Hoje participei do seminário sobre mudanças climáticas na University of Western Ontario.
Esse seminário foi uma promoção conjunta da administração e da engenharia ambiental da Western. A Tima Bansal, que é a diretora do Centro de Sustentabilidade da Ivey Business School, e o Robert Bailey, que é o diretor do Instituto de Pesquisa Ambiental na Western, têm uma boa interação, e as duas unidades da Western colaboram bastante entre si (coisa rara em universidades, como se sabe...).
Como foi a dinâmica da coisa. Começava às 11h da manhã (preciso dizer que começou no horário?), mas já havia café, cookies, sanduíches, suco e água para quem quisesse fazer um lanche um pouquinho antes. Depois de falarem, o Rob e a Tima, por 10 minutos, o moderador apresentou o primeiro palestrante. Cada um falou por exatos 10 minutos. Meio-dia, tivemos um intervalo de 5 minutos para pegar um sanduíche e um café (dentro da sala) e voltarmos para uma plenária de discussão, com perguntas e respostas. A foto no início do post mostra o momento da plenária.
O nome do primeiro palestrante é Gordon Southam. Ele é pesquisador em geomicrobiologia (vixi!), que parece uma cruza de geologia com biologia. Ele e o aluno de doutorado dele estão pesquisando bactérias que possam "seqüestrar" o gás carbônico da atmosfera, reduzindo assim o efeito estufa. A idéia é fantástica, porque nos libera para ter nosso carrinho e andar de avião sem ter tanta culpa... hehehe!
Depois, falou o Franco Berruti. Ele era o diretor da escola de engenharia da Western e agora é o diretor do recém-criado centro de biocombustíveis. Ele mostrou que a produção de etanol a partir de milho é tão ineficiente que apenas 15% da biomassa é transformada em combustível -- 85% é resíduo! Então eles estão pesquisando um processo de pirólise que possa ser aplicado em usinas estáticas e em unidades móveis, para tratar o resíduo agrícola na própria fazenda. Eu achei isso uma idéia ótima, pois além de transformar o resíduo em combustível, evita a poluição de ter que transportar todo esse resíduo para uma usina de processamento. Só para ter uma idéia da dimensão do que estamos falando, vou apresentar uns dados da palestra dele. O mundo consome de energia 440 Exajoules por ano (440x1018 Joules, uma medida de energia - se você ainda não entendeu o que são Exajoules, presta só atenção nos números). Desses 440 EJ/ano, 100 EJ/ano são consumidos pelos Estados Unidos. Das diversas fontes alternativas de energia, só o resíduo da agricultura, que hoje só serve para poluir, tem condições de gerar 100 EJ/ano! Ou seja, com o que tocamos fora hoje na agricultura, teríamos condições de abastecer os Estados Unidos inteiros (ou 1/3 da necessidade energética do resto do mundo) de energia, não por um ano, mas indefinidamente!
Depois falou o Gordon McBean, que é um professor de física aposentado. A área dele era climatologia, estudos atmosféricos, algo assim. Hoje ele tem um assento no IPCC (painel interministerial de mudanças climáticas), um dos grandes organismos a tratar do assunto do clima do ponto de vista de regulamentação, pesquisas, etc. E é o diretor de estudos de políticas, do "Instituto para a Redução de Perdas Catastróficas" (vixi!). Os dados deles são impressionantes. Não consegui anotar quando, mas existem estimativas de que em alguns anos, London (Ontario) pode ter até 60 dias/ano de temperaturas altas (>30°C)
Depois falou a Dianne Cunningham. Ela é a diretora do centro nacional Lawrence para gestão e políticas públicas, que fica na Ivey. Ela falou sobre o esforço para influenciar as políticas públicas, em qualquer esfera, e chamá-los para o debate de temas importantes, e tecnicamente complexos, como a sustentabilidade, e dos esforços que seu centro vem fazendo para isso.
Finalmente, um professor de ciências políticas da Western, Radoslav Dimitrov, trouxe um relato sobre a Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, que ocorreu em Bali (dezembro de 2007), à qual ele esteve presente. Essa conferência de Bali está discutindo a política internacional para a questão do clima, pois o protocolo de Quioto vence em 2012, e a ONU pretende ter um acordo/tratado internacional (ainda não se sabe bem o formato final) que substitua. O protocolo de Quioto é o atual tratado internacional que fixa metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.
Para variar, eu tinha que fazer duas perguntas, na sessão de perguntas e respostas: a opinião deles sobre o uso da terra para produção de biocombustíveis x alimentos x florestas, e sobre o impacto do milho no solo, uma vez que os preços do milho não param de subir e corremos o risco dos produtores começarem a plantar milho uma safra atrás da outra, acabando com os nutrientes do solo. O professor Berruti concordou que a produção de milho terá que ser intercalada com outras culturas. Segundo ele, deverá haver regulamentação pública para isso, pois se ficar por conta dos agricultores e da indústria de biocombustíveis, as safras de milho se sucederão infinitamente.
Para terminar, deixo aqui uma frase do professor Dimitrov, que gostei muito. Alguém da platéia perguntou se não havia um vácuo de liderança nessa questão da mudança climática (aliás, o governo canadense está fazendo umas coisas meio feias nessa área... posso elaborar melhor isso depois). A essa dúvida, o professor respondeu: "Mudança climática é um assunto muito importante para ser deixado para os governos. Nós temos que fazer alguma coisa. Nem que seja andar menos de carro!"
Taí. Não dá para ficar esperando...