domingo, 3 de setembro de 2023

Memórias de um amor sem fim

 


Por Nara Maria Müller – 03 de setembro de 2023

 

Quando te amei primeiro, eu nem me lembro

Ainda era bem pequena quanto te conheci

Tenho na memória um certo mês de novembro

Quando te vi pela primeira vez e nunca mais te esqueci

Pular sobre aqueles rolos d’água parecia uma coisa à toa

Lembro até da medusa que se enrolou no meu braço, um dia

Eu ficava mostrando o bracinho para cada pessoa

Querendo me queixar da queimadura que doía

Um dia, depois de tantas férias curtidas com a família

Realizei o sonho que é igual ao sonho de tanta gente

Saí daquela casa grande e cheia de mobília

E vim para este lugar que faz tanto bem para minha mente

E todo dia, não importa se o astro rei está ali a te iluminar

Ou se a chuva está caindo em profusão

Mesmo que a neblina tente ocultar a tua beleza sem par

Me recarrego da tua energia e da tua inspiração.

Gosto de parar e ver o vento soprando contra o teu andar

E de ver teus cachos brancos se despenteando

Da infância, correndo contra o vento, fico a me lembrar

E sinto a felicidade de estar ali, somente te vendo e te amando

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Mary Anne

 In 2007 I met an angel. And now she has gone to Heaven.

I got a scholarship when I was a PhD candidate to study for one year abroad. And I was accepted at the
prestigious Ivey Business School, in London, Ontario. Looks fancy, and in some ways, it is, but there was a catch. I got a small scholarship, compared to the living costs in London. I then sent emails to several homeowners explaining my situation and two of them returned. One of them was Mary Anne. Back then, she and her husband, Zenon, had a small side business: renting housing for students.

We live in south Brazil. It is cold here, for the Brazilian standards. Eventually, on colder nights, in the mountains, it can get to -5ºC. Where I live, when it is +5ºC, everyone is shivering and complaining. Anyway, we got to Canada in March 2007, when it was not that cold. It was -12ºC during the day – we never saw that cold! We never had the experience of walking on sidewalks covered with inches of snow. Then we had it. The one person that got it was Mary Anne. She was working as the director of the Nursing School at the Western University back then, but she sent Zenon to rescue us. For the rest of Canadians, maybe, it was just a pickup. But for us, Zenon was rescuing us from the slippery and cold Canadian Spring. We met her the following day. She summoned Zenon to go with us to the used furniture stores. She was having fun at those shops!

To make a long story short, from landlords we became friends. From time to time, Nara had to call
Mary Anne to rescue me from my downs in my research. And everyone undergoing the painful research learning process knows what I mean. 


We never lost connection when I came back to Brazil. I got another grant for a sabbatical in 2017, and we went back to London, Ontario. They visited us in Brazil in 2020, just before the shutdown of international flights due to the covid-19 pandemics. We had so many good moments together.

From time to time, we chatted over the internet. Sometimes video, sometimes just text. She eventually sent me a funny photo of a VW Kombi. Then, we found out she had leukemia. It was under control, she said. Then I got the notice, yesterday, she was in the hospital. She was fine by early April, then she started having pains in the stomach. They diagnosed with colon cancer. She was then submitted to surgery. When they opened her up, they found out that the cancer was intertwined with her blood vessels and did not remove it. She has been under paliative treatment since then. Yesterday, she passed away having the company of her beloved husband Zenon.

In 2007 I met an angel. And now she left us.



quinta-feira, 4 de maio de 2023

ODE AO EMPREENDEDOR

 

Image by: Helena Jankovičová Kováčová at Pexels.com


Por Nara Maria Müller

 

Desde criança ele queria ser rico

E querendo ser rico, pensava qual  a melhor opção

Dia após dia, ia ele, o pequeno Nico

Ia para a escola, ia para a igreja e conversava com o professor João.

 

O Nico gostava de pescar

Pois a pescaria era o ganha vida dos seus pais

Dos seus tios e do poderoso mercador, o senhor Oscar

O rico senhor Oscar sempre chegava e partia do mesmo cais.

 

Vivendo na simplicidade que o dinheiro da família lhe provia

Lá ia o Nico ouvir os conselhos do professor João

Ter um armazém para vender peixes naquela baía

Tornou-se a vontade do menino que crescia como um pé de feijão.

