bagagens de mão. Eu recusei o convite pois já sabia como era ruim caminhar por horas puxando aquela bagagem toda. Então ele me convenceu a dar uma caminhada por algumas quadras e acabamos fazendo um lanche, ao meio-dia, num Mc Donalds. A refeição demorou mais tempo do que prevíamos e o tempo ia passando. Caminhamos o mais rápido possível até a estação e o Iuri correu até a bilheteria, enquanto eu fiquei pertinho dos portões com as duas malas grandes e as bagagens de mão. Assim, ele poderia correr por dentro da estação, que era enorme. Ele demorou um tempão até retornar e me entregou meu tíquete. Correu com as suas malas e bagagens e cruzou a catraca. Eu passei o tíquete, mandei as duas malas e a catraca trancou. Para passar para o outro lado, eu precisaria de outro tíquete e não dava mais tempo de voltar e comprar. Fico pensando em quantas pessoas já passaram por esse infortúnio que eu estava passando. Seria eu a única tola no mundo?

O Iuri, apavorado me disse: “pula por cima da catraca!” Eu dizia que não pularia, pois haviam seguranças olhando e eu não queria ser presa em Nova Yorque. Mas a pressão era grande e eu pulei sobre a catraca, sob os olhares dos seguranças. Acho que eles ficaram penalizados e fizeram de conta que não tinham visto. Mas eu lembro de dizer para o Iuri que ele não deveria ter feito isso com uma mulher de 60 anos de idade. Hoje eu me arrependo de não ter deixado ele tirar umas fotos daquela cena, porque deve ter sido muito engraçada!

O ônibus atrasou, nós atrasamos e perdemos o voo para Boston. Ficamos sabendo que havia um voo cancelado naquele mesmo dia e que a lista de espera por vagas nos próximos era imensa. E, é claro, os passageiros do voo cancelado tinham prioridade. Nos aconselharam a ficar num hotel e voltar na manhã seguinte, mas nós tínhamos que estar em Boston, na manhã seguinte. Além disso, como professores universitários, nossas verbas eram restritas e todos os gastos extras estavam fora de cogitação.

Acho que conseguimos despachar as malas grandes e ficamos somente com as duas bagagens de mão - cada um de nós com as suas. Entramos na sala de embarque e, a cada voo para Boston, ficávamos aguardando a possibilidade de embarcarmos. Pensem numa mulher furiosa com o marido! Essa mulher era eu. Mais uma vez, Nova Yorque tinha sido hostil comigo.

Lá pelas tantas o Iuri me perguntou se eu queria um lanche e eu disse que não queria coisa alguma. Ele foi comprar algo e me trouxe um chocolate. Nem lembro se eu aceitei ou não – hehehe.

Era quase meia noite quando anunciaram a partida dos dois últimos voos para Boston. Iuri conseguiu vaga num deles e eu no outro.

As viagens são assim mesmo. Mesmo planejadas, às vezes surgem infortúnios, mas o jeito é encarar com leveza que tudo dá certo no final.

O engraçado é que quando a gente sabe que alguém vai viajar para o exterior, costuma pensar que tudo será maravilhoso, não é mesmo? E, na maioria das vezes, mesmo que algumas coisas deem errado, dificilmente eles nos contarão.

¹Um donut, doughnut, dónute, rosca ou rosquinha é um pequeno bolo em forma de rosca, popular nos Estados Unidos e de origem incerta. Consiste numa massa açucarada frita, que pode ser coberta com diversos tipos de cobertura doce e colorida, como por exemplo chocolate. Wikipédia

sexta-feira, 17 de março de 2023

As crônicas de Nara - parte IV


imagem by Pexels-kindle-media

 O DIRETOR DE ARMAS

 Por Nara Maria Müller

Em tempos de escassez de oferta de empregos, ou de falta de qualificação das pessoas para ocuparem as vagas existentes, eu sempre fico pensando qual é a razão dessa incoerência. Ou qual seria a solução para esse problema?

Quando estudamos matemática na escola, aprendemos algumas fórmulas e todas elas têm um sinal de igualdade (=) entre um lado e outro, não é verdade?

É claro que no quesito social, a maioria das situações não apresentam esse sinal de igualdade e, sim, uma desigualdade tremenda.

Mas enquanto você e eu pensamos nas razões ou nas possíveis soluções para essas desigualdades, quero contar o quanto eu me surpreendi, certo dia, com a existência de uma profissão que nunca tinha imaginado que existisse.

Era uma manhã ensolarada e o mês era dezembro de 2022.  Eu peguei carona no carro de um motorista de aplicativo BlaBlaCar e nós fomos conversando ao longo do caminho, até chegarmos a uma parada de ônibus, próxima aos belos condomínios de Tramandaí, onde embarcou mais um passageiro.

Desde que esse passageiro entrou no carro, as conversas ficaram, praticamente toda a viagem entre ele e o motorista. Eles falavam sobre suas paixões por motocicletas, sobre o trânsito e coisas assim.  Somente depois que o passageiro foi deixado em seu destino, é que o motorista e eu retomamos nossa conversa.

