Simpósio em Toronto
A Nara já relatou a visão dela da ida a Toronto. De certa maneira, acho que tenho que também fazer um post com o meu lado da história, uma vez que nos separamos na quarta-feira (13 de junho) ao meio-dia e só fomos nos ver de novo no outro dia no final da tarde. Parece pouco, mas acho que a gente não está mais acostumado a ficar "tanto tempo" longe um do outro.
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A Viagem de Ida
Meu trem deveria sair de London 15h50. Atrasou uns 20 minutos. Ao longo da viagem, avisaram que nos atrasaríamos mais ainda, por problemas "de sinal". Não entendo bem o que é isso, não conheço bem os detalhes operacionais do transporte ferroviário, só sei que teve momentos em que estávamos "tropeando lesma" e outros em que o trem efetivamente parou nos trilhos. Chegamos com mais de uma hora de atraso em Toronto, às 19h e pouco.
Como o seminário começava às 9h da manhã na York University, que fica ao norte da cidade, não havia como ir no mesmo dia. O primeiro trem chega em Toronto 8h30 (se não atrasar), o que não me permite chegar no horário do início do seminário. Por causa disso havia ido no dia anterior, e "abusei da boa vontade" do Júnior e da Sheila, que me receberam super-bem, de novo. Dormi lá, e no outro dia saímos, eu e a Sheila, para pegar o metrô.
Da casa deles, tivemos que pegar, às 7h15, o streetcar, que é como um ônibus, só que anda em trilhos no meio da rua e é alimentado por fios elétricos que correm acima do nível da rua. Para quem conhece os trolebuses de Montevidéo, no Uruguai, tem uma idéia do que é. Bom, então pegamos o streetcar até a Union Station, que é uma estação central em Toronto, onde convergem vários "modais", como o trem, o metrô, o streetcar, etc. Pegamos o metrô. Eu estava indo na direção errada, mas só nos demos conta disso depois que a porta do metrô fechou... Saltei na próxima estação, enquanto a Sheila ia para o trabalho dela. Peguei o metrô, agora na direção certa, até o final da linha, e peguei um ônibus expresso até a York University. Resumo da ópera: uma hora e dez minutos de viagem, desde a casa deles até a universidade. Realmente, não seria possível, nem que o trem não atrasasse, ir direto de London para a York U. Interessante que paguei apenas um ticket (C$2.75) por todo o trajeto. Essa integração do transporte público, tanto em London, quanto em Toronto, é bem legal.
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O Seminário
A York University, todo ano, promove um evento chamado SPIDA - Summer Program in Data Analysis. O website do evento desse ano é http://www.isr.yorku.ca/spida2007/index.html
O assunto esse ano foi a modelagem multinível, ou HLM. Os primeiros contatos que tive com isso foram horríveis. Mas o assunto me pareceu muito interessante. O tratamento é sempre muito árido, com aquelas fórmulas malucas que a gente "normal" não entende... só economistas... Nesse SPIDA, entretanto, eles disponibilizaram alguns papers que esclareceram um pouco a questão.
Existem duas aplicações tradicionais para modelagem multinível. A primeira é a modelagem hierárquica, ou seja, quando unidades pertencem a níveis superiores. O exemplo típico de uso desse técnica vem da educação: quanto do desempenho de um aluno pode ser explicado por fatores individuais (nível 1) ou por fatores relacionados à escola (nível 2) em que ele estuda?
A segunda aplicação tradicional para modelagem multinível são os estudos longitudinais, ou curvas de crescimento. Aqui, a idéia é que o desempenho individual ao longo do tempo é explicado em parte por coisas que acontecem nesses pontos do tempo (nível 1) e parte por questões intrínsecas do indivíduo (nível 2). As aplicações são inúmeras. Um exemplo citado foi o de consumo de álcool na adolescência. Cada indivíduo da amostra apresenta trajetórias diferentes: alguns aumentam o consumo, para outros, o consumo se mantem estável e, pasme, em alguns casos teve redução...
As aplicações podem ser "facilmente" estendidas para mais de dois níveis, desde que se tenha o devido conhecimento da estatística envolvida (as malditas fórmulas) e um tamanho de amostra adequado. Lembrar que "tamanho de amostra", em estudos longitudinais, traz uma complicação adicional: o número de tomadas de dados ao longo do tempo.
Enfim, o assunto é bastante empolgante. E tem implicações bastante importantes para a criação de conhecimento em Administração. Acho, inclusive, que essa será uma área bastante explorada nos anos que se seguem, pois permite responder a perguntas que as outras técnicas até agora não permitiam. O que nos remete a essa interessante relação entre método e teoria: sem uma boa teoria, a técnica estatística não serve para nada. Entretanto, ao conhecer novas técnicas, o pesquisador aumenta o leque de problemas de pesquisa que ele pode responder, e portanto, formular.
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O Humano Ser Assistindo ao Simpósio
Lembrei do artigo da Nara, "O humano ser das organizações". Sim, havia um ser humano lá assistindo ao simpósio. E infelizmente, os sistemas "físicos" estavam se manifestando enquanto eu tentava me concentrar nas apresentações do simpósio. Não era pouca coisa. O prof. Kenneth Bollen, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, estava lá falando. Ele é considerado uma das maiores autoridades em análise de dados em estudos sociais. E meus intestinos reclamando...
Acho que comi alguma coisa que não me fez bem, e sentia um pouco de cólica. Tentar pensar na matriz de variância e covariância com a barriga incomodando, convenhamos... Acho que fiz bonito por duas razões. Primeiro, consegui baixar uns artigos recomendados para a atividade completa (foram 2 semanas de workshops, quer dizer, mão na massa), a qual eu não participei. Mas tendo lido antes as 200 páginas de texto recomendado, pelo menos tinha uma idéia do que se estava falando... Fiz aquilo que gostaríamos que nossos alunos fizessem: li o material antes. Acho que estou ficando mais CDF com os anos... Segundo, não fiz nada de inapropriado no auditório do evento, apesar de alguns momentos eu achar que não ia dar para agüentar...
Já havia comentado isso antes, mas ainda me espanto: como os norte-americanos (canadenses e estadunidenses) são pontuais. Dizia no programa: 3h30 - fim da exposição, abertura para perguntas, 4h encerramento. Não é que era 3h30 e o "Ken" encerrou e abriu para perguntas! Quatro horas e estávamos todos aplaudindo o palestrante.
Bom, e aí que eles chegavam de London para me pegar? Minha barriga doendo, louco para ir embora. A Nara disse "tomou todo o chá e café" no post dela... na verdade, não comi nada desde o intervalo, às 2h, pois tinha medo que "desandasse a coisa". Chá e café são meio agressivos, e tinha um pouco de medo de comer. Liguei para a Nara pelas 4h30. Ela brincou "estou em London ainda, nem saímos". Parece que o chão abriu em baixo de mim. A sensação foi indescritível. Quando ela me explicou que estava brincando, que estavam engarrafados na 401, ainda estava em choque.
Lá pelas 7 horas, a Nara, a Mary-Anne e o Zenon chegaram. Saímos para jantar (e eu com medo do piriri), mas a dor passou. No outro dia, estava normal. Acho que devia ser saudades da Nara (hehehe).
Um comentário:
Parabéns, Grande Iuri! Tu consegues ter um texto sobre coisa séria com muito humor e leveza.
Abraços
Paulo Ricardo
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