 

Estudar era o melhor caminho, sugeria o astuto professor

E se envolvendo nos livros de geografia, matemática
e língua portuguesa

O Nico desenvolvia suas competências para ser um empreendedor

Um dia chegaria lá, pensava o Nico, com a ideia sempre acesa.

 

Eis que o Nico conseguiu um emprego na empresa do senhor Oscar

Aprendeu a arte da negociação, da compra, da venda e da evolução

Alugou um galpão e lá estabeleceu seu negócio pertinho do mar

Com os ensinamentos dos pais, do professor e do Capelão.

Tornou-se o Nico um empresário de sucesso

Sempre honesto, Nico dedicava sua vitória, com gratidão

A todos os que contribuíram com o seu próprio progresso.

sexta-feira, 17 de março de 2023

As crônicas de Nara - parte IV


imagem by Pexels-kindle-media

 O DIRETOR DE ARMAS

 Por Nara Maria Müller

Em tempos de escassez de oferta de empregos, ou de falta de qualificação das pessoas para ocuparem as vagas existentes, eu sempre fico pensando qual é a razão dessa incoerência. Ou qual seria a solução para esse problema?

Quando estudamos matemática na escola, aprendemos algumas fórmulas e todas elas têm um sinal de igualdade (=) entre um lado e outro, não é verdade?

É claro que no quesito social, a maioria das situações não apresentam esse sinal de igualdade e, sim, uma desigualdade tremenda.

Mas enquanto você e eu pensamos nas razões ou nas possíveis soluções para essas desigualdades, quero contar o quanto eu me surpreendi, certo dia, com a existência de uma profissão que nunca tinha imaginado que existisse.

Era uma manhã ensolarada e o mês era dezembro de 2022.  Eu peguei carona no carro de um motorista de aplicativo BlaBlaCar e nós fomos conversando ao longo do caminho, até chegarmos a uma parada de ônibus, próxima aos belos condomínios de Tramandaí, onde embarcou mais um passageiro.

Desde que esse passageiro entrou no carro, as conversas ficaram, praticamente toda a viagem entre ele e o motorista. Eles falavam sobre suas paixões por motocicletas, sobre o trânsito e coisas assim.  Somente depois que o passageiro foi deixado em seu destino, é que o motorista e eu retomamos nossa conversa.

Ele me perguntou sobre a saúde do meu pai, que estava internado num hospital de Porto Alegre, para onde eu estava indo.

Seguimos falando sobre família, trânsito, riscos e ele comentou que, entre outras funções, ele é diretor de armas de filmes. Eu perguntei o que faz um diretor de armas e ele me explicou: “é o especialista em armas que acompanha filmagens onde os atores usam armas de fogo. Esse especialista é responsável pela segurança dos atores e demais integrantes do set de filmagens”.

Me contou de certa feita quando alguns atores nacionais gravavam na serra gaúcha e o diretor do filme deu ordem para iniciarem a gravação de uma cena. “Quando o diretor gritou: AÇÃO, eu gritei: CORTA”, me contou o motorista do aplicativo. “Se eles seguissem com a filmagem da cena, mesmo usando munição de festim, o ator teria sido queimado devido à proximidade da arma em relação ao seu corpo”, complementou.

Segundo ele, foi preciso exemplificar, atirando com uma arma munida de festim, contra uma folha de papel, a uma distância considerada de risco. A folha chamuscou. Então, mesmo inconformados, o diretor e os atores aceitaram o corte imposto pelo especialista e filmaram a uma distância segura entre o ator e a arma.

Meu motorista também é membro da Polícia Militar e atuou por uns 20 anos nas ruas, sendo instrutor de armamento e tiro. Ele também me contou sobre uma gravação onde, monitoradamente, houve uso de munição real para manuseio no set de filmagem. Contou-me que fez uma breve preleção com os atores, dizendo a eles que atiraria contra qualquer ator que apontasse uma arma carregada com munição de verdade, para uma pessoa daquele set, ou em cena. Alertou-os de que estaria fazendo legítima defesa de terceiros, deixando bem claro a importância de uma instrução sobre armamento. Cada decisão tomada individualmente, no uso inadequado de uma arma de fogo pode gerar situações bem indesejadas.