Ele me perguntou sobre a saúde do meu pai, que estava internado num hospital de Porto Alegre, para onde eu estava indo.

Seguimos falando sobre família, trânsito, riscos e ele comentou que, entre outras funções, ele é diretor de armas de filmes. Eu perguntei o que faz um diretor de armas e ele me explicou: “é o especialista em armas que acompanha filmagens onde os atores usam armas de fogo. Esse especialista é responsável pela segurança dos atores e demais integrantes do set de filmagens”.

Me contou de certa feita quando alguns atores nacionais gravavam na serra gaúcha e o diretor do filme deu ordem para iniciarem a gravação de uma cena. “Quando o diretor gritou: AÇÃO, eu gritei: CORTA”, me contou o motorista do aplicativo. “Se eles seguissem com a filmagem da cena, mesmo usando munição de festim, o ator teria sido queimado devido à proximidade da arma em relação ao seu corpo”, complementou.

Segundo ele, foi preciso exemplificar, atirando com uma arma munida de festim, contra uma folha de papel, a uma distância considerada de risco. A folha chamuscou. Então, mesmo inconformados, o diretor e os atores aceitaram o corte imposto pelo especialista e filmaram a uma distância segura entre o ator e a arma.

Meu motorista também é membro da Polícia Militar e atuou por uns 20 anos nas ruas, sendo instrutor de armamento e tiro. Ele também me contou sobre uma gravação onde, monitoradamente, houve uso de munição real para manuseio no set de filmagem. Contou-me que fez uma breve preleção com os atores, dizendo a eles que atiraria contra qualquer ator que apontasse uma arma carregada com munição de verdade, para uma pessoa daquele set, ou em cena. Alertou-os de que estaria fazendo legítima defesa de terceiros, deixando bem claro a importância de uma instrução sobre armamento. Cada decisão tomada individualmente, no uso inadequado de uma arma de fogo pode gerar situações bem indesejadas.

Meu interlocutor lembrou daquela tragédia que envolveu o ator Alec Baldwin, há algum tempo. “Se aquelas filmagens contassem com um especialista em armas, aquela tragédia teria sido evitada, demonstrando a importância de um especialista, quando se trata de manuseio tanto de arma de fogo quanto de simulacro”, complementou o motorista do BlaBlaCar.

Fiquei refletindo sobre essa profissão que eu nem imaginava que existisse e em quantas outras por aí que a gente nunca ouviu falar e nas oportunidades de se criarem outras tantas.

Todos nós, ou a maioria de nós já teve que parar um dia para pensar no que queria ser quando crescesse. E, durante a trajetória profissional, muitas vezes tivemos que repensar, mudar os rumos da nossa jornada... Quem de nós já pensou em criar uma profissão, ou procurar algo diferente daquelas profissões básicas como ser professor, médico, construtor, engenheiro, bancário, etc?

Quanta gente está envolvida em cada elaboração de produtos, em cada serviço prestado. Quanta gente que não é reconhecida e nem mesmo percebida!

As crônicas de Nara - parte III

 




MÃE APARECIDA: a emoção de estar na Tua presença
Por Nara Maria Müller

Viajar e conhecer lugares novos é algo maravilhoso, não é mesmo? Alguns lugares são tão encantadores e nos provocam tantas emoções, que a gente até gosta de revisitá-los, de vez em quando.

No Brasil, um dos destinos que são frequentados e visitados, por mais de uma vez, é o Santuário de Aparecida, em São Paulo.

Era final do ano de 2019, quando, finalmente, eu fui conhecer o Santuário de Aparecida, em São Paulo. Era um sonho dos meus pais e um desejo meu e do meu esposo.

Bem cedinho, naquele domingo, 28 de dezembro, nós quatro saímos de Tramandaí em direção ao Santuário de Aparecida. Fomos de carro e paramos algumas vezes para descansar, comer alguma coisa ou contemplar as belas paisagens. Pernoitamos em São José dos Pinhais, no Paraná, num hotel simples, na beira da rodovia. Lembro que ficamos num quarto grande, com três camas de solteiro e um beliche.  Na manhã seguinte, após um gostoso desjejum, nós partimos para nosso destino e chegamos em Aparecida ao entardecer do dia 29. Na chegada à cidade, já se via as luzes da Catedral e um grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, sobre um morro. Subimos as escadas até quarto andar, onde ficava nosso apartamento. O Iuri e o meu pai saíram para comprar pizzas para nossa janta, enquanto minha mãe e eu arrumávamos as camas e tomávamos banho.

Ao amanhecer de terça-feira, quando minha mãe e eu ainda estávamos dormindo, meu pai e o Iuri saíram para uma caminhada. Foram até o Santuário, tomaram um chimarrão no caminho e voltaram para o café da manhã.

Depois do café, nós quatro fomos até o Santuário – de carro, porque os meninos já tinham caminhado bastante e não era tão pertinho como parecia. Além disso, Aparecida é uma cidade com muitas ladeiras, que precisam ser vencidas para se chegar ao Santuário.

