domingo, 8 de julho de 2007

Como a água não congela nos canos?

Antes de virmos para cá (ou será que foi logo depois?), alguém perguntou: "como a água não congela nos canos, no inverno?"
Que pergunta difícil! Nunca tinha pensando nisso antes!
Saí perguntando. Em uma janta dessas na casa da Mary-Anne e do Zenon, o Steve, um amigo deles, disse que eles ficavam com uma vela em baixo do cano para poder sair água. Imagina o tempo do banho...
O Zenon explicou melhor: existe uma linha de congelamento no solo. Nada congela abaixo dela. Dessa maneira, os canos de água devem ser enterrados abaixo da linha de congelamento, assim a água fica sempre líquida. Da mesma forma, a fundação das casas deve ser enterrada abaixo da linha de congelamento, pois de outra maneira, o gelo trinca as sapatas de concreto.
O mesmo, óbvio, não acontece com os carros: eles são, em geral, guardados desenterrados, portanto acima da linha de congelamento. Em Manitoba, onde eles moraram antes daqui, faz até -40 graus no inverno, e eles rodam um bom tempo com o pneu "quadrado". Imagina que o pneu congela a ponto de que a parte de baixo, que fica amassada no contato com o solo, anda algumas quadras fazendo "tunc-tunc" até que esquenta e amolece...

E as casas? Isso era uma coisa que sempre me deixava em dúvida. Muito tempo atrás, a irmã de um amigo (o Tibério) fez intercâmbio no Canadá. Então, na casa deles sempre tinha intercambistas de outros países. E eles passavam muito frio no nosso inverno. Disseram-me que era porque todas as casas no Norte tinham aquecimento. O que me deixava em dúvida era: e a conta de energia? Isso devia gastar uma fortuna. Bem, o aquecimento é parte da resposta. Realmente, as casas aqui têm aquecimento central. Alguns aquecedores são elétricos, outros a gás, outros a óleo, e outras casas têm um dragão no porão que fica soprando ar quente nos canos.
Mas o aquecedor é apenas parte da resposta. Na verdade, a partir da crise do petróleo, na década de 1970, os códigos de construção no Hemisfério Norte, ou pelo menos na América do Norte, enfatizaram muito o isolamento térmico das casas. Ou seja, não passamos frio no Sul do Brasil apenas porque não temos aquecedor central nas casas. Passamos frio também porque nossas casas são umas peneiras. Lembram do episódio dos automóveis nos anos 1990, em que o então presidente Collor comparou nossos carros com carroças, perto do nível tecnológico na América do Norte? Pois é, "elle" esqueceu de falar nas casas...
As casas daqui todas tem uma parede externa, geralmente de concreto. Depois, uma estrutura "oca", o framing, feita de sarrafos de madeira de 2x4 polegadas, por onde passa a instalação elétrica e hidráulica. Nesse "oco", vai um recheio de lã de vidro, especial para construção civil. Depois, uma barreira para umidade, de plástico, sobre o qual é colocado o dry-wall. Em cima disso tudo, é feito o acabamento. Isolamento semelhante ocorre no forro e no piso. Uma coisa que parece bastante barata e dá uma diferença são as portas duplas: tem uma porta interna "normal", com tranca e tudo, e uma externa, com mola, que serve só para barrar... bem, o vento frio no inverno, e os mosquitos no verão.

Ou seja, enquanto eles aqui mantém a temperatura estável, inclusive com ajuda de aquecedores e aparelhos de ar condicionado centrais, nós deixamos o calor passar pelos 6 lados da casa: para dentro, no verão, e para fora, no inverno. Haja energia para aquecer/refrigerar isso tudo: nossa conta de energia elétrica lá em casa que o diga!

5 comentários:

Jane disse...

Otima explicacao, Nara! A minha casa aqui em Texas tem dois pisos, os quartos no andar de cima. Mesmo com a insulacao e paredes duplas, no verao a conta eletrica fica por volta de US$300 por mes, porque o a/c e os ventiladores de teto ficam ligados a maior parte do tempo para manter uma temp de 78-80F (acho que seriam +/- 25C), apenas suportavel com o calor de Texas de 90-98F. O aquecimento central e a lareira sao a gas, o que quase nao uso; a conta nunca passa de US$40. No inverno passo mais tempo no andar de cima. Gosto das temperaturas mais baixas e hiberno com prazer.

Em situacao reversa, sempre estou pensando como nunca foram implementados estes materiais de construcao na nossa terra? Ou sera que ja os utilizam nas casas mais modernas e eu que nao estou a par?

Quem sabe tu desiste das vaquinhas leiteiras e como estarei voltando definitivamente pro sul em alguns anos, fazemos uma sociedade e aplicamos o que vimos por estas bandas? Nao, melhor continuar com as vacas tambem, porque precisamos do "manure" para fertilizante organico, a ser utilizado no jardim que o Iuri vai fazer para ti, com as minhas dicas!

Viste, Iuri, ninguem te avisou que as Taquarenses se uniram e ja agendaram uns projetos para a tua volta!

iuri disse...

Obrigado, Jane, mas quem colocou o post fui eu...
Na verdade, várias vezes aqui fiquei me perguntando se não haveria mercado no Brasil para casas mais eficientes e confortáveis termicamente.
Se tens dinheiro para investir, podemos tentar convencer a Nara a largar as vaquinhas e entrar no "real state business"...
Abraços,
Iuri.

Jane disse...

Hello, Iuri:
Desculpe, estava a mil lendo e escrevendo que nem me dei conta que o post era teu.

Dinheiro para investir: yes, no problem. Tenho duas arvores de US$20 aqui no meu patio, a de $100 ainda nao comecou a produzir... risos... Em serio, vamos conversar sobre oportunidades e ideias. E como nunca estive ai nesta parte do Canada, seria uma boa desculpa, nao? And we can write it off as business expenses!
Best Regards,

gustavo uriartt disse...

Oi Iuri! Oi Jane!
Sim a gente tem tecnologia para conforto térmico, o problema é convencer as pessoas de como isso é importante. Tanto para frio, como para o calor. E aqui em Taquara acontecem as duas situações. Nas Faculdades de Arquitetura e Engenharia, essas noções são passadas, aqueles "bons" alunos que prestam atenção, até que tentam repassar esses conceitos para seus trabalhos, mas aí esbarram em clientes que estão de olho no custo da obra, ou então com "empreiteiros" que acham tudo isso uma grande besteira e convencem o dono a não seguir as regras (conheço casos recentes). É uma pena, pois até usando os princípios básicos de termodinâmica a gente faz verdadeiros "milagres".
Eu que o diga controlando as portas e janelas no verão e no inverno. Agora por aqui começou a esfriar mais uma vez, e até neve já caiu em Buenos Aires dêem uma olhada ( http://www.metsul.com/blog/ ), e vêm vindo... estou com três talhas de lenha na garagem..."que venga el Toro..."

PRGMELLO disse...

Nada como pesquisar a tecnologia por trás das coisas... Quem vive em lugares com o inverno é muito longo e rigoroso tem que se preocupar com outros detalhes que nem sonham a nossa vã filosofia de país tropical.