Meu interlocutor lembrou daquela tragédia que envolveu o ator Alec Baldwin, há algum tempo. “Se aquelas filmagens contassem com um especialista em armas, aquela tragédia teria sido evitada, demonstrando a importância de um especialista, quando se trata de manuseio tanto de arma de fogo quanto de simulacro”, complementou o motorista do BlaBlaCar.

Fiquei refletindo sobre essa profissão que eu nem imaginava que existisse e em quantas outras por aí que a gente nunca ouviu falar e nas oportunidades de se criarem outras tantas.

Todos nós, ou a maioria de nós já teve que parar um dia para pensar no que queria ser quando crescesse. E, durante a trajetória profissional, muitas vezes tivemos que repensar, mudar os rumos da nossa jornada... Quem de nós já pensou em criar uma profissão, ou procurar algo diferente daquelas profissões básicas como ser professor, médico, construtor, engenheiro, bancário, etc?

Quanta gente está envolvida em cada elaboração de produtos, em cada serviço prestado. Quanta gente que não é reconhecida e nem mesmo percebida!

As crônicas de Nara - parte III

 




MÃE APARECIDA: a emoção de estar na Tua presença
Por Nara Maria Müller

Viajar e conhecer lugares novos é algo maravilhoso, não é mesmo? Alguns lugares são tão encantadores e nos provocam tantas emoções, que a gente até gosta de revisitá-los, de vez em quando.

No Brasil, um dos destinos que são frequentados e visitados, por mais de uma vez, é o Santuário de Aparecida, em São Paulo.

Era final do ano de 2019, quando, finalmente, eu fui conhecer o Santuário de Aparecida, em São Paulo. Era um sonho dos meus pais e um desejo meu e do meu esposo.

Bem cedinho, naquele domingo, 28 de dezembro, nós quatro saímos de Tramandaí em direção ao Santuário de Aparecida. Fomos de carro e paramos algumas vezes para descansar, comer alguma coisa ou contemplar as belas paisagens. Pernoitamos em São José dos Pinhais, no Paraná, num hotel simples, na beira da rodovia. Lembro que ficamos num quarto grande, com três camas de solteiro e um beliche.  Na manhã seguinte, após um gostoso desjejum, nós partimos para nosso destino e chegamos em Aparecida ao entardecer do dia 29. Na chegada à cidade, já se via as luzes da Catedral e um grande imagem de Nossa Senhora Aparecida, sobre um morro. Subimos as escadas até quarto andar, onde ficava nosso apartamento. O Iuri e o meu pai saíram para comprar pizzas para nossa janta, enquanto minha mãe e eu arrumávamos as camas e tomávamos banho.

Ao amanhecer de terça-feira, quando minha mãe e eu ainda estávamos dormindo, meu pai e o Iuri saíram para uma caminhada. Foram até o Santuário, tomaram um chimarrão no caminho e voltaram para o café da manhã.

Depois do café, nós quatro fomos até o Santuário – de carro, porque os meninos já tinham caminhado bastante e não era tão pertinho como parecia. Além disso, Aparecida é uma cidade com muitas ladeiras, que precisam ser vencidas para se chegar ao Santuário.

Lembro do Iuri mencionar o quanto meu pai tinha se emocionado ao ficar frente a frente com a imagem de Nossa Senhora Aparecida - aquela que foi encontrada no rio, pelos pescadores e que está dentro da Catedral. Eu pensei: “deve ser legal mesmo”, mas nunca imaginei o que eu mesma sentiria ao chegar nesse local...

Dentro da Catedral, nós rezamos um dos vários terços diários de Aparecida. Me chamou a atenção o fato de que,  a cada nova dezena eram convidadas dez pessoas dentre as que estavam na Catedral, para subirem ao altar e rezarem uma das Ave-Marias do terço.

Estávamos de frente para a imagem original da Santa, que fica num mezanino, dentro de uma espécie de sacrário dourado. Quem já visitou o Santuário, sabe que a Catedral é imensa e a imagem de Nossa Santa Padroeira parece pequena para quem está próximo ao altar.