Lembro do Iuri mencionar o quanto meu pai tinha se emocionado ao ficar frente a frente com a imagem de Nossa Senhora Aparecida - aquela que foi encontrada no rio, pelos pescadores e que está dentro da Catedral. Eu pensei: “deve ser legal mesmo”, mas nunca imaginei o que eu mesma sentiria ao chegar nesse local...

Dentro da Catedral, nós rezamos um dos vários terços diários de Aparecida. Me chamou a atenção o fato de que,  a cada nova dezena eram convidadas dez pessoas dentre as que estavam na Catedral, para subirem ao altar e rezarem uma das Ave-Marias do terço.

Estávamos de frente para a imagem original da Santa, que fica num mezanino, dentro de uma espécie de sacrário dourado. Quem já visitou o Santuário, sabe que a Catedral é imensa e a imagem de Nossa Santa Padroeira parece pequena para quem está próximo ao altar.

Quando subimos ao mezanino, entramos numa longa fila de romeiros que paravam, por alguns instantes, na frente da imagem da Mãe Aparecida. Tudo calmo até ali. Na minha frente estava um casal bem jovem. Os dois conversavam e riam enquanto caminhavam, vagarosamente, seguindo a velocidade da fila. Atrás de mim estavam meus pais.

Quando chegou a vez do casal à minha frente contemplar a imagem, eles se abraçaram e choraram. Naquele momento, eu comecei a entender a emoção que meu pai sentira mais cedo.

A próxima da fila era eu e, ao olhar para aquela imagem da Mãe Aparecida, não me contive e chorei. Me voltei para trás e abracei meu pai e minha mãe, totalmente emocionada. Agradeci a Deus pela oportunidade que tinha me dado de estar ali com as pessoas que me deram a vida.

Quantas vezes, ao longo das nossas vidas deparamos coisas que nos impressionam, nos sensibilizam e nos fazem rir e chorar? Nesses momentos nós sentimos a presença do Deus criador, de Jesus, nosso irmão e de nossa Mãe amorosa!

quarta-feira, 15 de março de 2023

As crônicas de Nara - Parte II

 


O ROUBO DO PEIXE: falando o óbvio para evitar mal-entendidos

Por Nara Maria Müller

Quantas vezes a gente já teve a experiência de coisas que deveriam ter acontecido de um jeito, mas aconteceram de outro? Quantas dessas coisas que não saíram como imagináramos poderiam ter dado certo, não fosse por algum mal-entendido?

Mal-entendidos acontecem com mais frequência do que nós podemos imaginar. Acontecem na vida familiar, na vida social e no nosso trabalho.

Em 2007 meu marido e eu fomos morar no Canadá, na cidade de Londres, na província de Ontário. Chegamos em março de 2007 e voltamos ao Brasil em janeiro de 2008.

Conhecemos várias pessoas, fizemos bons amigos e, entre eles, o Zenon e a Mary-Anne.

Em dezembro de 2007, faltando um mês para voltarmos ao Brasil, Zenon e Mary-Anne começaram a nos levar para vários lugares que ainda não tínhamos conhecido, a fim de termos mais tempo juntos.

Numa noite gelada, com a neve caindo sobre a cidade, fomos jantar no restaurante McGuinnes. Eu escolhi um prato com peixe, batatas e legumes. O Iuri pediu alguma outra coisa, que não lembro mais o que era.

Eu tenho o hábito de comer devagar, saboreando a comida e o Iuri, em geral, devora seu prato, mais rapidamente. Quem não conhece, pelo menos uma pessoa que também come mais rapidamente ou que saboreia um bom prato de comida?

Num dado momento, a conversa estava empolgante e eu estava contando uma história para os amigos. Larguei o garfo e a faca por alguns instantes e conversava, fluente e alegremente com eles. Quando terminei minha fala, peguei novamente o garfo e a faca com a intenção de continuar a refeição, mas vi que o restante do meu peixe não estava mais ali. Perguntei: “tu comeste o meu peixe?” E o Iuri, vermelho de vergonha, respondeu: “eu pensei que tu tinhas parado de comer e resolvi me apropriar daquele apetitoso pedaço de peixe”. Eu fiquei bem contrariada – quem não ficaria? Aquele peixe estava mesmo delicioso!

Passados alguns instantes, todos caíram na risada e o Zenon disse para o Iuri: “tu perdeste alguns pontos com ela!”

Desde então, sempre que dou uma paradinha durante a refeição, aviso que pretendo voltar a comer o que está no meu prato.

Quantas vezes enfrentamos dores e dissabores por causa de um mal-entendido porque a gente acha que nossa intenção é tão óbvia que não precisa ser dita? Mas o óbvio precisa ser dito, sim!

Como é importante a gente se comunicar assertivamente, dizendo o que para nós parece óbvio, pois para o outro, pode haver um entendimento diferente, não é mesmo?

Tenho certeza de que todos conhecem alguma história como essa. Mal-entendidos podem se tornar motivos para boas risadas, como foi no meu caso, mas também podem causar problemas mais sérios...

Lembrem-se sempre disso: O óbvio precisa ser dito para que a gente não tenha o nosso “peixe” roubado.