FHC na Western
Ontem foi o Brazil Day colloquium na University of Western Ontario. Recebemos o convite para assistir ao palestrante, um ilustre sociólogo brasileiro, o Dr. Fernando Henrique Cardoso.
Eu e a Nara fomos lá. Ele falou por uma hora, depois respondeu a uma hora de perguntas. Era um formato de mesa "redonda". Era uma mesa retangular, na verdade. FHC sentou na ponta, tinha convidados de outras universidades sentados à mesa com ele e nós sentamos em cadeiras dispostas atrás deles. Era um pequeno ambiente. Eu a Nara sentamos perto do FHC, eu estava a menos de 2 metros dele. Tanto que uma vez eu "pensei em voz alta" e ele me perguntou o que eu havia dito. Era totalmente acessório à fala dele, mas... Ele recapitulou a história política do Brasil pós-64 e quando ele falou no Collor, referiu-se a uma frase famosa em que FCM disse ter apenas uma oportunidade para debelar a inflação... lembrei da frase "uma bala só" e saiu boca a fora. Ele virou e perguntou que eu havia dito. "Only one bullet" - respondi.
É difícil, pelo menos para mim, ouvir a história das Diretas Já, Tancredo, Sarney, Collor, Topet... quer dizer... Itamar, FHC e Lula sem me emocionar um pouco. Vivemos tudo isso. Alguém já disse uma vez que ser brasileiro é ter esperança. Sempre temos esperança que melhore, umas vezes de forma mais viva que de outras.
Ouvir o FHC falar tão candidamente de como funciona o processo de formação do Congresso Nacional é duro e ao mesmo tempo esclarecedor. Ele muito calmamente explicou a forma e a razão pela qual os candidatos a deputado disputam de forma acirrada com seus próprios colegas de partido, de como ocorrem as disputas de poder e de influências e de como os partidos são tudo, menos um corpo que abriga linhas ideológicas. Quando chegam ao Congresso, ao invés de companheiros de partidos e representantes do povo, os congressistas são inimigos entre si, mesmo sendo de mesmo partido.
Finalmente, ele fez uma conexão que eu nunca havia pensado. Faz muito tempo leio textos de sociólogos que falam na sociedade pós-moderna e fragmentada, onde o conceito de grupo social faz cada vez menos sentido, pois não há uniformidade suficiente para haver tal grupo. Ele, felizmente, não falou em "pós-modernidade" - aliás, detesto essa expressão. Mas disse que com a fragmentação da sociedade, cada vez mais o conceito de "representante" faz menos sentido. Ou seja, se não há mais grupos sociais homogêneos, o deputado é representante de quem? Isso é uma idéia nova, ou uma conexão nova com uma idéia nem tanto, que por si já é algo. No Brasil, diz ele, nem o deputado sabe quem votou nele, nem o cidadão sabe mais, depois de dois dias, em quem ele votou. Ou seja, o deputado não se sente cobrado pelo povo nem o povo sabe mais de quem cobrar.
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Ouvindo o FHC senti-me um pouco mais tranqüilo. Por dois motivos. Um deles é totalmente pessoal. Ele fala inglês com sotaque. Apesar de falar inglês claramente, a fala dele é entremeada de "né", "ó", "assim"... que nem eu! Se alguém com a corrida dele fala assim, fiquei um pouco mais calmo e me achando menos burro por, em meia dúzia de meses no Canadá, ainda ter esses problemas quando falo. Aliás, tenho pensado muito seriamente na possibilidade de carregar no sotaque estrangeiro quando falar, porque acho que além de dar um certo charme, ainda pode fazer os interlocutores entenderem que tenho falhas de vocabulário por ser estrangeiro. Melhor do que parecer idiota ou iletrado.
O outro motivo é mais pessoal ainda. A Nara e eu estávamos bem nervosos antes de ir, não sabíamos bem que roupa vestir nem como nos comportarmos lá. Chegamos lá de táxi, estava chovendo, e entramos no prédio da University College (o prédio alto, com a bandeira do Canadá, que fica em frente à Ivey). Chegando lá, lembrei que precisava pegar umas coisas na Ivey. Fui até lá e deixei a Nara esperando. Quando voltei, para minha surpresa e felicidade, ela já estava enturmada com as pessoas que estavam esperando por lá. Conhecemos outros brasileiros no Canadá. Alguns doutorandos fazendo estágio como eu, outros professores trabalhando em universidades canadenses, o vice-cônsul do Brasil no Canadá, e assim por diante. A Nara, popular como sempre, já estava conversando com algumas pessoas e eu com outras, e me apercebi que, apesar de não termos nascido em berço de ouro, temos educação suficiente para "sobreviver" socialmente em situações um pouco mais extremas como essa.
Um comentário:
Hummmm, eu e a mãe estamos muito orgulhosas de ti, aliás de vocês dois, estão muito chiques ao lado do FHC, hehehe. Continuem assim, aproveitando todas as oportunidades que surgem, curtam ao máximo tudo por aí e aproveitem sei que estão morrendo de saudades mas está passando tão depressa, que quanto menos esperarem já estarão de volta e com uma bagagem muito grande de conhecimentos e esclarecimentos é fantásticos isso pra vocês e pra nós também que te admiramos muito nessa energia toda aí. Estou adorando o blog de vocês acho que devem continuar. Fiquem com Deus, um beijão enorme para os dois. Marcia e Lurdes.
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