Quando subimos ao mezanino, entramos numa longa fila de romeiros que paravam, por alguns instantes, na frente da imagem da Mãe Aparecida. Tudo calmo até ali. Na minha frente estava um casal bem jovem. Os dois conversavam e riam enquanto caminhavam, vagarosamente, seguindo a velocidade da fila. Atrás de mim estavam meus pais.

Quando chegou a vez do casal à minha frente contemplar a imagem, eles se abraçaram e choraram. Naquele momento, eu comecei a entender a emoção que meu pai sentira mais cedo.

A próxima da fila era eu e, ao olhar para aquela imagem da Mãe Aparecida, não me contive e chorei. Me voltei para trás e abracei meu pai e minha mãe, totalmente emocionada. Agradeci a Deus pela oportunidade que tinha me dado de estar ali com as pessoas que me deram a vida.

Quantas vezes, ao longo das nossas vidas deparamos coisas que nos impressionam, nos sensibilizam e nos fazem rir e chorar? Nesses momentos nós sentimos a presença do Deus criador, de Jesus, nosso irmão e de nossa Mãe amorosa!

quarta-feira, 15 de março de 2023

As crônicas de Nara - Parte II

 


O ROUBO DO PEIXE: falando o óbvio para evitar mal-entendidos

Por Nara Maria Müller

Quantas vezes a gente já teve a experiência de coisas que deveriam ter acontecido de um jeito, mas aconteceram de outro? Quantas dessas coisas que não saíram como imagináramos poderiam ter dado certo, não fosse por algum mal-entendido?

Mal-entendidos acontecem com mais frequência do que nós podemos imaginar. Acontecem na vida familiar, na vida social e no nosso trabalho.

Em 2007 meu marido e eu fomos morar no Canadá, na cidade de Londres, na província de Ontário. Chegamos em março de 2007 e voltamos ao Brasil em janeiro de 2008.

Conhecemos várias pessoas, fizemos bons amigos e, entre eles, o Zenon e a Mary-Anne.

Em dezembro de 2007, faltando um mês para voltarmos ao Brasil, Zenon e Mary-Anne começaram a nos levar para vários lugares que ainda não tínhamos conhecido, a fim de termos mais tempo juntos.

Numa noite gelada, com a neve caindo sobre a cidade, fomos jantar no restaurante McGuinnes. Eu escolhi um prato com peixe, batatas e legumes. O Iuri pediu alguma outra coisa, que não lembro mais o que era.

Eu tenho o hábito de comer devagar, saboreando a comida e o Iuri, em geral, devora seu prato, mais rapidamente. Quem não conhece, pelo menos uma pessoa que também come mais rapidamente ou que saboreia um bom prato de comida?

Num dado momento, a conversa estava empolgante e eu estava contando uma história para os amigos. Larguei o garfo e a faca por alguns instantes e conversava, fluente e alegremente com eles. Quando terminei minha fala, peguei novamente o garfo e a faca com a intenção de continuar a refeição, mas vi que o restante do meu peixe não estava mais ali. Perguntei: “tu comeste o meu peixe?” E o Iuri, vermelho de vergonha, respondeu: “eu pensei que tu tinhas parado de comer e resolvi me apropriar daquele apetitoso pedaço de peixe”. Eu fiquei bem contrariada – quem não ficaria? Aquele peixe estava mesmo delicioso!

Passados alguns instantes, todos caíram na risada e o Zenon disse para o Iuri: “tu perdeste alguns pontos com ela!”

Desde então, sempre que dou uma paradinha durante a refeição, aviso que pretendo voltar a comer o que está no meu prato.

Quantas vezes enfrentamos dores e dissabores por causa de um mal-entendido porque a gente acha que nossa intenção é tão óbvia que não precisa ser dita? Mas o óbvio precisa ser dito, sim!

Como é importante a gente se comunicar assertivamente, dizendo o que para nós parece óbvio, pois para o outro, pode haver um entendimento diferente, não é mesmo?

Tenho certeza de que todos conhecem alguma história como essa. Mal-entendidos podem se tornar motivos para boas risadas, como foi no meu caso, mas também podem causar problemas mais sérios...

Lembrem-se sempre disso: O óbvio precisa ser dito para que a gente não tenha o nosso “peixe” roubado.