segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Moqueca de Peixe 2

Bom, gostaria de complementar o post da Nara com alguns detalhes técnicos da nossa janta (hehehe).

Fazia quase 20 anos que eu não fazia moqueca, acho... Da primeira e última vez, estávamos na casa dos pais do Tibério em Garopaba e "seu" Abade foi me dando as dicas, em uma de suas maravilhosas sessões de "relação capital-trabalho": ele entrava com o capital (comprava a comida) e nós (eu e o Tibério) com o trabalho. Era divertido.

Aqui, sem o "seu" Abade ajudando e com os ingredientes improvisados, o resultado foi, na minha opinião, insatisfatório. Todos gostaram, ou pelo menos elogiaram, como fariam pessoas bem-educadas que vão comer na casa de amigos. Mas eu tenho senso crítico e sei que podia ter saído melhor.

Tudo começou em um dia que Nara e eu estávamos passeando no Covent Garden Market, o mercado público de London, e vi uma lata de leite de côco para vender em uma banca de comida tailandesa. Pensei: "moqueca!" Daí a oferecer o prato experimental para meia dúzia de pessoas, para quem conhece minha insanidade como anfitrião, foi um pequeno passo.

Fui para a internet conseguir as receitas. Usei uma abordagem diferente dessa vez. Sou cliente de carteirinha do site Cybercook (http://www.cybercook.com.br/). Geralmente, batuco lá o nome do ingrediente ou da receita, vêm umas cinco ou seis diferentes, não gosto de nenhuma na íntegra, combino umas 2 ou 3 e sai alguma coisa a contento. Dessa vez fui pesquisar no Google. Não gostei muito do formato das respostas. Além disso, abri uma receita e fiquei com ela mesmo, não fazendo grandes mexidas.

Eu queria fazer uma moqueca e um pirão, para os quais não tinha nenhuma receita. Peguei a receita de moqueca no site do Olivier Anquier (ver aqui). Da receita dele, só não comprei o alho, que nunca uso, pois me provoca indigestão, e o azeite de dendê, por razões óbvias. Substitui o azeite de dendê por azeite de oliva... ficou uma receita ítalo-afro-brasileira. Comprei o "peixe branco do norte do Canadá", seja lá o que seja isso, por duas razões: ele era vendido inteiro, com cabeça e tinha um "corpinho gordinho", que me permitiria tirar postas de tamanho bom. Comprei também o camarão "tigre", cru e limpo.

Para o pirão, usei a receita de um site chamado Chef Online (ver aqui), que achei no Google. A receita não é das piores. Como na outra receita, apenas não comprei o alho. Tínhamos ainda farinha de mandioca que compramos no Açougue Nosso Talho, em Toronto (precisamos comprar mais...)

Bom, na hora de cozinhar tive que improvisar umas coisas. Tentei montar a moqueca no frigideirão, pois estava usando nossas 2 outras panelas, uma para o arroz e outra para o pirão. Isso deu uma camada inferior de tomate/cebola, uma camada de peixe e uma camada superior de tomate/cebola. Sem espaço para mais nada... Ou seja, não consegui usar o camarão. Pensando melhor, 1 kg de camarão para 1kg de peixe é um exagero. Forte como é o gosto de camarão, uns 300g para 1,5-2kg de peixe vai estar de bom tamanho. Para não perder a viagem, coloquei 340g de camarão no pirão, que ficou sem sal e com gosto de desinfetante, por causa do coentro em ramo. Na receita dizia um maço de 120g, mas eu não tinha balança e botei um ramo "padrão canadense", assim como veio do supermercado (lavei antes, é lógico). Outro exagero é a quantidade de farinha: 2 xícaras para 2,5 litros de água que ficaram fervendo 45 minutos! O pirão deu ponto com menos de uma xícara, acho (fui fazendo "a olho").

Lições aprendidas: voltar a usar o Cybercook e voltar a misturar as receitas até criar uma que preste. Erros que ainda vou continuar cometendo: substituir ingredientes e convidar pessoas para comer pratos experimentais. Como sempre digo, se ficar MUITO ruim, chamo uma pizza. Se ficar medianamente ruim, dali a 3 horas as pessoas já terão digerido. O menos importante, quando se vai comer na casa dos amigos, é a comida... o importante são os amigos!

Como disse o Keith (ver vídeo do post da Nara), foi o melhor prato brasileiro que ele já comeu na vida (e o único). Como nossos convidados nunca haviam comido moqueca antes, não têm parâmetro de comparação, mesmo. De qualquer maneira, na próxima vez, farei uma moqueca e pirão melhores. Se for depois de janeiro do ano que vem, com direito a azeite de dendê.

4 comentários:

gustavo uriartt disse...

Iuri!!! Moqueca tem que ter uma panela alta e de paredes e fundos grossos...te lembra aquela de barro que a gente tem e fez uma em Garopaba? Pois então...descola uma nas lojas de London e deixa eles salivando. O gosto de desinfetante do Coentro é normal, use ele com mais calma, ele predomina mesmo. E em relação ao sal...apesar de eu não gostar muito de usar, em peixes e frutos do Mar dá para "pesar" um pouco a mão (mas não muito), e fogo brando e atenção as camadas. O fundo o ideal é forrar com Cebolas e tomates, e ir colocando o resto em camadas uniformes. Uma pena que você não gosta de Alho...experimente o Porró, por ai eles chamam de Garlic. Sempre dá um gostinho (corte em rodelas finas), se gostar faça uma Farofinha com ele..., vcs. já comeram aqui e gostaram.

iuri disse...

Gustavo,
Bem que eu queria ter uma panela dessas... mas as condições não são as ideais.
Além disso, como foi um "rompante" de fazer e convidar, eu tive sorte de conseguir o tal peixe branco inteiro... Fui na peixaria do mercado e eles nem sabem o que é isso: tive que comprar congelado mesmo, no supermercado A&P.
Para vc ter uma idéia, o cutelo e a faca grossa eu comprei nesse mesmo dia, em uma dollar store: custaram 1 dólar cada!
A coisa é mais no improviso do que estamos acostumados aí em Taquara.

iuri disse...

Gus: vc sabe se a gente deve preferir peixe de escama ou de couro na moqueca?

gustavo uriartt disse...

Olha Iuri... de couro dizem que é melhor (tem mais "gordura") mas são gostos... e como aquele que comia sabão. Não se discute. Mas descola em uma "garage sale" uma panela mais grossa, ou pede emprestado. Pode apostar que o resultado vai ser melhor do que já foi.