sábado, 27 de outubro de 2007

Honours

Uma coisa que eu não conseguia entender era o tal de "honours", que é uma instituição típica nas universidades americanas e canadenses. Nós temos, no Brasil, "formar-se com distinção", que é quando o aluno atinge certos critérios de excelência (em geral, suas notas ao longo do curso). Quando estávamos fazendo as disciplinas do doutorado, tínhamos um hábito bacana (não estou usando o plural majestático, era um hábito de quase todos): quando íamos moderar a discussão de uma pesquisa, antes fazíamos uma breve explicação de quem era o autor da pesquisa, seu currículo, outras pesquisas importantes que ele havia feito, etc. E aparecia o tal do "honours" na graduação dele. Eu achava que era a distinção.

Quando cheguei no Canadá, comecei a me dar conta que honours não é distinção: é como se fosse um tipo diferente de curso. Mas ninguém me dava uma explicação satisfatória. Para aumentar ainda mais minha confusão, a graduação em administração na Ivey se chama HBA (honour in business administration) e dura dois anos. Estava feito o embrulho.

Ontem conheci um professor brasileiro que trabalha no departamento de economia da Western. Ele é formado pela PUC-RIO e fez mestrado lá mesmo, e depois foi fazer doutorado na Pennsylvania (quase perguntei para ele dos red maples, hehehe). Eu tinha uma dúvida bem pontual que fui perguntar para ele (explico depois em outro post), mas batemos um longo papo, e acabei descobrindo o que é o tal de honours.

Funciona assim: o aluno entra na universidade e pode obter um diploma universitário em até três anos. Sai formado e pode procurar trabalho, como economista, psicólogo, geógrafo ou qualquer outra coisa. Detalhe: parece que é comum, no Canadá, um salário inicial de 30 mil dólares por ano para alguém formado, a não ser que seja formado na Ivey. Tem alunos aqui que saem da graduação ganhando 75 mil/ano. Isso talvez explique a procura pela Ivey.

Bom, mas o aluno, dependendo de suas notas, pode optar por ingressar no honours. Ou seja, os melhores alunos tem a opção de fazer um curso de graduação "diferente", dentro da mesma universidade. O honours então dura 4 anos. E aí tem o lado perverso da coisa. Se o menino que faz graduação (sim, eles são bem novos), com seus 19-20 anos, optar por não fazer o honours ("quero me formar logo e ir trabalhar"), está com seu futuro profissional bastante comprometido. Para trabalhar no governo, por exemplo, muitas vezes eles exigem que o candidato tenha mestrado/doutorado. Só que os programas de pós-graduação, em geral, só aceitam quem fez o honours. Ou seja, quem não fez o honours aqui fica com um diploma "de segunda classe", emitido pela mesma universidade que forma os mais destacados profissionais.

Na Ivey, não existe o "não-honours". Todo mundo que faz a graduação faz o HBA, que é como se fosse uma marca registrada da Ivey. O honours em administração, por exemplo, da HEC Montreal, não se chama HBA. Para entrar no HBA, o aluno tem que ter 2 anos em outro curso universitário qualquer, até de outra universidade, e aí se forma em 2 anos de curso. Disse esse professor da economia que os melhores alunos dele (ele ministra microeconomia para o segundo ano do curso) vão tentar o ingresso na Ivey, que é super-competitivo. Ou seja, pode ter 2 anos de qualquer curso, mas provavelmente se não foi um bom aluno de economia na Western, as chances caem bastante... Isso também explica um pouco como a Ivey consegue fazer um curso exclusivamente com estudos de caso: as disciplinas teóricas foram todas feitas fora da Ivey. Eu ficava imaginando, antes de vir para cá, como o aluno podia aprender microeconomia ou matemática com estudos de caso, já que a Ivey é conhecida por ensinar exclusivamente com esse método. Descobri: eles não oferecem disciplinas básicas, o aluno tem que vir com esse conhecimento já previamente apropriado.

Um comentário:

Paulo disse...

Legal, Iuri! Eu também não sabia!
Abraços.
Paulo Ricardo