Situações Conhecidas
No Brasil, a gente já está acostumado com a caça às latinhas de alumínio. Todo dia de coleta de lixo seco é a mesma coisa: os caras vêm, reviram teu lixo, tiram as latas de alumínio e vão embora, às vezes deixando para trás um rastro de papéis, vidros e latas espalhados. Tudo muito bonito.
Outro dia desses vi um casal fazendo quase a mesma coisa em London. O lixo reciclável é deixado em umas caixas azuis de plástico, na véspera da coleta. Até faz sentido, porque a caixa é reutilizável, mas os saquinhos de plástico com os quais embalamos nossos lixos no Brasil não... No verão, como anoitece às 9 horas, vi esse casal passando e catando as latinhas de alumínio, e deixando o resto dentro da caixa.
Mas cena estranha aconteceu essa semana. Estava eu trabalhando em um dos meus artigos, quando ouvi um barulho de coisa revirada na rua. Eram 3h30 da madrugada de quarta para quinta-feira, e eu estava trabalhando de janeila escancarada, por causa do calor do aquecedor. Lá fora -2°C ("not cold", dizem por aqui) e eu dentro de casa torrando. O problema é que ouço tudo o que passa lá fora: a gurizada saindo do Cowboys Ranch, os carros. Essa noite eu ouvi esse barulho de coisa revirada. Coloquei a cabeça para fora da janela para ver, e estava lá ele: um catador de latas de alumínio, revirando nossa caixa de lixo reciclável. Pô, o cara no frio, a essa hora da manhã! Not Cold!
Ontem eu e a Nara fomos pela última vez no Masonville Mall, para comprar umas coisas que estavam faltando. Como sempre, compramos mais do que estava faltando. Vamos ter dificuldades de fechar as malas... Mas na volta, sentou um cara do meu lado. Era um daqueles bancos atravessados no ônibus, que cabem quatro pessoas. Estávamos eu, a Nara e mais uma moça na ponta do banco. A vaga do meu lado estava vazia, até que ele sentou. Não prestei atenção nele, até a hora que eu senti ele me cutucando. Na verdade, ele estava tentando tirar um tocador de CDs (lembram?) do bolso do casaco, e ele havia trancado. Os cutucos eram ele fazendo força para tirar o aparelho. Ele tirou e começou a manusear o aparelho, e notei as mãos dele. Ele tinha umas unhas compridas e sujas, e isso me chamou a atenção. Comecei a olhar em volta e vi que havia mais gente olhando para ele. O cara não fedia nem nada, mas usava um casaco de couro e uma outra jaqueta azul, suja, por cima. Uma hora ele tirou um saco plástico do bolso com outro CD, trocou o CD do Skid Row que ele estava ouvindo por um outro também de "rock pauleira", como diria minha vó. Dali a pouco, ele cruzou a perna, tirou um maço de notas da meia e começou a contar a féria. Daí caíram minhas fichas: ele era um mendigo, pedinte. Estava com uma nota de 10 e mais umas quantas de 5 (o dia tinha sido bom!). Depois, quando saiu a moça da ponta do banco, ele foi para lá e tirou as moedas do bolso. Várias moedas de toonies (2 dólares). Acho que ele estava tentando impressionar a loira do banco da frente, com sua fortuna... hehehe.
De qualquer forma, com essas coisas, vamos nos despedindo do Canadá e começando a encontrar coisas nossas velhas conhecidas do Brasil...
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